Inovação

Colunista

Ana Valéria Reis

Consultora em inovação, aprendizagem, metodologias ativas e avaliação

Professor deve compreender o perfil do profissional que deseja formar

Ao estimular a reflexão crítica e a meta-avaliação, o professor não apenas ensina conteúdos, mas capacita os estudantes a se tornarem profissionais adaptáveis

O perfil do profissional que o professor deseja formar

Pode parecer estranho, mas cada vez mais no ensino superior os professores se deparam com a pergunta: “professor, por que devo saber isso?”. Essa indagação, mais do que simples curiosidade, revela uma preocupação legítima com a relevância dos conteúdos apresentados em sala de aula. Para responder a essa pergunta de maneira eficaz, os professores precisam ir além do domínio do conteúdo; é necessário compreender o perfil do profissional que se deseja formar, manter-se constantemente atualizado e incorporar novas tecnologias, como a inteligência artificial, em suas práticas pedagógicas. Este artigo explora esses desafios e a importância do engajamento estudantil na formação de profissionais para o século 21.

 

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A relevância do conteúdo

O questionamento sobre a relevância do que se aprende em sala de aula é central na educação atual. Os estudantes querem entender como o conhecimento adquirido se aplicará em suas futuras carreiras. Isso é totalmente justificado em um mundo onde as habilidades e competências exigidas estão mudando rapidamente. O professor, portanto, precisa ser capaz de conectar o conteúdo das disciplinas com as demandas do mercado de trabalho, demonstrando como o que é ensinado hoje poderá ser útil amanhã. Ou até agora.

Essa tarefa exige que o professor tenha um conhecimento profundo não apenas do que ensina, mas também do perfil do profissional que está ajudando a formar. Isso envolve estratégias que mobilizam a aprendizagem, identificam as tendências do mercado, além de compreender tanto as habilidades técnicas quanto as comportamentais que estão em alta. Também é crucial entender como a área de atuação do estudante está se transformando com o avanço tecnológico e as mudanças sociais.

Formar um profissional vai muito além de ensinar técnicas e teorias. É necessário compreender as expectativas do mercado e as competências indispensáveis para o sucesso na carreira escolhida, assim como para a transformação pessoal. Isso significa que os professores devem estar atentos às mudanças no perfil profissional exigido pelas empresas e organizações. Competências como pensamento crítico, resolução de problemas complexos, trabalho em equipe e habilidades interpessoais são cada vez mais valorizadas. Além disso, a digitalização e automação de processos exigem que os futuros profissionais sejam versáteis e estejam preparados para atuar em ambientes altamente tecnológicos. O professor desempenha o papel de guia, auxiliando os estudantes a desenvolverem essas competências ao longo de sua formação.

 

A necessidade de atualização constante

Nesse ambiente de mudanças rápidas, a atualização constante não é apenas recomendada, mas essencial. O professor precisa estar em sintonia com as novas descobertas e práticas em sua área de atuação, além de compreender as inovações pedagógicas que podem melhorar tanto a sua própria aprendizagem quanto a de seus estudantes.

Um professor deve estar disposto a repensar suas práticas pedagógicas, buscando formas mais eficazes de engajar os estudantes e de contextualizar o conteúdo, de maneira que faça sentido na realidade profissional atual.

 

Se você é professor, reflita rapidamente:

– Você participa regularmente de congressos e cursos de atualização em sua área de atuação?

– De que maneira essas experiências impactam sua prática pedagógica?

– Está conectado a redes de conhecimento que discutem as inovações e tendências mais recentes em sua área?

– Como essas redes influenciam o conteúdo que você traz para a sala de aula?

– Com que frequência você reavalia suas práticas pedagógicas para garantir que estejam alinhadas com as expectativas dos estudantes atuais?

– Que mudanças você tem implementado para tornar suas aulas mais eficazes e relevantes?

– Como você contextualiza o conteúdo que ensina, conectando-o com a realidade profissional atual?

– Você tem exemplos de como adapta o currículo para refletir as demandas do mercado de trabalho?

