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Evento promove discussões sobre questões conhecidas da área de gestão educacional brasileira, além de desafios atuais do setor Por Marina Vieira Souza No cenário do ensino superior privado, os desafios trazidos pela geração digital e pela presença de novas tecnologias aliam-se a preocupações antigas, como […]
Publicado em 27/05/2014
Evento promove discussões sobre questões conhecidas da área de gestão educacional brasileira, além de desafios atuais do setor
Por Marina Vieira Souza
No cenário do ensino superior privado, os desafios trazidos pela geração digital e pela presença de novas tecnologias aliam-se a preocupações antigas, como evasão e inadimplência. A adaptação a uma, porém, pode ser a melhor opção para solucionar a outra.
Foi o que mostraram as discussões ocorridas na 12ª edição do Congresso Brasileiro de Gestão Educacional (Geduc), evento anual que reúne gestores e educadores de todo o Brasil. Realizado pela Humus em abril último, o Congresso aconteceu no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, e propôs apresentar soluções para cada fase do processo de gestão educacional através de mesas-redondas, workshops e palestras ministradas por importantes nomes do setor, como Fernando Valenzuela, presidente da National Geographic Learning/Cengage, entrevistado pela revista Ensino Superior no mês de março, e o senador e ex-ministro da educação Cristovam Buarque.
O Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) apresentou durante o evento dados atuais de evasão na educação privada brasileira. De acordo com estudo realizado pela entidade, a taxa de abandono na rede privada em 2012 beirava os 40%. Um total de 1.257.000 alunos deixou de frequentar os cursos nos quais haviam se matriculado.
Segundo Ronaldo Mota, fundador e assessor especial da EdUKationBR, existem dois motivos para o aluno desistir: ou ele não consegue acompanhar o conteúdo, ou o acha chato e superficial. Para ambos os casos, Mota defende a metodologia da Sala de Aula Invertida, em que os alunos estudam o conteúdo antes de chegar à sala, e usam o tempo da aula para resolver problemas. “O processo de aprendizagem não é uma relação bilateral entre professor e aluno, mas um processo coletivo-cooperativo”, diz Mota.
O palestrante discutiu o futuro do ensino superior presencial e trouxe propostas de inovação para a modalidade, que ainda é a mais procurada, e ressaltou que não cabe mais ao docente assumir o papel de detentor do conhecimento, já que existe tamanha facilidade e grande difusão do acesso à internet. “O novo professor se assemelha muito mais a um designer educacional”, afirma.
Arquitetura da inovação
No painel Sala de aula, o que precisa mudar?, ficou claro que até a disposição espacial dos móveis utilizada hoje em dia é arcaica. O Instituto Superior de Educação de São Paulo, ou Instituto Singularidades, tem salas compostas de mesas redondas, onde cada aluno tem seu próprio computador e o educador circula entre os estudantes, assumindo um papel mais coadjuvante, de tutoria. Essa organização tira o destaque do docente e até mesmo do aluno, e coloca a aprendizagem no centro, permitindo que ela aconteça de forma personalizada. “Cada pessoa tem seu ritmo ao aprender, e isso precisa ser respeitado”, conta Cláudio Oliveira, debatedor na mesa e diretor do Instituto Singularidades.
Para Hélio Chaves Filho, diretor da Everest Soluções Educacionais, o modelo de sala de aula tradicional é atrasado e não reflete as necessidades dos alunos nos dias de hoje. “Há de se pensar a necessidade de salas de aula com esse layout tradicional, com quadro na frente, professor em foco e carteiras enfileiradas. Ele não combina com a possibilidade de troca de conhecimento, com a autonomia do estudante”, reflete.
Apesar dos poucos exemplos de Sala de Aula Invertida nas instituições de ensino, a demanda não é recente. Em 1882, Rui Barbosa escreveu um relatório sobre a educação no Brasil no qual criticava o excesso de autoridade do docente, o modelo automatizado e repetitivo de ensino e a passividade do aluno, que impediam que educação fosse uma força viva. São problemas ainda presentes, que não se resolverão apenas com a mudança na organização das carteiras, e nem mesmo com a adoção de novas tecnologias. “É necessário haver uma mudança de cultura nas instituições de ensino superior. Querendo ou não, isso vem de cima para baixo. Não há outro caminho. Mas não basta somente o gestor entender que precisa haver inovação. O professor é o elo transformador”, afirma Hélio.
Em meio às transformações discutidas para a sala de aula, a questão do ensino a distância é latente. Num país com 106 milhões de usuários da internet – mais da metade da população –, o terreno para o ensino a distância é promissor. No entanto, especialistas alertam que o uso da internet só será revolucionário se for pensado como uma tecnologia independente, que merece estudo e aplicação de metodologias específicas. Não basta gravar a aula e postá-la num portal, ou transferir o conteúdo da lousa para uma projeção. Conteúdos trabalhados dessa forma são talvez mais simples de ser produzidos, mas não possuem uma proposta pedagógica inovadora.
