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Para falar a mesma língua

Diferenciais oferecidos pela especialização levam escolas a adotar parcerias para oferecer ensino de idiomas a seus alunos

Publicado em 10/09/2011

por Rubem Barros

Vai longe o tempo em que alunos e famílias faziam vista grossa para a aplicação da "pedagogia circular" nas aulas de língua estrangeira dos ensinos fundamental e médio. Nessa prática, os alunos sempre recomeçavam do zero. Aqueles com real interesse de aprender eram obrigados a procurar institutos de idiomas.

Desde os anos 90, com o aprofundamento da internacionalização da economia, as línguas estrangeiras, em especial o inglês, passaram da condição de diferencial competitivo a conteúdo essencial na formação escolar. A pressão para que as escolas regulares oferecessem cursos de bom nível ganhou contornos de exigência para conquistar a matrícula não só de adolescentes, mas, em muitos casos, também de crianças da educação infantil.

Para atender a essa demanda, cada vez mais as escolas têm seguido um princípio caro às estratégias corporativas: o de centrar-se em suas áreas de especialidade e associar-se a terceiros para tarefas que fogem a seu foco principal de atuação.

O ensino de uma língua estrangeira não faz parte do foco principal de atuação de uma escola? Na prática, não. Um grande número de escolas praticava a tal "pedagogia circular" por deixar o professor de línguas meio à deriva, sem um coordenador específico para a área e sem integração com as outras disciplinas.

"Houve pouco ou nenhum desenvolvimento das disciplinas de línguas na educação formal, ao passo que sua importância aumentou tanto no âmbito acadêmico quanto no mercadológico", avalia Simira Molina, diretora de Operações da Skill, instituto que funciona em sistema de franquia e está associado a 196 instituições educacionais em todo o país. "Para as escolas, em vez de investir um tempo precioso na adoção de novas tecnologias, é mais vantajoso contratar um parceiro especializado, ganhando tempo e competitividade."

No caso da Skill, como no da maior parte dos institutos que mantêm franquias, as parcerias são fechadas com as unidades franqueadas mais próximas da escola, com apoio da coordenação central.

As parcerias têm dois modelos básicos: extra e intracurricular. No extracurricular, o instituto associado oferece, no espaço físico da escola, os mesmos cursos disponíveis em suas unidades. As maiores vantagens são, além da oferta de um ensino especializado, a segurança, o conforto e a praticidade para pais e alunos, que não precisam deslocar-se para outro local, e descontos que variam de 10% a 50% do preço praticado nos institutos. A redução é conseqüência de custos operacionais menores decorrentes da utilização do espaço escolar.

Como a Skill, o CNA está presente em todo o Brasil, porém trabalha apenas no modelo extracurricular. Tem parceria com 450 escolas e unidades montadas em 120 delas. "A vantagem é que mantemos a mesma carga horária que ministramos normalmente em nossos cursos de inglês e espanhol", explica Sílvio Montesanti, coordenador nacional de convênios e parcerias. "Nossa proposta não é só comercial: também se vincula à agenda cultural da escola, com participação conjunta em eventos e ações de responsabilidade social."

Retenção e conquista – No modo intracurricular, a entidade prestadora de serviço assume o ensino de língua estrangeira na escola, adaptando-se à proposta pedagógica aprovada pela instituição de ensino junto aos organismos competentes. Os professores podem ser contratados da escola ou do instituto.

"O intracurricular é um contrato mais difícil de fechar, mas tem crescido bastante nos últimos anos", diz Eliane Bandeira, gerente de marketing da Cultura Inglesa do Estado de São Paulo. "Levamos até um ano nas negociações dessa modalidade, enquanto as do extra duram de três a seis meses." No total, a instituição tem 33 parcerias no Estado
(27 extra e sete intracurriculares).

Para Eliane, as principais vantagens que a Cultura oferece são a oferta de professores especializados, o fato de a marca da entidade ser reconhecida e, no caso do intra, a operacionalização de todo o departamento de inglês da escola e a segmentação dos alunos por nível de conhecimento lingüístico. "Isso gera um diferencial na retenção e na conquista de novos alunos para a escola", completa.

A segmentação em níveis de conhecimento é um procedimento adotado pela Seven Idiomas desde que começou a trabalhar com escolas regulares, no final dos anos 90. Além de permitir maior evolução dos alunos, a medida serve para aferir o desempenho médio a partir do início da atuação do instituto junto a seus parceiros.
"Quando entramos num colégio, o nível geral dos alunos é o básico", diz Debora Schisler, sócia-diretora da Seven, que mantém convênios intracurriculares com oito escolas de São Paulo. "Após quatro anos, essa média sobe para o pré-intermediário."

