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Arte e Cultura

Daniel Munduruku resgata histórias de etnias indígenas brasileiras

Vozes ancestrais – dez contos indígenas reúne narrativas com elementos capazes de dar sentido à vida coletiva

Publicado em 27/03/2017

por Rubem Barros

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Vozes ancestrais – dez contos indígenas reúne narrativas com elementos capazes de dar sentido à vida coletiva

Foto: Renato Soares/Pulsar

A intensidade e a quantidade de mudanças ocorridas na Terra nos últimos 200 anos são de tal monta que hoje os cientistas já consideram que estamos em uma nova era, o antropoceno. Ou seja, a ação humana já se faz presente no tempo geológico, o tempo de transformação das rochas terrestres. Essa ideia foi ventilada pela primeira vez pelo químico holandês Paul Crutzen, premiado com o Nobel em 1995 por seus estudos sobre como a atividade humana modificou a composição da atmosfera (em função de alterações na camada de ozônio).

Pois bem. De forma oposta a esse tipo de ação que modifica o espaço e acelera nossas ações no tempo, coisas tão típicas da modernidade, o que remanesce das culturas indígenas nos mostra uma relação totalmente diversa em relação a essas variáveis tão importantes para a vida.

É o que mostra o livro Vozes ancestrais – dez contos indígenas (FTD), do escritor Daniel Munduruku, nome já consagrado no universo da literatura infantojuvenil e o mais prolífico autor de obras sobre as diversas culturas dos índios brasileiros.

Nesta sua nova obra, Munduruku reúne pequenos contos e mitos de diferentes nações indígenas espalhadas por todo o território brasileiro, muitas delas hoje com poucos remanescentes.

Vozes ancestrais – dez contos indígenas, de Daniel Munduruku (FTD, 80 páginas, R$ 46)

Vozes ancestrais – dez contos indígenas, de Daniel Munduruku (FTD, 80 páginas, R$ 46)

Nessas histórias, os mitos fundadores, a ideia de um tempo longo e de um espaço a ser descoberto e respeitado estão sempre presentes. São esses os elementos capazes de nos ensinar e dar sentido à vida coletiva. Seja na narrativa que revela astúcia e esperteza, como é O macaco e a onça, do povo Kadiwéu, do Mato Grosso do Sul, seja na lenda da conquista da harmonia por meio da criação de dois bonecos irmãos que se tornam homens para levar a seu povo características complementares (A origem das marcas, do povo Kaingang, do Sul e Sudeste do Brasil), a ciência nas relações com tempo e espaço permeia os relatos.

E, indício de que o mundo contemporâneo não deixa de bater às portas dos povos indígenas, a narrativa não deixa de revelar que também nesse universo os tempos estão se acelerando e encurtando. É o que transparece no ritual de A festa da moça nova, dos Tikuna Magüta, do Amazonas. Nele, um rito de passagem marca a transformação da menina em mulher. Para que se dê a passagem, a moça tem de se isolar por um tempo em que manterá contato apenas com a mãe, período durante o qual tecerá o tucum, um tipo de bolsa a ser entregue à mãe ou outra pessoa que a tenha acompanhado no lugar dela nesse tempo. Depois dessa fase de isolamento, uma festa irá selar a passagem. O detalhe: antes, esse período de resguardo se alongava por até um ano. Agora, está restrito a um mês. Para os nossos olhos de cá fora, parece justo. Mas o que significará isso para os deuses?

Autor

Rubem Barros


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