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NOTÍCIA
Seria essa a ferramenta tecnológica mais empobrecedora de todos os tempos?
Publicado em 05/12/2024
Por Éric Diego Barioni*
Percebe o silêncio ensurdecedor? Talvez isso não esteja acontecendo da mesma forma em todos os lugares, mas veja e ouça: as aves não estão mais aqui. Percebe que já não cantam mais? Em setembro de 1962 nos Estados Unidos da América (EUA), Rachel Carson (1907 – 1964), progressivamente, apresentou ao mundo o impacto ambiental causado pelo uso indiscriminado de agrotóxicos da classe dos organoclorados por meio da publicação de um livro intitulado Silent Spring (primavera silenciosa). De lá para cá, norteados pelo conteúdo e relevância desse livro e tantas outras publicações, muita coisa mudou na área ambiental, ainda que, na prática, o futuro parece sempre repetir o passado, e tenhamos avançado mais na destruição que na proteção do meio ambiente.
Respeitadas as devidas proporções e, para além das questões ambientais, os organoclorados não foram as primeiras e muitos menos as últimas substâncias tóxicas a impactar a humanidade. Aliás, a compreensão daquilo que é ou não tóxico evoluiu muito ao longo dos tempos. A internet, a Wikipédia, o Google, os sites de pornografia, as redes sociais, os jogos, entre outros, à medida que evidenciam a capacidade humana de desenvolvimento tecnológico, inovação e produção de conteúdo, inclusive modificando as relações humanas, formas de ensinar e aprender, por exemplo, escancaram as nossas fragilidades, forjando situações e cenários novos muito rapidamente e deixando mais e mais pessoas e instituições doentes. Intoxicadas. Dependentes de likes, jogos, pornografia, dopamina, e de uma vida virtual na maioria das vezes distante da realidade.
A velocidade dessas mudanças que em nada acompanha o desenvolvimento das sociedades pelo mundo, principalmente em se tratando das mais impactadas pela pobreza e pela educação insuficiente, se revelou mais uma vez tecnologicamente cruel com a ascensão das ferramentas de Inteligência Artificial (IA) generativas geradoras de texto, como o ChatGPT, além de outras capazes de produzir apresentações, compor e produzir músicas, e muito mais. Não bastasse o Google como um motor de busca de informações diversas bastante questionável, a ferramenta agora, no caso o ChatGPT, responde o que você perguntar, não importando a qualidade da fonte, o viés do conteúdo, o autor, os dados e a veracidade daquilo que lhe é apresentado, misturando muitas vezes elementos corretos com incorretos e inventando informações com a propriedade de um texto técnico ou científico.
À luz do que temos atualmente, seria essa a ferramenta tecnológica mais empobrecedora de todos os tempos? Não só pela promessa de extinguir muitos tipos de emprego – se de fato isso ocorrer – mas por silenciar a capacidade criativa das pessoas às custas da falácia de otimizar o tempo dessas mesmas pessoas com outras tarefas. Quais tarefas? Por que produzir uma apresentação de slides se a ferramenta de IA produz? Por que produzir um texto complexo se a ferramenta de IA produz? Por que compor, cantar, tocar e/ou produzir uma música se a ferramenta de IA produz? O que restará de ou para nós? Sim, para nós, não para eles. A minoria. A minoria dos que detém as informações e o modus operandi do processo. O abismo desses poucos poderosos com aqueles afetados, empobrecidos pela ferramenta, será cada vez mais enorme.
Em sala de aula, estudantes e mais estudantes tem delegado ao ChatGPT a tarefa de pensar de modo mais abstrato e compor textos que visem explicar conteúdos complexos. Aliás, antes fosse somente os mais complexos. As relações de troca e aprendizado por pares tem sido substituído por essas ferramentas de inteligência artificial generativas geradoras de texto, que, entre confabulações e alucinações, distanciam mais uma vez esses estudantes da curiosidade crítica e metodológica. Identificar o lugar da IA nas faculdades, centros universitários e universidades, regulando seu uso e capacitando a comunidade acadêmica para as suas limitações, implicações e potencialidades é urgente. Pode até parecer, mas não sou contra o uso da IA. Tenho medo. Medo de silenciar um dos meus ativos mais preciosos, a criatividade.
*Éric Diego Barioni é coordenador de curso de graduação em biomedicina na Universidade de Sorocaba (Uniso), biomédico, mestre e doutor em ciências na área de toxicologia, educador, pesquisador