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Carreira

Privilégio masculino

O discurso masculino fundamentou a construção histórica da instituição escolar no Brasil; quem teve de comprovar sua competência inicialmente foram as mulheres

Publicado em 10/09/2012

por Camila Ploennes







JArquivo Lourenço Filho (LF) foto 001 - CPDOC/FGV
O educador Lourenço Filho (sentado ao centro) e outros na Escola Normal de Piracicaba, em 1922

A pouca presença de professores homens nas salas de aula brasileiras pode ser explicada historicamente pelo privilégio que a educação proporciona ao sexo masculino. Segundo Frederico Assis Cardoso, da UFMG, no Brasil, o trabalho docente e as instituições educativas e formadoras de professores e professoras sempre estabeleceram um dramático jogo que mantém no centro de suas engrenagens as mulheres – como alunas, funcionárias, mães e professoras, embora seja vantajoso aos homens.


“Mesmo que a maioria do corpo docente seja composta por mulheres, a instituição escolar ainda é um espaço com homens. Mais do que isso, ela foi ‘imaginada’ por homens e constituída, inicialmente, apenas para os homens”, enfatiza o historiador.


A regulamentação da docência ocorreu no Brasil no século 19 com a Escola Normal, momento em que a modernização do país absorveu a mão de obra masculina para outros espaços sociais, possibilitando às mulheres o acesso à escola como espaço profissional. A partir das primeiras décadas do século 20, o surgimento da rede pública de ensino passou a convocar as mulheres ao trabalho no curso primário. Para tal, foi necessário transformar a percepção social em relação à competência feminina para a função. “Documentos anteriores a essa época mostram toda a discussão de que as mulheres não eram capazes  para o exercício do magistério. Então, como mudar isso de uma hora para outra? Justamente usando o discurso de que elas eram mais maternais”, explica Jane Felipe de Souza, da UFRGS.


Na década de 1920, a maior parte dos docentes das séries iniciais, ao menos nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, era de mulheres. Segundo os registros levantados pela professora Marília Pinto de Carvalho, da Feusp, em Vozes masculinas numa profissão feminina: o que têm a dizer os professores, no começo do século 20, o discurso hegemônico passou a ser aquele que associa o ensino primário a características categorizadas como femininas, como amor às crianças, abnegação e delicadeza. Não enfatizava mais a escola que instrui pelo intelecto, mas a formação como “moralização, civilização, disciplina e higiene”.


A partir do final da década de 1960, a participação feminina docente no antigo curso primário chegava a 93,4%. E da década de 1970 em diante a presença delas em cargos administrativos já era de 50% em São Paulo. A partir de então, o número de mulheres aumentou progressivamente tanto na sala de aula quanto em funções de gestão. Em 1998, de acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, somente 2,6% dos docentes de 1ª a 4ª série eram homens e no ano de 2002, as mulheres ocupavam 90,1% dos cargos de direção, coordenação e supervisão.


A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, é considerada um marco, ao menos na educação infantil. Segundo Joaquim Ramos, da PUC-MG, os municípios têm sido cobrados a ampliar o atendimento às crianças de 0 a 6 anos, o que leva algumas cidades à abertura de concursos públicos e contratações de professores.

Leia mais:
– Homens tentam ganhar espaço num ambiente historicamente feminino

– Na educação infantil, os homens têm de provar mais do que as mulheres suas competências e habilidades

– O medo da tarefa de alfabetizar pode explicar o pequeno número de homens no ensino fundamental

Autor

Camila Ploennes


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