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Cofundador da Perestroika, Felipe Anghinoni acredita na modernização do ensino e encabeça um projeto educacional de sucesso com unidades em todo o Brasil por Udo Simons Em sua apresentação institucional Felipe Anghinoni, de 36 anos, se identifica como “Diretor de Whatever”. Ou seja, ele é, […]
Publicado em 22/04/2014
Cofundador da Perestroika, Felipe Anghinoni acredita na modernização do ensino e encabeça um projeto educacional de sucesso com unidades em todo o Brasil
por Udo Simons
Em sua apresentação institucional Felipe Anghinoni, de 36 anos, se identifica como “Diretor de Whatever”. Ou seja, ele é, literalmente, no mundo dos negócios, diretor de qualquer coisa. A intenção dele com essa definição é emitir uma mensagem objetiva sobre sua filosofia de “autonomia profissional”.
Felipe é cofundador da Perestroika, iniciativa educacional com faturamento anual superior a R$ 4 milhões surgida em Porto Alegre, em 2007, quando ele e seus sócios estavam na casa dos 20 anos de idade. Isso quer dizer, o DNA impresso nas ações da empresa é jovem, distinto dos modelos tradicionais no ensino, a começar pela informalidade de sua apresentação profissional, passando pela gestão, que elimina a chefia e investe na “troca de mentoria” como organização administrativa.
“Somos uma empresa que projeta plataformas educacionais, com pegada contemporânea”, define. Formalmente, há certa dificuldade para identificá-los dada a abrangência de seus cursos, sobretudo, na metodologia de ensino aplicada a eles, uma vivência de situações executadas tanto em bares, com garçons, banda de música e cerveja, como em espaços in company para capacitação profissional. Para eles, aluno é quem decide aprender. Professor é aquele escolhido para ensinar. Aprendizado é um processo invisível, nasce naturalmente e tem a inspiração como base. Por isso, deve ter conteúdo, forma e emoção. Escola é um lugar imaginário entre o cérebro e o coração.
Nesta entrevista à revista Ensino Superior, Felipe falou sobre esse “lugar imaginário” que é a escola. Lembrou as dificuldades enfrentadas pelos estabelecimentos de ensino para cumprir as exigências do Ministério da Educação. Ressaltou a “sintonia com a contemporaneidade” como um dos destaques de seu trabalho. Sobretudo, exemplificou, por sua vivência, modelos educacionais possíveis, apesar de muito novos. “A grande maioria das instituições de ensino superior opera com chip da era industrial nesse mundo atual, superconectado.”
Ensino Superior: Como você chegou ao modelo da Perestroika como instituição de ensino?
Felipe Anghinoni: Depois de muita prática e vivência. A Perestroika nasceu do desejo que eu e meu sócio, Tiago Mattos, tínhamos de mudar de profissão. Éramos redatores publicitários, mas queríamos mudar. Com isso, em 2006, tivemos a ideia de oferecer um curso de criação publicitária. Assim, o montamos e o batizamos de Perestroika. As aulas aconteceram num auditório alugado de um prédio corporativo, em 2007. Ao final, fizemos uma avaliação e obtivemos média de aprovação dos participantes de 9,8. Percebemos que tínhamos em mãos algo considerado muito bom.
O que fez a iniciativa ser tão bem avaliada?
A metodologia. Trabalhávamos nesse segmento há uns nove anos e tínhamos domínio sobre o assunto, ensinávamos com humor e de forma dinâmica. Sou formado em publicidade e propaganda. Não tenho nenhuma formação pedagógica, meu aprendizado no setor da educação é empírico. Nossa metodologia foi criada de forma experimental, com acertos e erros. Penso que isso me dá uma visão fresca, livre de vícios.
Que metodologia é essa? Como explicá-la?
Temos uma metodologia da educação baseada na experiência, o que significa algo prático. É uma mistura entre o que conhecemos dos conceitos clássicos de educação com movimentos contemporâneos de aprendizado, além do entendimento da sociedade pós-Revolução Digital.
Como isso pode ser explicado melhor?
A Perestroika é uma empresa que projeta plataformas educacionais, com pegada contemporânea. Tem uma metodologia da educação baseada na experiência. Estamos atravessando uma revolução. Aliás, o mundo passou por três grandes revoluções: a agrícola, a industrial e, agora, a digital. Essa última é muito maior do que simplesmente usarmos um computador. Assim como a revolução industrial criou uma sociedade diferente, gerou impacto educacional, a revolução digital faz o mesmo hoje em dia. Nesse sentido, queremos criar um sistema de ensino, em termos de aula e conteúdo, alinhado aos novos valores emergentes na sociedade.
