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Nos últimos meses, o ChatGPT se tornou uma das principais pautas no meio acadêmico. As discussões sobre a nova tecnologia apresentam os mais diversos desdobramentos e, para repercutir diferentes pontos de vista, o Semesp promoveu o webinar ChatGPT – Desafios e Oportunidades para a Educação […]
Publicado em 17/02/2023
Nos últimos meses, o ChatGPT se tornou uma das principais pautas no meio acadêmico. As discussões sobre a nova tecnologia apresentam os mais diversos desdobramentos e, para repercutir diferentes pontos de vista, o Semesp promoveu o webinar ChatGPT – Desafios e Oportunidades para a Educação na manhã desta terça-feira, 14 de fevereiro. Nas duas mesas que fizeram parte do evento digital, a preocupação com as questões éticas foi um fator comum entre os participantes.
Afinal, o que é o ChatGPT e qual a sua relevância para o setor?
“Um modelo de linguagem de grande escala treinado pela OpenAl. Funciono usando o processo conhecido como Aprendizado Profundo por Transferência, o qual permite que eu acesse informações e responda a perguntas a partir de um grande conjunto de dados que eu fui treinado… No meio educacional, isso pode ser usado para ajudar alunos a responderem a perguntas, melhorar a eficiência da correção de trabalhos ou testes, ou ajudar professores a gerar materiais de ensino personalizados. Essas são apenas algumas das muitas maneiras em que a tecnologia de inteligência artificial pode ser usada para melhorar a educação.”
As aspas acima foram geradas pelo próprio chat em resposta à pergunta “você pode me explicar como você funciona?”, realizada na abertura do evento que reuniu seis especialistas para debaterem a nova tecnologia. Helio Dias, presidente do Ivepesp, Rogério Justino, diretor de ensino do Instituto Federal Goiano e Maurício Garcia, conselheiro acadêmico do Inteli, estiveram presentes na primeira mesa, que teve “as possibilidades do ChatGPT na Educação” como tema central.
Enquanto o professor Justino acredita em uma construção conjunta entre docentes e a IA – inteligência artificial –, apontando a discussão como “inevitável na formação de professores”, o professor Helio Dias chamou a atenção para a desigualdade entre as educações privada e pública no Brasil.
Para Garcia, o acordo ético entre professor e aluno é fundamental para as discussões acerca do tema. “A gente deveria permitir que o aluno fizesse [seus trabalhos] sem ser no papel e ele, voluntariamente, não iria usar o ChatGPT. O aluno não deveria fazer por não achar [moralmente] bom. Mais do que nunca, o ChatGPT e todas as tecnologias nos remetem a essa discussão do acordo ético entre professor e aluno”, opina.
Justino acrescenta que, se uma atividade é facilmente “colável”, deveria ser repensada. “Talvez precisemos valorizar mais a apresentação do que o trabalho escrito, por exemplo. Tornar o estudante mais criativo, mais proativo”, pontua.
Na segunda mesa do evento, “Explorando as fronteiras da IA na Educação”, que uniu Rosa Maria Vicari, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul no Instituto de Informática da UFRGS (INF), Pedro Guerios, vice-reitor do Centro Universitário ENIAC e Rodrigo Estevam, CEO & Founder da LEXP, a educadora foi a responsável por dar continuidade à perspectiva ética do assunto.
“Uma pergunta que me fazem muito é ‘os pais estão preocupados, e agora?’”, conta Rosa Maria. “Os pais deveriam estar preocupados com a IA há muito tempo, desde que o aluno está usando Spotify, Google ou qualquer outro sistema. Eles rastreiam dados e sabem mais sobre as nossas vidas e nos influenciam. Influenciam escolhas, tomadas de decisão e o que se precisa é criar nos alunos a capacidade para saberem usá-los com critérios e saberem que podem estar sendo influenciados. Isso é importante para crianças, para jovens e também para a terceira idade, pois há muitos golpes na internet”, alerta.
Outro apontamento feito pela professora é a necessidade de cautela com o recebimento e uso das informações obtidas no chat, que podem ser imprecisas. “A base de textos não passou por boas curadorias. Os textos, infelizmente, podem trazer discursos de ódio. Então a ética é muito importante”, retoma.
Para a especialista, o maior risco trazido pelo uso do chat está ligado à língua. “A nossa língua ficou na mão das big techs, que investirão no idioma que elas quiserem. Atualmente a gente vê que o GPT é muito melhor na língua inglesa, responde muito melhor. A Espanha está investindo muito, mas o Brasil, Portugal e os países da África falantes da língua portuguesa vão ter capacidade de investir dinheiro ou pesquisadores para realizar pesquisa pública? Não vai acontecer o mesmo que aconteceu com as línguas dos nossos povos originários?”, indaga.