O paradoxo do conhecimento e o papel da educação em um mundo que precisa de estudantes curiosos
Você ainda se faz perguntas?
Ou já se acostumou a viver clicando nas respostas prontas?
Vivemos a era do clique automático, da resposta instantânea, da ilusão de sabedoria. A informação se multiplicou tanto que perdeu valor. O dado virou commodity. A pergunta virou arte.
Este ano a humanidade deverá gerar cerca de 181 zettabytes de dados — mais que o triplo de 2020 (IDC, 2023). A informação virou excesso. E é exatamente aqui que a educação do futuro precisa atuar — não para programar, mas para provocar.
Porque se as máquinas respondem, cabe aos humanos perguntar o que ainda nem foi imaginado.
A revolução digital que automatiza o mundo também padroniza as mentes. O algoritmo nos normaliza: quanto mais usamos IA, mais parecidos nos tornamos. Onde estão as perguntas que não cabem em prompts? Onde estão os incômodos que abrem futuros?
“A IA te dá o que você quer. Mas quem te dá o que você precisa?”
A educação do amanhã começa com essa provocação. Ensinar, hoje, é despertar consciência — não repetir padrões.
Saber, isoladamente, já não é diferencial. O acesso à informação é amplo, irrestrito — e isso muda tudo. O que antes era prestígio (ter conhecimento), agora é ubiquidade. A nova moeda do nosso século é outra: imaginação ativa.
A capacidade de construir perguntas improváveis, de conectar ideias aparentemente desconexas — como água e morte — é o que transforma. Lembre-se que a Liquid Death está virando “unicórnio” simplesmente por ser diferente.
Esse é o poder de uma boa pergunta: ela move mercados, mentes e mundos.
Nossos dados se tornaram matéria-prima.
Somos combustível de algoritmos famintos por previsibilidade.
Mas e a nossa imprevisibilidade?
Onde entra o que não pode ser rastreado — a dúvida, a epifania, o insight?
“Se você usa o humano e não cria valor, algo está errado.” Humano é premium.
E o futuro exige que o sistema educacional ensine a criar valor humano, não apenas a operar máquinas.
Ela responde — rápido, eficiente, impecável. Mas ela não se provoca. Ela não sonha. Não imagina cenários futuros ou narrativas. A pergunta que pode mobilizar os educadores e gestores não é “qual é a resposta certa?”, mas: “qual pergunta ainda não foi feita?”
A imaginação é a nova alfabetização do século 21.
Estamos assistindo a uma geração começar seus projetos a partir do GPT. A ignição já é automatizada e isso é um risco porque a centelha criativa está sendo terceirizada.
Sem pergunta, não há invenção.
“A fotografia não matou a pintura e a IA não precisa matar a educação.”
Ela pode — e deve — acender ideias, expandir metáforas, validar hipóteses,
mas jamais substituir a inquietação criativa que habita o humano.
É hora de tirar os olhos da tela e visitar o futuro com os pés no agora.
Criar laboratórios de imaginação, onde professores são jardineiros da dúvida e alunos, polinizadores de ideias.
A proposta é clara — e inadiável:
Perguntas que precisam ser feitas agora:
Vale mencionar que cada 10 a 50 prompts enviados a um modelo de IA generativa consomem cerca de 500 ml de água, considerando o resfriamento dos data centers de acordo com a Universidade do Colorado.
A educação precisa de encantamento.
E encantamento nasce de perguntas profundas — não de respostas eficientes.
“Máquinas para respostas, pessoas para perguntas.”
Porque perguntar é, antes de tudo, um ato de coragem.
Em tempos de aceleração digital, a educação do futuro precisa ensinar o ato radical de pausar e questionar.
Quer inovar de verdade?
Ensine alguém a duvidar.
Por: Thuinie Daros | 05/06/2025