Revista Ensino Superior | Faculdades se unem em rede e evitam o isolamento

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Gestão

Faculdades se unem em rede e evitam o isolamento

As trocas de experiências, informações e boas práticas são essenciais para a sobrevivência das faculdades

Publicado em 23/10/2025

por Juliana Ligorio

Cooperação Ilustração: Shutterstock

No Brasil, 79,1% das IES privadas são classificadas como faculdades. A concorrência com as grandes instituições e as constantes mudanças na legislação são alguns dos motivos considerados importantes para as faculdades estarem juntas em rede de cooperação.

Cristiane da Silva Hashimoto, do Istituto Europeo di Design, Francisco Carlos D´Emilio Borges, da Faculdade XP Educação, Janaína Sostisso, da Faculdade Factum, e Marcia Regina Vazzoler, da Faculdade de Agudos, participam da Rede 4 do Hub de Redes do Semesp, a que reúne gestores de faculdades. Eles contam que, mesmo atuando em segmentos e regiões diferentes, há diversos pontos em comum e podem se beneficiar muito com trocas de informações e experiências.

Janaína Sostisso, diretora de ensino da Faculdade Factum em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, diz que participar de redes de cooperação e estar atenta a todas as novidades do mercado nacional e internacional é fundamental para o desenvolvimento da instituição. “Não existe mais uma instituição de ensino crescer sem saber o que está acontecendo no mercado educacional e o que o mundo está pensando em relação à educação. É importante trocarmos e sabermos o que deu certo e o que não deu certo”, fala Janaína.

 

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A Faculdade Factum foi criada em 2013 e oferece cursos na área da saúde. Tem cerca de 600 alunos cursando graduação em psicologia e enfermagem e terá cursos de pós-graduação no segundo semestre deste ano. Janaína conta que as faculdades se reúnem uma vez por mês para compartilhar os problemas e o que não estão conseguindo fazer sozinhas, com o objetivo de encontrarem soluções. Segundo ela, o coordenador do grupo faz um plano de trabalho de acordo com os temas levantados pelos participantes; todos se comprometem pelas entregas e os resultados aparecem e são mensuráveis. Para o primeiro semestre deste ano, os temas escolhidos pelos participantes foram a captação de alunos e a sustentabilidade financeira.

Janaína dá exemplos hipotéticos de soluções que já encontraram para o item sustentabilidade financeira:

“Tem um curso de EAD ou híbrido no qual uma instituição tem 10 alunos matriculados, uma outra tem 20, uma terceira tem 15. Nenhuma das três consegue sozinha viabilizar uma turma, mas, juntando os alunos das três instituições, o curso se torna possível.”

Outro exemplo é em relação a custos na formação de professores. “Uma faculdade quer contratar um palestrante para capacitação de professores, mas o valor do especialista é muito alto. Para viabilizar a formação, pode apresentar a ideia para outras faculdades e juntas oferecerem a palestra online.”

Segundo a diretora de ensino, participar do clube de compras também pode contribuir para a sustentabilidade financeira das instituições, pois, se as faculdades se unirem para comprar materiais, como de laboratório, elas podem conseguir melhores preços pela maior quantidade de produtos.

Além da rede de faculdades, Janaína participa das redes temáticas do Semesp de autoavaliação institucional, de procuradores institucionais e saúde mental.

 

Trocas seguras

Francisco Carlos D´Emilio Borges, diretor de relações institucionais da Faculdade XP Educação, conta que ele e o coordenador acadêmico Luiz Fernando Conduta têm participado das reuniões da rede de cooperação desde o começo de 2025 e que já sentem a importância das trocas. Segundo ele, a participação possibilita ter informações de forma segura e ágil sobre, por exemplo, as mudanças na legislação. Também comenta que perceberam problemas em comum com outras instituições e que juntos podem pensar em soluções.

A XP Educação está em operação há três anos, oferece cursos na área de tecnologia e negócios e tem aproximadamente 800 alunos inscritos em cinco cursos de graduação e 5.000 alunos inscritos nos cursos de pós-graduação. Os cursos são online e os alunos têm polos de apoio (escritórios de empresas de investimentos ligadas à XP) em várias cidades do Brasil. A sede fica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Cristiane da Silva Hashimoto, gerente administrativa acadêmica da sede paulista do IED (Instituto Europeo di Design), explica que trabalha há 25 anos em instituições de ensino, que já atuou em universidade e em centro universitário, mas que é a primeira vez que está em uma faculdade. Ela percebeu que, para uma faculdade, que é uma instituição menor, é muito mais importante estar em rede para se atualizar sobre o setor. Cristiane diz que se surpreendeu com a disponibilidade de todos colaborarem com informações.

O IED é um instituto europeu que tem 20 anos de atuação no Brasil e oferece graduação e pós-graduação nas áreas de Design, Moda, Artes Visuais e Comunicação. Com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro, tem aproximadamente 300 alunos matriculados na graduação e 700 que participam dos programas de pós-graduação e extensão.

 

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Cristiane é responsável pela parte regulatória, de registros acadêmicos e pela ouvidoria do IED. Ela diz que está aprendendo muito com todos os temas discutidos na rede de faculdades, mas que também fica atenta aos temas para chamar para as reuniões os responsáveis pelas áreas que estarão em pauta. “Por exemplo, teve reunião sobre captação e eu chamei o gerente do setor de captação para participar”, diz ela.

Além da rede de faculdades, Cristiane participa da rede de procuradores institucionais do Semesp. Segundo ela, participar desta outra rede também é muito importante para estar atualizada sobre a legislação e poder seguir a regulação de forma correta. “É muito legal participar, porque o que eu não sei, o outro sabe. A gente joga a dúvida no WhatsApp da rede e automaticamente o outro está respondendo. As pessoas do grupo são muito unidas.”

Márcia Regina Vazzoler, gestora da Faculdade de Agudos (FAAG), no Estado de São Paulo, relata que antes de as redes de cooperação serem criadas pelo Semesp ela buscava conversar com outras faculdades para trocar experiências, mas sem sucesso, porque era vista como concorrente. Segundo ela, ter uma instituição dando segurança e mostrando a importância das trocas foi essencial para as faculdades entenderem que a troca de experiências é muito valiosa, e que juntas são mais fortes.

 

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“A gente aprende demais com cada uma das instituições que participam e, às vezes, o simples fato de ter alguém que ouça as nossas dores e angústias, e entende do que estamos falando, já nos traz um conforto emocional”, diz Márcia.

A FAAG tem em torno de 1.000 alunos, 12 cursos de graduação e 15 de pós-graduação. Além da rede de faculdades, Márcia participa da rede das IES menores e da rede de procuradores institucionais, porque “cada uma tem assuntos e focos diferentes, e em todas as trocas acontecem de forma muito produtiva”. As trocas fortalecem as faculdades, pois compensam pontos de diferença em relação às instituições maiores, que podem, por exemplo, ter um departamento só dedicado às questões estratégicas.

Janaína, da Factum, declara que “estão postas as constantes mudanças no campo educacional, por isso, mesmo que a faculdade esteja bem hoje, ela tem que estar se atualizando sempre e pensando nas mudanças e nas ações futuras para se manter”.

Autor

Juliana Ligorio


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