NOTÍCIA
Nova adaptação para o cinema de "Cinderela" mostra que é sempre possível reinventar um clássico dos contos de fadas
Publicado em 12/05/2015
A mais recente adaptação para cinema de Cinderela, produzida pela Disney, demonstra que há sempre espaço para atualizações dos contos de fadas, submetendo a estrutura tradicional das histórias – principalmente nas versões clássicas de Charles Perrault e dos Irmãos Grimm – a um pequeno banho contemporâneo na embalagem. Outra vertente do cinema, entretanto, aposta em intervenções mais drásticas (muitas vezes, irreverentes e bem-humoradas) nessas histórias, com o objetivo de deixá-las com roupagem moderna e, em tese, afiná-las com as preferências dos espectadores de hoje.
Produzido também pela Disney, Caminhos da floresta (EUA, 2014, 125 min) ilustra bem essa abordagem, que lida com os contos de fadas de forma mais livre e inventiva. Neste caso, a origem das intervenções vem de um espetáculo musical escrito por James Lapine, com músicas de Stephen
Sondheim (um dos mais respeitados e premiados compositores do gênero), que estreou na Broadway, em Nova York, em 1987, e foi remontado em diversas ocasiões, nos EUA e na Inglaterra. De acordo com os autores, uma das inspirações foi o livro A psicanálise dos contos de fadas, de Bruno Bettelheim, publicado em 1976.
No filme, assim como na peça teatral, personagens de diversas histórias clássicas – Cinderela, João (o do pé de feijão), Rapunzel e Chapeuzinho Vermelho, entre outros – interagem em uma trama cujo ponto de partida envolve o desejo de um padeiro e de sua mulher construírem uma família. Para reverter o efeito de uma maldição, assistimos a uma espécie de gincana maluca, apoiada em brincadeiras com detalhes que caracterizam os contos selecionados. Ainda que um pré-requisito para apreciar o resultado seja gostar do gênero musical, Caminhos da floresta pode inspirar atividades de leitura e de redação que valorizem intervenções em textos consagrados, mas nem por isso intocáveis.
Experiente profissional da Broadway, James Lapine – que assinou o libreto de Caminhos da floresta no teatro – fez também o roteiro do filme. O compositor Stephen Sondheim, seu parceiro nos palcos, compôs duas músicas especialmente para a trilha sonora de cinema. A direção coube a Rob Marshall (Chicago, Nine).
No livro A psicanálise dos contos de fadas, Bruno Bettelheim prestou uma contribuição significativa à releitura contemporânea dos contos de fadas. Alguns dos temas-chave presentes nessas histórias, incluindo aqueles mais sombrios e assustadores, possibilitariam, segundo ele, que as crianças aprendessem a lidar, no terreno da fantasia, com situações que mais tarde vão experimentar na vida.
Atores veteranos e jovens estrelas formam o elenco de Caminhos da floresta. No primeiro grupo, os destaques são Meryl Streep (que faz a bruxa da trama) e Johnny Depp (o lobo). No segundo, Anna Kendrick (Cinderela), Emily Blunt (a mulher do padeiro) e Chris Pine (o príncipe).
Assim como ocorre em Caminhos da floresta, diversos filmes recentes promovem releituras contemporâneas de personagens de contos de fadas e também de histórias infantojuvenis clássicas. Confira alguns exemplos:
Versão feita para capturar o público adolescente. Hilary Duff (que fez os seriados de TV Lizzie McGuire e Gossip Girl, além da versão para cinema do primeiro, Lizzie McGuire: um sonho popstar) interpreta uma jovem maltratada pela madrasta e que encontra seu “príncipe” (Chad Michael Murray) pela internet, sem saber que já o conhece.
Habituais parceiros em filmes como Edward mãos de tesoura (1990), Ed Wood (1994), A lenda do cavaleiro sem cabeça (1999) e A fantástica fábrica de chocolate (2005), o diretor Tim Burton e o ator Johnny Depp dão nova roupagem às aventuras da personagem criada por Lewis Carroll (interpretada por Mia Wasikowska).
Kristen Stewart (da franquia Crepúsculo) faz o papel de Branca de Neve, enquanto Chris Hemsworth (Thor) interpreta o seu caçador – que, em uma variação substancial do que ocorre no conto de fadas, acaba por se tornar não apenas o protetor da jovem, mas também uma espécie de mentor em sua batalha contra a rainha má.
A atriz Julia Roberts empresta seu prestígio de estrela a essa versão da história de Branca de Neve (interpretada por Lily Collins) que enfatiza a luta pelo poder no reino depois da morte do marido da vilã. Dirigido por Tarsem Singh, que assinou comerciais e também vídeos musicais de artistas como R.E.M., Vanessa Paradis e Susanne Vega.
Nesta adaptação de A bela adormecida produzida pela Disney, as luzes vão para a bruxa Malévola (interpretada por Angelina Jolie, também coprodutora do filme). A perspectiva apresenta explicações razoáveis para o comportamento da vilã e possibilita um caminho de redenção para a personagem, em chave feminista e politicamente correta.