Revista Ensino Superior | Agilidade é critério de sobrevivência para IES

Educação

Colunista

Daniel Sperb

Consultor em inovação e gestão universitária

Agilidade é critério de sobrevivência para IES

A instituição que não integrar inteligência artificial à gestão corre o risco de ficar para trás

IA Agilidade é fundamental para uma gestão efetiva (foto: Shutterstock)

O board diretivo é o maior risco para a IES nos próximos dois anos. Não por má intenção, mas pela insistência em usar mapas antigos para navegar em territórios novos. O inimigo não está na concorrência, nas curvas de evasão ou no novo marco regulatório do EAD. Está na manutenção obstinada do status quo. Se há um traço que separa quem vai liderar de quem vai sumir, esse traço se chama agilidade.

Enquanto muitos dirigentes ainda debatem se a IA é “hype”, riscos tecnológicos ou jurídicos, o cenário real é claro: as IES que não integrarem a inteligência artificial ao coração da gestão e da experiência acadêmica correm sério risco de desaparecer do mapa da educação.

E os responsáveis terão nome, sobrenome e os salários mais altos da instituição. Não é provocação. É projeção.

Os mesmos gestores que “conhecem cada canto da instituição” serão os principais responsáveis por afundá-la. 

A obsolescência não avisa. Ela se instala no silêncio, na morosidade, com ares de “prudência”. Disfarça-se de “consenso colegiado”. Mas seu efeito é implacável: a perda progressiva de relevância e de alunos.

Enquanto o Brasil ainda debate, a China já tornou o ensino de IA obrigatório nas escolas de Pequim, mirando a liderança global do setor. Nos EUA, um decreto federal já estimula o ensino de IA desde a educação básica para preparar os jovens para um mercado dominado por tecnologias autônomas. E, agora, os Emirados Árabes Unidos deram um passo além, tornando a disciplina de IA obrigatória a partir do jardim de infância.

E por aqui? Ainda ouvimos o velho mantra: “vamos observar o movimento do setor”. Em tradução livre: vamos deixar as IES mais ágeis testarem, aprenderem e evoluírem… enquanto a nossa perde relevância e matrículas.

Não estamos falando de teoria, mas de prática, escala e impacto.

A inteligência artificial já permite personalizar a jornada de cada aluno com agentes que monitoram desempenho, sugerem trilhas de aprendizagem, antecipam evasões e integram-se a plataformas LMS.

Feedbacks, tutoria e correções? Automatizados. A régua de relacionamento com alunos, pais e professores? Desenhada e operada por IA. Competências mapeadas, conteúdos curados, trilhas adaptativas ajustadas em tempo real.

Tudo isso somado a ferramentas preditivas para planejamento de capacidade, inadimplência e orçamento, e a uma nova geração de Martech com agentes que captam, nutrem e convertem leads diretamente pelo WhatsApp e CRM, sem depender de reunião de reitoria para “ver se vale testar no semestre que vem”.

Como diz a frase atribuída a Sócrates: “Embora minha mãe fosse uma excelente parteira, jamais poderia ajudar a dar à luz uma mulher que não estivesse grávida.” Se você ainda não entendeu que o cenário acima não é mais futuro, ainda dá tempo de acordar. 

Tenho participado de diversas reuniões com empresas e o cenário é preocupante: áreas como tecnologia, marketing e jurídica reagem à IA com postura territorialista, síndrome do pequeno poder e uma incrível habilidade de travar o futuro em nome da “segurança”.

Não se trata mais de acertar ou errar. Como disse Stephen Elop, ex-CEO da Nokia: “Nós não fizemos nada de errado, mas, de alguma forma, perdemos.” Essa é a armadilha mais perigosa da gestão universitária: acreditar que ainda é possível vencer jogando com regras antigas.

Uma IES não fracassa só por errar. Fracassa também por fazer muito bem as mesmas coisas durante tempo demais.

O mais curioso? Os alertas estão por toda parte. Só não vê quem ainda acredita que “tecnologia é assunto da TI”.

O futuro não vai pedir licença. Ele vai acontecer com ou sem a sua IES. E, ao contrário do que muitos pensam, não será a concorrência que engolirá sua instituição, será sua própria incapacidade de [re] aprender.

Agilidade não é mais vantagem competitiva. É critério mínimo de sobrevivência.

Ao ler as análises do professor Anderson Amaral sobre os riscos da inércia frente à adoção da inteligência artificial no segmento corporativo, não pude deixar de escrever sobre essa temática aplicada à gestão universitária. 

Na próxima reunião de conselho, reitoria ou diretoria, vá menos para deliberar e mais para questionar. Leve menos pautas e mais provocações. Porque a próxima grande decisão não será sobre um novo curso, um novo pólo ou uma nova campanha. Será sobre o futuro da própria instituição, e esse futuro já começou a separar, de forma brutal, quem está fazendo de quem ainda está discutindo.

A diferença entre IES que começaram a se mover, mesmo de forma incipiente, e aquelas que seguem analisando cenários em reuniões intermináveis vai se tornar abissal nos próximos 24 meses. 

O que hoje já é visível quando comparamos grandes grupos educacionais com estruturas mais ágeis e digitalizadas será, em breve, um fosso intransponível para quem negligenciou o tempo da decisão.

A inteligência artificial vai cobrar, com juros altos, a conta da falta de profissionalização histórica do setor. Vai escancarar, de forma irrefutável, a distância entre instituições que entenderam o novo jogo e aquelas que continuam presas à lógica da conformidade.

Dirigentes, acreditem: vocês não vão querer ser lembrados como os líderes que, diante da chegada da inteligência artificial, agiram como os que negaram o computador pessoal nos anos 80 ou a internet nos anos 90. A história não costuma ser gentil em momentos de disrupção tecnológica.

Por: Daniel Sperb | 12/05/2025


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