Encontro reúne educadores para discutir o papel de cada um na articulação de mudanças nos centros educativos
Publicado em 05/04/2013
As diversas mesas dispostas por todo o salão do Teatro Vivo Rio, no Rio de Janeiro, já adiantavam que o VII Encontro Internacional de Educação, promovido nos dias 2 e 3 de abril, pela Fundação Telefônica Vivo, seria diferente dos demais. No lugar daquele conhecido formato de auditório, cadeira atrás de cadeira, um palestrante à frente falando e os convidados apenas ouvindo, pequenos grupos se organizavam em volta de mesas redondas e eram constantemente incentivados a contar suas experiências e compartilhar opiniões.
Um encontro cujo tema era “Como liderar as mudanças nos centros educativos” não poderia ser de outra forma. “Não adianta falar em inovação fazendo apenas palestras”, ressalta Mila Gonçalves, gerente de educação da Fundação Telefônica. “É importante que os professores se apropriem desses momentos e percebam que todos podem ser os líderes da mudança”, acrescenta.
Para falar sobre a visão do Ministério da Educação (MEC) sobre o papel da liderança nos centros educativos, esteve presente Mônica Gardelli Franco, diretora de formulação de conteúdos educacionais do MEC. “Como o MEC não tem escolas diretas, ele tem que fazer uma série de ações que viabilizem aos gestores municipais, estaduais e escolares liderarem os processos de gestão da educação pública do nosso país”, explicou Mônica antes de apresentar os programas oferecidos pelo Ministério.
Entre as ações, Mônica destacou o programa Mais Educação, o Plano de Ações Articuladas (PAR) e o PDE Interativo, ferramenta de apoio à gestão escolar, criada pelo MEC em parceria com as Secretarias de Educação, por meio da qual o gestor consegue recursos direto para a escola para a realização de pequenos projetos.
Claudia Costin, secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, falou sobre a criação da Educopédia, portal com conteúdos digitais criados pelos próprios professores da rede. A secretária anunciou também que o MEC está elaborando, em conjunto com as secretarias, uma plataforma digital nacional com recursos de aprendizagem variados, como vídeos, textos e jogos. A ideia é que os professores possam customizar a plataforma de acordo com a necessidade e currículo seguido por cada rede.
Mônica Franco explica que essa é uma demanda dos próprios estados e municípios que estão investindo em tecnologia, mas não têm recursos para produzir conteúdos digitais. “Nós ainda estamos em processo de diálogo, mas a ideia é disponibilizar conteúdos educativos para que o professor possa montar a sua própria aula e partir para um segundo passo. Existe uma arquitetura funcionando aqui no Rio que o MEC investiu e pode dar certo para outros estados e municípios”, acrescenta.
Que educação queremos?
Como vamos chegar à educação do século 21 e o que devemos fazer para sermos os líderes dessa mudança? Com esses dois questionamentos, David Albury, coordenador do Programa Global de Líderes da Educação (GELP), iniciou sua fala. Albury destaca que a tecnologia é essencial na educação do século 21, mas não é ela que caracteriza sozinha essa nova educação. Para o consultor, o aprendizado hoje deve ser pessoal, com foco no aluno e em suas paixões e capacidades. Ele defende uma educação integrada, conectada, co-criada, colaborativa e empoderadora. “Os alunos podem aprender entre eles, os professores podem aprender com os alunos, todos somos aprendizes e arquitetos ativos da jornada da aprendizagem”, ressalta.
O espanhol Ferran Ruiz, presidente do Conselho Escolar da Catalunha, compartilha da opinião de Albury. Para ele, o aluno deve poder conduzir o seu processo de aprendizagem e por isso é fundamental que os professores aproveitem o capital intelectual e cultural que os estudantes já adquiriram previamente. “É essencial trabalhar de maneira articulada, colaborativa e em rede”, defende Ruiz.
Antes de promover a mudança é necessário, no entanto, saber o que queremos com ela e para onde queremos ir. É o que ressaltou o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) Fernando Almeida. Albury também destaca que o primeiro passo é criar uma missão e traçar objetivos para onde queremos chegar. Ele aponta como fundamental o engajamento da comunidade escolar, inclusive dos pais.
Agentes da mudança
“A escola deve ser um centro de liderança da comunidade onde ela está inserida”, afirma Braz Rodrigues, diretor da EMEF Presidente Campos Salles, localizada na comunidade Heliópolis, em São Paulo. Braz é um exemplo quando se fala em liderar as mudanças dentro do ambiente escolar. Em sua apresentação durante o Encontro Internacional de Educação, o educador contou como combateu a violência dentro da escola e em seu entorno, engajando os alunos e toda a comunidade.
“Quando assumi a direção era impossível enxergar a escola, porque o muro era coberto de arame farpado por causa da violência”, lembra. O diretor decidiu por conta própria derrubar os muros da escola e as paredes que dividiam as salas e implementou uma metodologia baseada na da Escola da Ponte. “A escola não pode desprezar o saber que o aluno traz de sua comunidade”, ressalta, “dessa forma, conseguimos fazer com que os problemas da escola se tornassem da comunidade e vice e versa”.
Um projeto similar foi aplicado em uma escola da Rocinha, no Rio de Janeiro, mas com a diferença de que a iniciativa veio da própria Secretaria Municipal de Educação. O GENTE (Ginásio experimental de novas tecnologias educacionais), apresentado por Rafael Parente, subsecretário de novas tecnologias educacionais, também é uma das chamadas “escolas sem paredes”. Um dos objetivos do projeto é que os estudantes recebem um ensino individualizado. “Pode parecer utópico. Nós não fomos preparados para isso, mas é um processo de descoberta”, diz Parente.
Rede de aprendizado
O encontro realizado no Rio de Janeiro foi o sexto dos nove que acontecerão por toda a América Latina e reuniu cerca de 800 educadores, produtores de conteúdos digitais e especialistas. Além dos encontros presenciais, as discussões continuam acontecendo nas redes e conectando educadores de diferentes cidades e países. As palestras e debates do evento no Rio de Janeiro podem ser vistos aqui. http://encuentro.educared.org/
O próximo encontro presencial acontece nos dias 16 e 17 de maio, em Quito, no Equador, e aborda o tema “Família: parceiro estratégico para a educação”.
*A jornalista Deborah Ouchana viajou ao Rio de Janeiro a convite da Fundação Telefônica Vivo