Qual a tradução disso na prática? Quais cursos são oferecidos por vocês?
Como estrutura, temos três blocos de cursos. Eles são divididos nos seguintes grupos: criatividade e estética; organização, gestão, empreendedorismo; e cursos para a vida. Somos uma escola livre, independente, que nasceu a partir do mercado. Temos cursos para a vida, para o aperfeiçoamento profissional e humano. Exemplos: já tivemos cursos para a felicidade e curso técnico para ensinar a como fazer apresentações em Power Point.
Qual ganho o aluno obtém ao participar de um curso desses? Eles são reconhecidos pelo MEC?
A pessoa vai ganhar uma visão de mercado de profissionais que fazem os trabalhos mais contemporâneos em suas áreas. Ainda não somos reconhecidos pelo MEC, mas emitimos certificado de participação e carga horária. Nosso propósito é ajudar a transformar o mundo num lugar mais criativo, subversivo. Só conseguiremos chegar perto de cumprir esse propósito tão ousado porque temos a educação como meio.
Como descrever essa visão de escola?
Como um processo divertido. Um programa. O aluno tem de deixar de ir ao cinema, ao jogo, ao bar com os amigos para ir à aula não por obrigação, mas por prazer. Há quatro pilares na educação baseados por estudos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). São eles: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver com os outros e aprender a ser. Entendemos esses conceitos como respectivamente: prazer em aprender, vai lá e faz, comunidade perestroika e experiência transformadora.
Atualmente, qual o tamanho da Perestroika?
Em 2013, oferecemos 66 cursos para 2.345 alunos. Atingimos faturamento anual superior a R$ 4 milhões. Somos muito sustentáveis. Operamos com tranquilidade e dinheiro em caixa. Lançamos 20 novos cursos e estávamos com três unidades educacionais em: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro; e contávamos com 30 pessoas trabalhando, das quais 10 são sócias. Para este ano, vamos abrir três novas unidades no Brasil, em Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, e uma nos Estados Unidos, em São Francisco. Todas as nossas unidades de negócio, por volta de 15, estão com as contas em dia e prontas a lançar novos projetos.
Em que a Perestroika pode servir como exemplo às instituições de ensino tradicionais?
Estamos em sintonia com a contemporaneidade. A grande maioria das instituições de ensino superior ainda não atentou para isso e ainda está distante dos valores contemporâneos.
Explique melhor a gestão de vocês.
Não temos a figura do CEO. Buscamos a descentralização completa em termos de gestão. Aqui, não acreditamos na ideia da chefia, mas na de troca de mentoria, da resolução conjunta das questões e da autossuficiência para as ações. Incentivamos todo mundo à autonomia e autogestão.
Como a Perestroika se organiza como negócio?
Cada praça é uma unidade de negócio totalmente independente, inclusive financeiramente. Além das escolas nas cidades, temos as unidades de palestras, de cursos corporativos, consultoria em metodologia de educação e de gestão de negócios, entre outros. É como se fizéssemos parte de uma rede.
Quais são as perspectivas para 2014?
Estamos trabalhando para aperfeiçoar a oferta de aulas no formato digital. Como nossa metodologia é vivencial, experimental, acreditamos que simplesmente filmar as aulas ou fazer videoconferência é um contrassenso. Por isso, vamos lançar, neste ano, um protótipo de nosso formato digital de educação. Em termos de gestão, consolidaremos a horizontalização da administração. Tudo caminha para lançarmos uma versão 2.0 da Perestroika. Também estou aprendendo cada vez mais sobre os processos de desescolarização que começam a ganhar força internacionalmente, principalmente, nos Estados Unidos. Para mim isso é uma vertente que revoluciona a educação. Nesse sentido estou estudando educação, me formando.
Mas existe algum projeto que você destacaria?
Estamos fazendo um trabalho em conjunto com a Fundação Getulio Vargas e com a Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul. Esse projeto, quando em funcionamento, vai criar impacto na rede de educação do estado. Como ainda está nas fases iniciais, não posso ser mais específico. Mas a metodologia utilizada nele pode ser adotada em outros lugares.
Existe uma vontade de vocês de chegar até o ensino fundamental, médio ou superior?
Uma de nossas metas de longo prazo é ter uma unidade de ensino fundamental. Contudo, ainda, temos dificuldade para entender a implementação desse nível educacional porque envolve questões públicas e burocráticas que desconhecemos. Mas somos idealistas e acreditamos que é possível, sim, chegar aos níveis mais formais do ensino, embora entenda que vou precisar de mais estrutura pedagógica para isso.