NOTÍCIA
Os representantes de Ciro Gomes, Lula e Simone Tebet se reúnem em debate no 6° Congresso Internacional de Jornalismo de Educação
Publicado em 12/09/2022
Reginaldo Lopes, representante do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Rossieli Soares, representante da candidata Simone Tebet (MDB) e Nelson Marconi, representante do candidato Ciro Gomes (PDT) estiveram na manhã desta segunda-feira, 12 de setembro, em debate promovido pelo 6° Congresso Internacional de Jornalismo de Educação para discutir as propostas dos presidenciáveis para o setor. Convidado pelo congresso, o representante de Jair Bolsonaro (PL) não retornou até a realização do evento.
Durante a mesa, mediada pela jornalista Renata Cafardo, os representantes responderam qual estratégia de cada candidato para a recuperação na aprendizagem das crianças após os impactos da pandemia. Reginaldo Lopes afirma que Lula já assumiu o compromisso para a sua possível vitória e deverá se reunir com todos os governadores ainda na primeira semana de mandato. “Ele quer convocar todos os governadores para construir um plano emergencial para recuperação, enfrentar a defasagem do aprendizado”, diz. Reginaldo aponta que, atualmente, a educação (infantil e integral) sofre um subfinanciamento. “Então de fato o governo federal terá que assumir a responsabilidade de consolidar um plano emergencial. O orçamento de 2023 é uma vergonha, tem corte orçamentário em todas as etapas educacionais, então nós precisamos atuar fortemente com a presença de mais investimentos por parte da União”, avalia.
Representante da candidata Simone Tebet e ex-ministro da Educação (2018), Rossieli Soares critica: “o que tem acontecido com o Ministério da Educação é um desmonte absoluto. Nós estamos realmente necessitando de um processo de liderança do Ministério da Educação. Por isso, a [candidata a] presidente Simone Tebet vai criar uma secretaria focada na primeira infância, nas crianças e também na adolescência. Haja vista que a pior transição que nós estamos tendo é na fase da adolescência”, conta.
Também presente na mediação, o jornalista Antônio Gois questiona se há uma meta concreta em que se possa acompanhar os gastos públicos com o setor, além da promoção de uma melhora na eficiência dos mesmos. Nelson Marconi, representante de Ciro Gomes, assegura que é possível melhorar, mas indica a necessidade de um aumento no teto de gastos com educação. “Por que a gente precisa aumentar o gasto? Porque a gente quer fazer escola em tempo integral, a gente quer fazer aula de reforço, a gente quer buscar os alunos em casa e dar transporte para eles, quer dar merenda, capacitação, oportunidade de estágio. Tudo isso significa que nós vamos precisar de mais recursos. Então, ainda que exista espaço para aumentar a eficiência, a questão do aumento do gasto é essencial”, salienta.
Rossieli sinaliza a importância de se trabalhar com evidências. Para ele, “o Ministério da Educação e o governo brasileiro precisam ser um indutor daquilo que funciona”. O ex-ministro também chama a atenção para a pauta da saúde mental. “Não tem como a gente olhar só para o desenvolvimento cognitivo. Precisamos olhar para o desenvolvimento emocional de uma geração inteira, esse será um dos grandes desafios de recuperação para os próximos anos. Era um problema anterior à pandemia e será um problema ainda maior, isso requer muito mais cuidado e investimento”, explica.
Com o aumento no número de crianças que não aprenderam a ler e a escrever na idade adequada, políticas específicas para a alfabetização carecem de um espaço com destaque nas demandas para o setor. Nelson ressalta que o atraso compromete todo o restante do ciclo escolar, contribuindo para o cenário de evasão. “O esforço inicial que a gente tem fazer nessa questão da alfabetização, na idade certa, é fundamental. Isso sim é muito mais importante do que colocar um programa definindo um método específico”, destaca o representante.
Reginaldo Lopes realça a indispensabilidade de uma escola aberta e democrática, que respeite o projeto pedagógico da instituição. Ele aponta o financiamento como o grande desafio para tal. “O Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) acertou em propor a dupla matrícula para o ensino profissional tecnológico. Também é necessário, em minha opinião, a dupla matrícula para a escola infantil e para as séries iniciais, mas não retirando do Fundeb”, pontua. “[retirar do fundo] estaria comprometendo todas as outras etapas educacionais. Quem terá que financiar é o governo federal. E é evidente que voltamos na luta por retomar o uso do do fundo social do pré-sal para a educação. Nós temos que enfrentar os royalties do petróleo. Nós temos que convocar o novo PNE 2025-2035 no primeiro ano do governo 2023 e perseguir a meta de 10% do PIB”, acentua.
Ao discorrer sobre a falta de apoio do Ministério da Educação com as comunidades indígenas e em relação à chegada de crianças e adolescentes refugiados da Venezuela em Roraima, o representante de Ciro Gomes considera: “precisa primeiro uma formação que seja específica e respeite as peculiaridades desses”. Nelson enfatiza a importância de se respeitar a diversidade cultural na aplicação dos estudos para cada grupo.
“Quando a gente fala em aumentar o recursos para a educação, isso significa para o país inteiro. Quando falamos em criar um mecanismo instintivo para que os estados e municípios possam aderir aquelas regras que nós estamos colocando, terá uma atenção especial para a região amazônica, a região que mais tem sofrido em termos de indicadores de pobreza, de falta de escolaridade, de criminalidade. Olhar hoje para Amazônia não é só na questão da sustentabilidade, que é essencial, mas temos outros problemas que são os indicadores sociais se deteriorando muito rapidamente”, frisa.
Rossieli Soares garante que as cotas serão mantidas em um possível mandato de Simone Tebet. No entanto, o representante indica a existência de “ajustes necessários”. “Começa pelo ensino médio. 26% dos alunos não terminam o ensino e grande parte desses alunos são justamente aquele público que mais precisa. Dentre esses, a maioria são negros e negras. Nós precisamos corrigir porque esse jovem não está tendo direito à cota mesmo existindo essa política”, analisa.
O ex-ministro da educação também ressalta pontos que devem ser revistos nas políticas de permanência dos estudantes nas instituições. “Não é só colocar na universidade, mas um incentivo para permanência. Isso foi desmontado em grande parte, tudo isso tem diminuído absurdamente”, critica.
Ao falar sobre o atual cenário econômico do país, Reginaldo Lopes assenti a necessidade de se colocar mais recursos para garantir o reajuste da bolsa de mestrado e doutorado e, consequentemente, garantir o maior número de acadêmicos nos cursos.
“É bom lembrar que o Brasil é um país dependente de componentes para sua indústria, ele precisa fazer uma substituição de componentes importados por componentes nacionais. Não adianta acreditar que será apenas o setor privado que investirá em ciência, tecnologia e produção. A produção, geralmente primária, de qualquer avanço de um país, do ponto de vista do conhecimento tecnológico, é credenciada pelo poder público”, defende.
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