Colunista

A promessa do ensino híbrido

Criadas inicialmente para a educação a distância, as plataformas digitais de aprendizagem revelam potencial para expandir a  modalidade híbrida nas instituições de ensino superior. Interação com o professor, por outro lado, continua imprescindível

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As plataformas digitais de aprendizagem começaram a surgir na virada do milênio e contribuíram para a criação e a expansão de cursos a distância. Mas, se num primeiro momento o e-learning pretendia superar limitações de espaço e horário e até reduzir custos, hoje muitos veem os recursos digitais como uma possibilidade de potencializar a aprendizagem dos alunos – inclusive na modalidade presencial.

“As plataformas facilitam o compartilhamento de conteúdo e o acompanhamento do aluno. Esses recursos foram desenvolvidos para a educação a distância, mas são perfeitamente aplicáveis ao ensino presencial”, afirma Betina von Staa, doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC-SP e diretora de desenvolvimento de negócios para a América Latina da D2L, fabricante da plataforma Brightspace. “Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos mostra que a modalidade híbrida – que combina recursos das modalidades presencial e a distância – tem resultados superiores.” Betina se refere a um levantamento que selecionou e analisou 45 pesquisas sobre o tema publicadas entre 1996 e 2008. De 11 estudos que mostravam vantagens significativas da EAD, nove apresentavam uma abordagem de ensino híbrido.

“A forma tradicional de ensinar não considera as diferenças dos estudantes e tem levado a uma defasagem muito grande nos resultados esperados”, afirma Lilian Bacich, consultora do Instituto Península e organizadora do livro Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação (Penso, 2015). Por outro lado, Lilian lembra que os cursos de EAD têm uma evasão significativa, pois muitos alunos sentem falta de pertencer a um grupo.

Algumas IES já têm ofertado a seus alunos o modelo híbrido. É o caso da Anima Educação, que em 2015 criou a modalidade semipresencial em seis cursos. Da carga horária total, 40% são cumpridos de forma presencial e 60% a distância. “Essa modalidade proporciona uma formação mais contemporânea e desenvolve questões relacionadas à autonomia de estudo e à administração do tempo”, opina Arthur Sperandeo, vice-presidente de ensino a distância da Anima Educação.

A instituição optou pela plataforma Moodle, pela facilidade de desenvolver customizações. Um dos recursos oferecidos são videoaulas que funcionam como teleconferências entre professor e alunos antes das provas. Para Rafael Tolentino, estudante do curso de processos gerenciais na modalidade semi presencial no Centro Universitário UNA, do grupo Anima, a ferramenta ajuda na preparação para as provas e deixa os alunos menos inibidos para tirar dúvidas.

Dados e interação

Segundo Betina von Staa, no espaço virtual o professor percebe com mais clareza quem está participando ou não, além de ter mais ferramentas para desenvolver a avaliação continuada. Pavlos Dias, gerente nacional de operações da Blackboard, empresa de soluções de tecnologia e inovação para o ensino, destaca que o big data – termo usado para descrever o uso de informações estruturadas – é uma das tendências para os próximos anos. “Com o aumento do poder de processamento e qualidade da tecnologia, teremos cada vez mais dados disponíveis, além de ferramentas para analisar e tirar informações relevantes para tomadas de decisão”, analisa.

Na Kroton Educacional, o uso de tecnologias tem guiado o processo de personalização do ensino. “Usamos o analytics para entender melhor as necessidades de cada aluno e pensar a experiência de aprendizagem sob o ponto de vista do usuário”, explica Roberto Valério, vice-presidente de EAD e Polos da Kroton. A instituição trabalha com três plataformas diferentes de ensino personalizado: a americana Knewton e as brasileiras Geekie e Studiare. O gestor ressalta que, por mais que a tecnologia digital seja adotada como um meio de transmissão de conteúdo, é importante que debates e problematizações sejam feitos pelos professores. “A interação humana é necessária. Entendo que a tecnologia veio para complementar”, afirma Valério.

Integrar as tecnologias digitais na sala de aula é, segundo Lilian Bacich, um processo que não ocorre do dia para a noite e que não pode ser considerado a solução dos problemas educacionais. O uso das tecnologias digitais não deve ser um fim em si mesmo. “A ideia central é que educadores e estudantes ensinem e aprendam em tempos e locais variados, contando com as tecnologias digitais como aliadas nesse processo. Porém, nessa mentalidade de integração das tecnologias digitais, qualquer ferramenta utilizada será uma aliada do professor, contando com ele e suas estratégias de avaliação e condução dos conteúdos para surtir efeito. Não existe o que substitua o papel do professor no ensino”, pondera Lilian.

Por: | 19/10/2015


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