Revista Ensino Superior | NEETS | Jovens podem ajudar na expansão do mercado

Educação

Colunista

Alexandre Gracioso

Especialista e consultor em ensino superior e gestão educacional

Jovens podem ajudar na expansão do mercado

Ocupar o mercado representado pelos NEETs oferece uma possibilidade estratégica potencialmente interessante

Mercado (foto: Shutterstock)

Para seguir em frente, o Brasil precisa enfrentar o desafio colocado por cerca de 10 milhões de jovens entre 15 a 29 anos que nem trabalham nem estudam (os NEETs, ou Not currently engaged in Employment, Education or Training). E o ensino superior particular pode contribuir com essa questão e expandir seu mercado ao mesmo tempo.

 

Um grupo esquecido

O Brasil ainda luta com a universalização da educação e essa questão, na sociedade e mercado global de trabalho contemporâneos, é um forte limitador ao crescimento econômico de um país e, principalmente, à conquista de diferenciais competitivos sustentáveis, que ofereçam um caminho para aumentos reais de renda per capita.

Vivemos na sociedade da aprendizagem e da sociedade 5.0, em que a formação para o trabalho e para a cidadania, necessariamente passam por ciclos educacionais cada vez mais, não menos, sofisticados.

Foi com tristeza, portanto, que analisei os mais novos resultados da PNAD Contínua do IBGE, conduzida em 2024 e divulgada, aos poucos, este ano. De acordo com os resultados reportados pelo instituto, 18.5%, quase um a cada cinco, dos jovens entre 15 e 29 anos nem trabalham nem estudam. Com uma população total de 48 milhões de pessoas nessa faixa (aproximadamente 24% da população total de 203 milhões de habitantes, conforme o censo populacional mais recente), temos quase dez milhões de jovens sem qualquer ocupação.

 

Leia: Mudanças demográficas e o apagão dos estudantes

 

Para se colocar esse contingente em perspectiva, estamos falando de uma grupo populacional equivalente à população de países como Portugal, Grécia e Suécia, cada um deles com aproximadamente 10.5 milhões de habitantes e maior do que alguns países vizinhos, como Paraguai (+/- 7 milhões de habitantes) e Uruguai (+/- 3.5 milhões de habitantes).

Outro ponto importante a reconhecer é que, mesmo nessa situação ruim, as desigualdades históricas se manifestam. Mulheres e negros (pretos + pardos) são sistematicamente mais atingidos do que a população masculina e branca, respectivamente.

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Fonte: Agência IBGE. Indicadores educacionais avançam em 2024, mas atraso escolar aumenta, disponível em https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/43699-indicadores-educacionais-avancam-em-2024-mas-atraso-escolar-aumenta

Oportunidade de mercado?

O ensino superior brasileiro atende, coincidentemente, também cerca de dez milhões de pessoas, majoritariamente por meio do sistema particular de ensino. A expansão futura dessa base é duvidosa e pode mesmo ser que, na ausência de novos mercados, o sistema tenha atingido seu tamanho máximo.

Não é de se estranhar, portanto, que grandes grupos continuem no processo de consolidação; é a única forma de expandir a base. Mas, será que é mesmo? Talvez exista uma alternativa se considerarmos esse grupo populacional enorme que está fora de qualquer sistema formal da sociedade, profissional, ou educacional. A meu ver, ocupar o mercado representado pelos NEETs oferece uma possibilidade estratégica potencialmente muito interessante.

 

Por que não estão estudando?

Qualquer solução que venha a ser dada precisa endereçar as razões pelas quais os jovens não estão estudando e isso implica considerar as necessidades específicas de cada gênero.

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Fonte: Agência IBGE. Indicadores educacionais avançam em 2024, mas atraso escolar aumenta, disponível em https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/43699-indicadores-educacionais-avancam-em-2024-mas-atraso-escolar-aumenta

 

Homens declaram com mais frequência a necessidade de trabalhar e o desinteresse pelo estudo. Chegam mesmo a atribuir o fato de não estarem estudando a problemas crônicos de saúde. Não foi informado se as mulheres também chegam a tanto.

Por outro lado, as mulheres têm o desafio da gravidez (uma em cada quatro!), muitas vezes de uma gravidez adolescente e precisam ajudar em casa, com tarefas domésticas. Neste último, as mulheres são dez vezes mais demandadas do que os homens a ajudar com tarefas domésticas ou cuidar de alguém em casa (9.0% para as mulheres versus 0.8% para os homens).

 

Leia: IES devem enfrentar transtornos psicológicos

 

Duas questões são comuns a jovens de ambos os gêneros, a necessidade de trabalho (mais para homens, mas também relevante para as mulheres) e o desinteresse pelo estudo e superar estas duas barreiras exigirá estratégias como parcerias com o setor produtivo local e flexibilização curricular e de modelo pedagógico, com ênfase em soluções à distância e híbridas.

Para as mulheres, no entanto, a questão da gravidez, muitas vezes precoce, se coloca como mais uma barreira a ser superada, para a qual as jovens precisarão de apoio e acolhimento. A oferta de creches universitárias seria um divisor de águas para essas mães que gostariam de voltar a estudar. No Brasil, alguns exemplos já podem ser encontrados principalmente entre universidades federais e há um projeto de lei para tornar a oferta desse serviço um critério de avaliação do SINAES (https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2025/04/7098478-creche-em-universidades-pode-ser-criterio-de-avaliacao-do-sinaes.html).

 

Um serviço à nação

Não podemos nos esquecer de que o sistema educacional é um dos setores que presta um serviço valiosíssimo à nação. Não existe país forte sem sistema educacional robusto e saudável, acessível e de qualidade. No Brasil, precisamos ainda superar muitas barreiras para conseguir atingir um nível ideal de formação educacional.

A gravidade da situação é aumentada pelo fato de que o mundo progride rapidamente no uso de tecnologias avançadas que tornarão ainda mais difícil o aproveitamento de uma força de trabalho sem preparo.

Com dez milhões de jovens totalmente desocupados, as perspectivas para melhoria social do Brasil não são das melhores e a sociedade precisa agir para incluir esse enorme contingente na força de trabalho. O ensino superior é peça fundamental para isso e pode até dobrar o tamanho do sistema com a incorporação desse público. Claro, estratégias específicas são necessárias, mas não estão fora do alcance de um país que concentra importantes players do setor do ensino superior.

E aí, como a sua organização poderia aproveitar esta oportunidade?

Por: Alexandre Gracioso | 21/07/2025


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