Revista Ensino Superior | Máquinas para respostas, pessoas para perguntas

Educação

Colunista

Thuinie Daros

Diretora de qualidade e inovação acadêmica na Vitru Educação

Máquinas para respostas, pessoas para perguntas

O paradoxo do conhecimento e o papel da educação em um mundo que precisa de estudantes curiosos

A importância das perguntas produndas Na opinião de Thuinie Daros, a imaginação é a nova alfabetização do século 21 (foto: Shutterstock)

Você ainda se faz perguntas?

Ou já se acostumou a viver clicando nas respostas prontas?

Vivemos a era do clique automático, da resposta instantânea, da ilusão de sabedoria. A informação se multiplicou tanto que perdeu valor. O dado virou commodity. A pergunta virou arte.

Este ano a humanidade deverá gerar cerca de 181 zettabytes de dados — mais que o triplo de 2020 (IDC, 2023). A informação virou excesso. E é exatamente aqui que a educação do futuro precisa atuar — não para programar, mas para provocar.

Porque se as máquinas respondem, cabe aos humanos perguntar o que ainda nem foi imaginado.

 

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CTRL + ALT + DEL no pensamento

A revolução digital que automatiza o mundo também padroniza as mentes. O algoritmo nos normaliza: quanto mais usamos IA, mais parecidos nos tornamos. Onde estão as perguntas que não cabem em prompts? Onde estão os incômodos que abrem futuros?

“A IA te dá o que você quer. Mas quem te dá o que você precisa?”

A educação do amanhã começa com essa provocação. Ensinar, hoje, é despertar consciência — não repetir padrões.

 

Da sociedade do conhecimento para a sociedade da pergunta

Saber, isoladamente, já não é diferencial. O acesso à informação é amplo, irrestrito — e isso muda tudo. O que antes era prestígio (ter conhecimento), agora é ubiquidade. A nova moeda do nosso século é outra: imaginação ativa.

A capacidade de construir perguntas improváveis, de conectar ideias aparentemente desconexas — como água e morte — é o que transforma. Lembre-se que a Liquid Death está virando “unicórnio” simplesmente por ser diferente.

Esse é o poder de uma boa pergunta: ela move mercados, mentes e mundos.

 

Dado virou negócio. E o humano? Valor.

Nossos dados se tornaram matéria-prima.

Somos combustível de algoritmos famintos por previsibilidade.

Mas e a nossa imprevisibilidade?

Onde entra o que não pode ser rastreado — a dúvida, a epifania, o insight?

“Se você usa o humano e não cria valor, algo está errado.” Humano é premium.

E o futuro exige que o sistema educacional ensine a criar valor humano, não apenas a operar máquinas.

 

A máquina não se autoprovoca

Ela responde — rápido, eficiente, impecável. Mas ela não se provoca. Ela não sonha. Não imagina cenários futuros ou narrativas. A pergunta que pode mobilizar os educadores e gestores não é “qual é a resposta certa?”, mas: “qual pergunta ainda não foi feita?”

A imaginação é a nova alfabetização do século 21.

 

A IA deve expandir a cognição, não encurtar a curiosidade

Estamos assistindo a uma geração começar seus projetos a partir do GPT. A ignição já é automatizada e isso é um risco porque a centelha criativa está sendo terceirizada.

Sem pergunta, não há invenção.

“A fotografia não matou a pintura e a IA não precisa matar a educação.”

Ela pode — e deve — acender ideias, expandir metáforas, validar hipóteses,

mas jamais substituir a inquietação criativa que habita o humano.

 

Educação como laboratório de perguntas

É hora de tirar os olhos da tela e visitar o futuro com os pés no agora.

Criar laboratórios de imaginação, onde professores são jardineiros da dúvida e alunos, polinizadores de ideias.

A proposta é clara — e inadiável:

  • Abandonar aulas expositivas;
  • Estimular perguntas relevantes, interdisciplinares e fora do senso comum;
  • Validar perguntas mais do que respostas;
  • Premiar a imaginação, não a reprodução.

Perguntas que precisam ser feitas agora:

  • Quantos litros de água uma IA consome por resposta? Estamos pagando o preço ambiental do clique automático?

Vale mencionar que cada 10 a 50 prompts enviados a um modelo de IA generativa consomem cerca de 500 ml de água, considerando o resfriamento dos data centers de acordo com a Universidade do Colorado. 

  • Estamos educando para respostas rápidas — ou para pensamentos lentos e profundos?
  • Estamos formando solucionadores? Gente resolutiva? Ou criadores de perguntas impossíveis?
  • Estamos treinando seres humanos a se encantarem — ou apenas a entregarem resultados sem propósito?

 

Mais perguntas, menos pressa

A educação precisa de encantamento.

E encantamento nasce de perguntas profundas — não de respostas eficientes.

“Máquinas para respostas, pessoas para perguntas.”

Porque perguntar é, antes de tudo, um ato de coragem.

Em tempos de aceleração digital, a educação do futuro precisa ensinar o ato radical de pausar e questionar.

Quer inovar de verdade?

Ensine alguém a duvidar.

 

Por: Thuinie Daros | 05/06/2025


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