NOTÍCIA
Como os avanços da genética pessoal podem ser articulados com conteúdos de sala de aula
Publicado em 21/11/2013
No começo deste ano, por exemplo, o jornal americano The New York Times publicou um artigo assinado pela atriz Angelina Jolie, no qual ela anuncia ter feito uma dupla mastectomia, cirurgia que remove completamente a mama, para prevenir a possibilidade de desenvolver um câncer. O teste de DNA da atriz indicou que ela tinha 87% de chance de ter câncer de mama; com a retirada dos seios, a probabilidade caiu para 5%.
Esse avanço da medicina molecular é resultado do Projeto Genoma Humano, iniciado em 1990, e coordenado pelo Departamento de Energia do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.
Todas essas questões podem ser trabalhadas em sala de aula, a partir de um debate ou da relação com conteúdos disciplinares. Os professores de biologia Angelo Pavone, do Colégio Etapa, e Alessandra Marques Abdallah, a Escola Santa Marina, explicam como.
Angelo Pavone, professor de biologia no Colégio Etapa
“Essas questões podem ser articuladas a partir dos conceitos básicos do que é DNA, o que são os genes e como eles passam de geração a geração. Começamos ensinando coisas simples como a destreza com as mãos, as probabilidades do albinismo e vamos evoluindo para a composição do DNA e como conseguimos chegar a essas informações com uma tecnologia avançada. Aqui no Etapa começamos a trabalhar genética no ensino fundamental 2 e prosseguimos no ensino médio. Além das aulas teóricas, temos atividades práticas no laboratório. Uma delas é a extração do DNA da banana. Outra forma de discutir esse tema, para além da biologia, é nas aulas de filosofia, quando questões éticas e sociais podem ser melhor analisadas.”
Alessandra Marques Abdallah, professora de biologia na Escola Santa Marina
“O livro que usamos em sala de aula tem um capítulo dedicado à genética moderna e todas essas evoluções na ciência, com o qual os alunos aprendem a parte mais biológica. Depois eu passo um adendo com as questões jurídicas e legais que envolvem esses temas, para eles entenderem até onde isso pode ir. Porque quando mostramos essa evolução, com uma vasta possibilidade, surgem dúvidas de quais são os limites legais.
Um exemplo é sobre fertilização in vitro. A tendência é que em alguns anos a fertilização aumente, pois as mulheres estão tendo filhos cada vez mais tarde e existem também famílias homoafetivas que se utilizam desse recurso. Quando uma mulher faz uma fertilização, sobram embriões no laboratório. Existe um contrato que garante que esse embrião pode ser usado para estudo a partir de três anos que ele está congelado, desde que tenha uma autorização de ambas as partes. Aí sim ele pode ser doado para pesquisas com célula tronco. Outro ponto interessante de trabalhar com os alunos é como as diferentes religiões encaram a fertilização in vitro. O Vaticano, por exemplo, não aceita. Já os protestantes aceitam desde que seja feita entre marido e mulher.
Uma forma de trabalhar esse conteúdo é pedindo que os alunos criem uma peça de teatro. Com as duas ferramentas, o livro didático e o material extra sobre a legislação, eles criam uma história para apresentar em sala. Uma das peças criada pelos alunos, por exemplo, contava a história de um casal que não podia ter filhos e contratou uma barriga de aluguel. Na trama começam a aparecer complicações e eles vão usando a legislação que eu ensinei.
Acho importante passar esse tipo de conteúdo, pois eles devem estar informados para o futuro. Às vezes o professor está preocupado que é época de vestibular e acaba não norteando a aula com esses aspectos legais que são importantes. Eu estou pensando nos cidadãos que estou formando.”