Para Ronaldo Mota, que foi secretário nacional de Educação a Distância, o segundo passo da EaD, posterior à disponibilização on-line do conteúdo, é a certificação. E ele é otimista quanto a sua validade e aceitação. “Dentro da concepção mundial que a instituição universitária tem de autonomia, ela pode, em qualquer área, emitir certificados”, esclarece.
Métodos de fidelização
Outras causas para desmotivação estudantil são a quebra de expectativa e a falta de identificação com a instituição. Para os especialistas em marketing educacional que discutiram como fortalecer a captação de alunos, um dos maiores erros cometidos é não definir que tipo de estudante deseja-se atrair. “Quando não se conquista o aluno ideal, ele vai embora ou para de se importar, gerando inadimplência, o que impacta a saúde financeira da instituição”, ressalta Eduardo Ramalho, presidente da Acxiom Brasil, empresa de inteligência de dados e tecnologia de marketing.
Para acertar, é preciso, primeiro, identificar o perfil do cliente e definir estratégias a longo prazo. Depois, é preciso ir atrás das pessoas com o perfil escolhido. Nesse estágio, o uso de mídias sociais é imprescindível para abrir o canal de contato. “É difícil, pois a gente acha que todo aluno é aluno bom. Mas o ensino superior não é como uma loja em que a pessoa consome e vai embora”, explica Ramalho.
Ana Claudia Braun Endo, gerente de marketing e relacionamento do Instituto Presbiteriano Mackenzie, atenta para a importância de um portal de qualidade da instituição, não só para comunicação entre a comunidade acadêmica, como também para dar visibilidade aos pais e público externo.
Criar relacionamento com escolas também é uma estratégia utilizada pelo Mackenzie, que tem um programa que leva professores universitários às escolas, faz palestras e começa a criar a aproximação com a marca mais cedo, oferecendo mais chances de o vínculo se fortalecer. “É importante saber de onde vêm os alunos”, reforça Ana Claudia.
Investir no “produto” gerado pela instituição, isto é, nos resultados alcançados pelos que já se formaram, é a dica deixada por Patrícia Dib, gerente de marketing da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). “Nada melhor do que mostrar o que você entregou. Ou seja, a cara dos seus ex-alunos”, orienta a gerente.
É de extrema importância, também, que a propaganda corresponda à realidade da instituição. O amor pela marca é o que vai prevenir casos de inadimplência e evasão. Como no futebol, se houver fidelidade, haverá interesse e investimento, não importa a situação. “É preciso ajustar a expectativa de quem recebe o produto, pois ela vai regular o nível de satisfação do aluno, e gerar amor pela marca”, ensina o presidente da Acxiom Brasil.
O congresso é um dos mais importantes para a gestão educacional brasileira e contou com a presença de cerca de 500 gestores da área. No último dia de evento os vencedores do Prêmio Nacional de Gestão Educacional e Prêmio Gestor Educacional do Ano de 2014 abriram o II Colóquio de Práticas Bem-Sucedidas, dividindo com os participantes as boas práticas e iniciativas de sucesso. Ao final, todos os participantes do congresso puderam dividir suas experiências e exemplos de ações.
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Troca de boas experiências
Ocorreu no Geduc a entrega do Prêmio Nacional de Gestão Educacional e Prêmio Gestor Educacional do Ano de 2014, que está em sua 7ª edição, realizado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior, Federação Nacional das Escolas Particulares, Associação Nacional dos Centros Universitários, Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades Isoladas e Integradas, Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino e pela Humus. Ailton Nazareno Soares, presidente e reitor da Unisul, venceu na categoria de Gestor do Ano, para o Ensino Superior.
O Centro Universitário La Salle ficou com o primeiro lugar com o projeto Vestibular 365 dias, na vertente de Relacionamento com Clientes, seguido pela Universidade da Região de Joinville.
No campo de Responsabilidade Social foram premiados os projetos Melhor é Nossa Causa: inclusão de pessoas com deficiência na universidade, da Universidade Metodista de São Paulo, e o Cas@Viva – Mudando Vidas num Clicar de Olhos, da Inatel.
A medalha de ouro em Gestão Administrativa/Pessoas foi para a Universidade Feevale, enquanto a Fundação de Ensino Superior de Passos ficou com a de prata.
Por fim, o primeiro lugar da categoria Gestão Acadêmica foi concedido à Universidade Positivo, por sua política inclusiva. Pelo desenvolvimento e implantação de uma estratégia de coleta de dados via mobile, o Centro Universitário Fecap foi premiado com o segundo lugar.
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