– Como você mede o impacto de suas atualizações e inovações pedagógicas no engajamento e aprendizado dos estudantes?

– Que ferramentas ou métodos você utiliza para avaliar esse impacto?

 

O desafio e a oportunidade da IA

Um dos maiores desafios — e oportunidades — para os professores hoje é o uso da inteligência artificial. A IA tem revolucionado diversas áreas do conhecimento e alterado a forma como os profissionais atuam. Para preparar os estudantes, os docentes precisam não apenas entender como a IA está impactando suas disciplinas, mas também incorporar essa tecnologia em suas práticas pedagógicas.

 

Pergunte-se:

– Você já utiliza a IA para personalizar o aprendizado de seus estudantes?

– Como essa personalização tem impactado o desempenho deles?

– De que forma você utiliza a IA para oferecer feedback em tempo real aos estudantes?

– Como isso melhora a interação e o engajamento nas suas aulas?

– Você tem explorado ambientes de simulação criados por IA para preparar seus estudantes para situações do mundo real? Pode compartilhar exemplos de como aplicou isso em suas aulas?

– Como você aborda as implicações éticas e sociais do uso da IA em suas disciplinas?

– Você discute com seus estudantes as consequências do uso dessas tecnologias no mercado de trabalho?

– De que maneira incentiva os estudantes a desenvolverem um pensamento crítico sobre o uso da IA em suas futuras profissões?

– Quais metodologias você utiliza para estimular esse tipo de reflexão?

 

O papel ativo dos estudantes no processo de aprendizagem

A aprendizagem não é um processo passivo, e os estudantes precisam compreender seu papel ativo na construção de suas habilidades e competências. A partir das experiências proporcionadas pelo professor, o estudante deve se envolver ativamente, participando das atividades, fazendo perguntas, propondo soluções e buscando fazer conexões entre a teoria e a prática. Eles precisam entender que a responsabilidade pelo aprendizado é compartilhada e que o esforço pessoal é essencial para o desenvolvimento profissional.

Um conceito interessante a ser incorporado, com base nas ideias do pesquisador estadunidense Robert Marzano, é o da meta-avaliação — a capacidade de o estudante refletir sobre seu próprio aprendizado, avaliando o que aprendeu, como aprendeu e o que ainda precisa melhorar. Através da meta-avaliação, o aluno desenvolve uma consciência crítica sobre seu desempenho e progresso, ajustando seu comportamento e estratégias de estudo. Os discentes precisam desenvolver uma mentalidade de aprendizado contínuo, buscando novas informações, participando de cursos e expandindo seus conhecimentos além da sala de aula.

O professor pode facilitar esse processo promovendo atividades reflexivas, como autoavaliações e discussões sobre os métodos de estudo. Dessa forma, o estudante não apenas aprende o conteúdo, mas também se torna um aprendiz mais eficaz, capaz de identificar o que está funcionando e o que precisa ser ajustado.

 

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No atual cenário educacional, tanto professores quanto estudantes enfrentam desafios significativos para garantir uma formação relevante e eficaz. A pergunta “por que devo saber isso?” evidencia a necessidade de contextualizar o aprendizado, conectando teoria e prática, e respondendo às demandas do mercado de trabalho contemporâneo.

O docente, ao incorporar novas tecnologias, como a IA, e ao se manter atualizado nas tendências profissionais, assume o papel de guia na formação dos alunos. No entanto, o protagonismo do estudante também é essencial, pois ele deve se engajar ativamente no seu processo de aprendizado, desenvolvendo uma mentalidade de melhoria contínua.

Ao estimular a reflexão crítica e a meta-avaliação, o professor não apenas ensina conteúdos, mas capacita os estudantes a se tornarem profissionais adaptáveis, preparados para os desafios do século 21. Dessa forma, o processo educacional se torna uma via de mão dupla, em que tanto o docente quanto o estudante desempenham papéis ativos e interdependentes, construindo juntos o caminho para o sucesso profissional.

 

Por: Ana Valéria Reis | 23/09/2024


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