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Ou a arte de educar por mágicas
Publicado em 10/09/2011
Vivia num país de céu cor de anil um rei que muito amava o seu povo e queria que ele fosse inteligente. A prova de que não era inteligente estava no fato de que aquele povo não sabia e não gostava de ler. O rei passava dias e noites pensando: "Que fazer para que meu povo seja inteligente?". E, como não sabia o que fazer para isso, ficou triste.
Viviam naquele país dois espertalhões, chapeleiros por profissão. Ficaram sabendo da tristeza do rei. E maquinaram um plano para ganhar dinheiro às custas dela. Dirigiram-se ao palácio e anunciaram:
– Fizemos doutoramentos no exterior sobre a arte de tornar o povo inteligente.
O rei ficou felicíssimo: Por favor, expliquem essa ciência – disse.
– Majestade, o que torna uma pessoa inteligente? Com essa pergunta, abriram um álbum de fotografias.
– Veja. Estão aqui as pessoas mais inteligentes da história. Em primeiro lugar, Merlin, o maior dos magos. Note que tem um chapéu de feiticeiro na cabeça.
Viraram a página e lá estavam as fotos dos doutores de Oxford e Harvard. Todos eles de chapéu na cabeça.
– Veja agora o maior general de todos os tempos, Napoleão Bonaparte. Sabe Vossa Excelência a razão por que ele perdeu a batalha de Waterloo? Um espião inglês infiltrado lhe roubou o chapéu. Sem chapéu, não pôde competir com Wellington, que usava chapéu. E veja agora os grandes gênios da humanidade: Sigmund Freud, Winston Churchill, Santos Dummont, todos com chapéus na cabeça. Os chapéus dão inteligência. Propomos, então, um programa nacional: "Chapéus para todos". Por pura coincidência somos chapeleiros e teremos prazer em ajudá-lo na sua cruzada contra a burrice. Montaremos muitas fábricas e lojas de chapéus..
O rei ficou entusiasmadíssimo e lançou a campanha: "Chapéus para todos". Os outdoors se encheram de slogans: "Prepare-se para o mercado de trabalho: use um chapéu"; "Garanta um futuro para o seu filho: dê-lhe um chapéu!".
A indústria chapeleira progrediu. Até as cidades mais pobres anunciavam com orgulho: "Também temos uma fábrica de chapéus…".
Agências internacionais, sabedoras da campanha "chapéus para todos", mediram os resultados dessa técnica pedagógica. Fizeram pesquisas para avaliar o efeito dos chapéus sobre os hábitos de leitura do povo. Mas o resultado foi desapontador. O número de chapéus na cabeça não era proporcional ao número de livros lidos. O rei ficou bravo. Mandou chamar os chapeleiros e pediu explicações.
– Senhores, o povo continua burro. O povo não lê…
Os espertalhões não se apertaram.
– Majestade, é que ainda não entramos na segunda fase do programa. Um chapéu não basta. Sobre o primeiro chapéu as pessoas terão de usar um pós-chapéu amarelo.
O rei acreditou. Tomou as providências para que todos pudessem ter pós-chapéus amarelos Daí para frente quem só usava o primeiro não valia nada. Para conseguir um emprego, era necessário usar os dois chapéus.
Mas nem assim o povo aprendeu a ler.
Aí os espertalhões explicaram ao rei que faltava o chapéu que realmente importava: o vermelho. O país ficou conhecido como o país dos chapéus. Todo mundo tinha chapéu. O resultado da última pesquisa internacional sobre os hábitos de leitura do povo do país dos enchapelados ainda não foi anunciado. Assim, ainda não se sabe sobre o efeito do chapéu pós-vermelho sobre os hábitos alimentares da inteligência do povo. Mas uma coisa já é sabida: de todos, os mais inteligentes são os chapeleiros…
Rubem Alves
Educador e escritor
rubem_alves@uol.com.br