“Eu sempre quis dar aula porque minha experiência escolar foi muito marcante. Fiz o estágio com a turma da alfabetização em uma escola federal, dentro da universidade onde estudei. Quando me formei, me inscrevi para dar aula na rede estadual sem passar por concurso. Fui chamada para um contrato de seis meses e me colocaram em uma turma de EJA (Educação de Jovens e Adultos). Tinha de ensinar em seis meses o conteúdo de um ano do ensino médio. Por mais que você faça estágio e já tenha vivido a situação antes, a sua turma é a sua turma. Você é o centro das atenções, tem de estar o tempo todo ligado, administrando conflitos, tendo de saber as respostas e explicando dez vezes a mesma coisa. A segunda experiência foi em uma escola estadual no Morro do Papagaio, uma favela grande de Belo Horizonte. Cheguei no meio do ano, não tinha relação nenhuma com a turma. Foi muito difícil. Quando a gente pega uma turma nova é fundamental estabelecer essa relação. Eu faço uma dinâmica logo de começo, gosto de chamar cada aluno pelo nome, quero que ele se sinta especial. Mas, naquele momento, eu ainda nem tinha criado um modo próprio de dar aula. Somente quando fui contratada naquela mesma escola federal onde estagiei é que me senti uma professora de verdade pela primeira vez. Apesar de ser uma escola referência de ensino público, eu não tive muita orientação pedagógica e nem espaço para tirar dúvidas. Não sabia qual conteúdo deveria priorizar. Por outro lado, tinha liberdade para usar o material que eu quisesse. Depois disso, passei muitos anos trabalhando no Projovem, programa do governo federal, fiz mestrado e fui chamada para formar professores da rede pública. Foi a oportunidade de ver o meu ofício sob outro ângulo. Hoje, estou de volta à sala de aula. É a primeira vez que dou aula em escola particular e, mesmo com dez anos de experiência, voltei a me sentir novata. Fui muito bem recebida e orientada, todo início de etapa passo por uma avaliação junto à coordenadora para ver se cumpri o que me havia proposto, o que posso melhorar e o que fazer no ciclo que se inicia. É muito bom saber que tem alguém comigo, que me dá respaldo. Afinal, embora estejamos sempre rodeados de alunos, o trabalho do professor é muito solitário.”
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