NOTÍCIA
Se hoje a Belas Artes está na vanguarda da economia criativa, diz seu reitor, é porque tem os melhores professores e laboratórios e uma excelente biblioteca
Publicado em 17/11/2025
“Somos criativos por causa dos professores que tivemos ao longo desses 100 anos; os que passaram, os que estão, os que virão”, afirma Paulo cardim (fotos: divulgação)
Há 64 anos, quando o adolescente de 14 anos Paulo Cardim começou a trabalhar na faculdade Belas Artes, fundada por seu avô, Augusto Gomes Cardim, a instituição tinha 58 alunos e 12 professores. Ele foi datilógrafo, subchefe da secretaria, chefe, secretário geral, diretor administrativo da mantenedora e, por fim, diretor-presidente e reitor, cargo que ocupa até hoje.
Ao completar 100 anos em setembro, a Belas Artes tem oito mil alunos nos cursos presenciais, semipresenciais e EAD e quatro campi na capital paulista. Está em pleno processo de sucessão para a quarta geração da família. “Minha filha Patricia Cardim é minha sucessora. Ela e meu genro Carmine Avena Jr. são meus braços direito e esquerdo.” Cardim afirma que é uma sucessão preventiva e não corretiva. “Não se impõe vocação, assim como não há sucessão imposta, pois não funciona. A pessoa tem de ter a mesma convicção que você, pensar como você pensa.”
O crescimento “maravilhoso” da Belas Artes, para Cardim, se deve a algumas decisões e valores. Uma dessas decisões foi a de seguir as palavras de Zeferino Vaz, proferidas na cerimônia de inauguração da Unicamp, em 1966. “Numa fala, para nós, importantíssima, ele citou que as escolas e universidades que quisessem ministrar ensino de boa qualidade deveriam ter os melhores professores, os melhores laboratórios e as melhores bibliotecas.”
Se hoje a Belas Artes está na vanguarda da economia criativa, diz seu reitor, é porque tem os melhores professores e laboratórios e uma excelente biblioteca. Essa qualidade, diz Cardim, é o diferencial da Belas Artes. “Somos criativos por causa dos professores que tivemos ao longo desses 100 anos; os que passaram, os que estão, os que virão.”
Ainda sob o impacto das comemorações do centenário, em especial os eventos na Catedral da Sé e no Theatro Municipal de São Paulo, Cardim diz que muito da sua emoção se deve aos professores, parceiros, alunos e colaboradores que lá estiveram. Para ele, há identificação dos professores com os valores da entidade mantenedora, o que promove a integração e a agregação na instituição. “A Belas Artes tem alma. E sem esses professores, funcionários, alunos, absolutamente nada seria possível realizar.”
Entre os valores que preconiza, Cardim menciona seu “parágrafo único e único artigo: gratidão e lealdade”. Além disso, a obediência ao tripé “amor, fé e ética”. “Através dessa forma de pensar, muitas coisas dificílimas vieram a se tornar difíceis e, posteriormente, realizáveis. As dificuldades podem ser eliminadas ou reduzidas.”
Entre as dificuldades ao longo das décadas na gestão, provavelmente entre as mais traumáticas, está a greve de 1985, quando a faculdade ficou sem nenhum professor. “Logo em seguida, ficamos sem prédio, sem estrutura física por um determinado período, consequência dessa greve, mas nunca ficamos sem nenhum aluno. Neste momento, estamos em festa, mas as lombadas fazem parte do processo de qualquer gestor, principalmente um gestor acadêmico no Brasil, que tem uma legislação insegura.”

Patricia Gomes Cardim, diretora-geral, e o pai: “a mesma convicção”
Há uma máxima que Cardim cultiva na instituição e que, para ele, também auxiliou na construção do que a Belas Artes é hoje e deve auxiliar no futuro. “Se você não traz uma solução, você faz parte do problema. Todos nós, dirigentes, temos isso sobre a mesa, o que nos ajuda muito a pensar antes de só apontar falhas.”
Quando ainda adolescente, Cardim conviveu com os 12 professores catedráticos – “ainda eram chamados assim, hoje chamamos ‘titulares’” –, da então Academia de Belas Artes de São Paulo. Recebeu deles, por meio da vivência diária, formação intelectual e moral para além da recebida em casa. Era teórica e prática, “não era só ouvir falar, era ver, praticar, foi uma formação extraordinária.”
Dali, talvez, tenha nascido uma das práticas que Cardim mantém dentro da instituição. “Amo e morrerei amando estar no meio dos alunos e conversar com eles. Os alunos são como borboletas; se você gosta de conviver com eles, tê-los por perto, cuide de seu jardim.”