NOTÍCIA
Dentro de sala, atividades online; em casa, encontros sincrônicos. Fusão das modalidades é uma tendência
Publicado em 05/12/2017
As fronteiras das modalidades presencial e a distância se confundem em alguns cursos e disciplinas do ensino superior que adotam o chamado ensino híbrido.
A nomenclatura pode variar – blended, flex e semipresencial são outros nomes usados–, bem como as metodologias empregadas e o tempo dispensado para cada uma delas. Mas o fundamento principal é constante: os conteúdos e as atividades são trabalhados de forma integrada e bem planejada para que os alunos possam transitar entre os dois universos e extrair o melhor de cada um deles.
O fim da dicotomia entre as duas modalidades é uma tendência – e também um desafio para o setor. “O ensino a distância (EAD) é uma forma de aprendizagem, mas se o curso exige estágio presencial, o estágio naturalmente deverá ser cumprido. E se tem disciplina que requer o contato com pacientes, a aula terá presencialidade”, esclarece Fredric Litto, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). Mas, com o avanço da tecnologia, muitas das atividades que antes teriam de ser presenciais hoje podem ser substituídas por simulações, pontua.
Atualmente, a regulamentação estabelece o limite de 20% de atividades a distância em cursos presenciais, o que leva instituições a buscar o credenciamento como EAD para trabalhar com cargas a distância acima dessa.
Durante o 23º Congresso Internacional Abed de Educação a Distância (Ciaed), Henrique Sartori, secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) do MEC, pediu ousadia e experimentação para as instituições, apesar do limite legal. “As modalidades vão convergir mais ainda. Entendemos que é um processo que não tem volta. É como flecha lançada”, afirmou.
A partir de 2018, a Unicesumar oferecerá duas graduações no modelo híbrido: em Arquitetura e Engenharia, todas com cinco anos de formação. A semana de aula foi estruturada para seis dias de atividades, sendo três dias de autoestudo, um dia de aula ao vivo (transmitidas via streaming live) e dois dias de encontro presencial no polo ou de prática laboratorial. “Temos de criar ambientes prazerosos e estimuladores para motivar o aluno a estudar. A melhor metodologia é aquela que leva o aluno a estudar”, diz o reitor Unicesumar, Wilson de Matos Silva Filho.
Embora oficialmente sejam cursos a distância, todas as atividades presenciais terão controle de frequência, exigindo-se o mínimo de 60% de participação. O ano letivo será dividido em quatro módulos, com duas disciplinas por módulo.
“Em todas as disciplinas, haverá integração entre o presencial e a distância e o uso de metodologias ativas. Mesmo nas mais teóricas, teremos um debate, um estudo de caso, por exemplo”, explica Kátia Coelho, diretora pedagógica da universidade.
Apesar de ter encontros presenciais menos frequentes, apenas uma vez por semana, os cursos chamados de semipresenciais na Universidade Cruzeiro do Sul também podem ser classificados como híbridos.
“É uma tendência porque faz as aulas ficarem mais ativas, flexíveis. A parte on-line e a presencial são conectadas, oferecendo uma experiência integrada”, afirma Lidiane Moutinho, professora e coordenadora de polos. O modelo ainda é classificado por Lidiane como um embrião, oferecido em poucas localidades e com apenas 3 mil alunos matriculados.
Os encontros presenciais se iniciam com uma teleaula expositiva, transmitida em tempo real da sede.
O professor não repete conteúdos já passados durante a semana, mas faz uma ligação entre tudo que foi estudado.
Estudantes em todos os polos podem enviar perguntas e, em um período reservado, trocar experiências e fazer atividades em grupo.
O professor acompanha a realização dessas atividades e faz uma avaliação ao final do dia. A presença nesses encontros não é obrigatória – a aula é gravada e fica disponível posteriormente. Ainda assim, a frequência é alta, garante Lidiane. “Muitas vezes o estudante que opta pelo EAD gostaria de um curso presencial, mas ou não pode ir à faculdade todos os dias ou não pode pagar.”
A tendência é oferecer ao aluno uma espécie de “cardápio de presencialidade”. Entre o presencial e o EAD, a Universidade Positivo oferece duas opções. Há cursos semipresenciais, com encontros quinzenais, e os chamados flex, com três encontros presenciais por semana.
Atualmente há dois cursos flex (Administração e Ciências Contábeis) e sete semipresenciais: Educação Física, Gastronomia, Biomedicina, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Estética, Pedagogia e Engenharia de Produção.
Esse número deve crescer em breve, com mais ofertas nas áreas da saúde e engenharias. “Não pode mais ter a turma do presencial e a turma do EAD. É o mesmo curso, só muda a forma de entrega”, afirma Carlos Longo, pró-reitor acadêmico da Universidade Positivo.
A Positivo também tem a meta de incluir disciplinas híbridas em todos os cursos presenciais até 2020. Para implantar a mudança com sucesso, há um trabalho extra de convencimento do aluno que se matriculou nos cursos presenciais. De forma geral, ele resiste a propostas que envolvam mais autonomia.
“Desde cedo na trajetória escolar, os alunos estudam não para aprender, mas para passar na prova, passar de ano, passar no vestibular”, analisa Longo. Mas o esforço para a mudança, defende, vale a pena. “No final do curso ele vai ser um profissional mais participativo, criativo e dinâmico.”
Algumas vezes, a adoção de metodologias de EAD não é uma decisão estratégica da instituição de ensino, mas uma proposta inovadora que parte do próprio corpo docente. Por iniciativa própria, a professora da Universidade Vale do Rio Doce (Univale) Cristiane Netto transformou sua disciplina no curso presencial de pedagogia em uma disciplina híbrida, com metade da carga presencial, metade EAD. Ela apresentou a proposta à coordenação, que aprovou a mudança. “Pela avaliação dos estudantes, eles se sentiram confortáveis e acreditaram que a metodologia promoveu aprendizagem”, afirma Cristiane.
As aulas presenciais, em vez de semanais, passaram a ser quinzenais. Na semana do EAD, a proposta de trabalho era incluída no Ambiente Virtual de Aprendizagem, na maioria das vezes uma tarefa prática, com base em uma série de orientações teóricas, como a produção de uma videoaula. “Eles se dedicavam muito, virava quase uma competição de qual vídeo ficaria melhor”, relata a professora. Apesar da receptividade de alunos e coordenação, houve também um desafio para a gestão acadêmica: a Univale usa um sistema de ponto eletrônico e foi preciso estabelecer novas normas de remuneração para os professores. Esses e outros ajustes foram feitos, pois, na avaliação geral, o modelo é uma aposta para a instituição se fortalecer.