O número de pais que recorrem a cursos de línguas fora da grade também diminui, segundo levantamentos feitos junto aos colégios. "Quando entramos, 60% dos pais pagam cursos de inglês para os filhos. Em dois anos, só 25% a 30% continuam pagando. Há um ganho pedagógico forte, pois 100% dos alunos têm a chance de sair do colégio falando inglês", avalia.

Sentimento de invasão – Como em toda prestação de serviços, alguns pontos críticos devem ser trabalhados para que a parceria dê certo. Um deles é ter clareza sobre a estrutura contratada. Para Sônia Cury, diretora pedagógica do Centro Britânico, outro instituto que trabalha nos dois modelos, o número de professores contratados e o fato de se dividir ou não a turma em níveis podem fazer toda a diferença.

"Quando não se divide a turma e a sala fica com muitos alunos, a parte oral não tem o mesmo desenvolvimento. Por isso, às vezes o extra propicia um desenvolvimento mais rápido", diz Sônia. Um ponto a se evitar é que se estabeleça um clima competitivo entre as coordenações do colégio e do instituto contratado. "É normal que haja um sentimento de invasão por parte da escola. A palavra-chave para dar certo é perseverança", acredita.

Para Marcos Polifeme, diretor de serviços pedagógicos do Yázigi Internexus (em torno de 120 associações com escolas em todo o Brasil), a experiência mostra que no modelo intracurricular o melhor é, sempre que possível, capacitar os professores da escola.

"Ensinar inglês ou espanhol em escolas de línguas é bem diferente de ensinar para alunos de ensino fundamental ou médio. As escolas preferem que preparemos os professores deles, que já estão inseridos no ambiente escolar", afirma Polifeme.  "A questão não é só aprender a língua", completa Sandra Baumel Durazzo, da Target Idiomas, entidade que nasceu para atender o colégio onde ela e a sócia davam aula, a Escola da Vila. "Na escola, o aluno vai ser formado como cidadão."

Outra coisa que as escolas não devem esperar dos parceiros é redução de custos em função da contratação do prestador de serviços. Às vezes, dependendo do que é ofertado, o custo pode ser maior. A questão-chave é verificar se o retorno em termos de imagem e satisfação da clientela compensa o investimento.

Vitória diplomática – Depois do inglês, os próximos anos irão marcar a corrida das escolas regulares para incorporar cursos de espanhol em sua grade. Além das promessas de integração continental (Mercosul) e dos crescentes investimentos de empresas espanholas no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, em agosto de 2005, uma lei que obriga as escolas de ensino médio a oferecer o ensino de espanhol como matéria optativa. Os colégios têm até 2010 para implantar a disciplina. O texto prevê que as escolas privadas podem utilizar "diferentes estratégias" para cumprir a lei, o que inclui as parcerias.

A medida, considerada uma vitória diplomática pelos espanhóis, irá, num primeiro momento, provocar grande corrida aos cursos de letras e de especialização na disciplina. Hoje, o espanhol já é o segundo idioma mais procurado na Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, em cujo curso ingressam 120 novos alunos a cada ano, ao mesmo tempo em que outros 100 são formados.

Para que o mercado seja suprido em qualidade e quantidade, no entanto, será preciso tempo. "O governo muitas vezes estabelece diretrizes sem preparar a base. Por outro lado, talvez não fosse possível prepará-la sem a lei. O fato é que os professores de espanhol têm, em geral, uma carga de formação acadêmica muito baixa. Será preciso capacitá-los", diz Polifeme.

Segundo ele, o Yázigi passou a oferecer o espanhol no mesmo formato do Education Center já existente para o inglês, mas ainda não fechou parcerias. A procura por informações aumentou desde o ano passado. Para Debora, muitos colégios já oferecem espanhol, mas não existe a preocupação de que os alunos terminem o curso falando a língua, como no inglês. A necessidade da utilização profissional e a pressão das famílias, mais uma vez, devem ser os fatores a contribuir para a elevação do nível médio dos cursos oferecidos pelas escolas.

Em sintonia – Diz o senso comum que parceria é como casamento, depende de ajustes e compartilhamento de idéias e pontos de vista. Por sorte, também no campo educacional não faz sentido persistir no erro: se uma associação é frustrada ou se esvazia, que se parta para a próxima. 

Desde a criação de sua unidade do ensino fundamental, no bairro da Casa Verde, zona norte de São Paulo, a escola Projeto Vida experimentou diversos formatos de funcionamento para sua área de línguas. Há quatro anos, quando começou a trabalhar com a Target Idiomas, parece ter encontrado a sintonia com a identidade da escola.

Fundada há 14 anos com classes de educação infantil, em 1997 a escola decidiu ampliar o atendimento e montou a nova unidade. Preocupada em garantir o bom nível do ensino de línguas estrangeiras (inglês e espanhol), a direção de início optou por vincular a supervisão da área à coordenação de Língua Portuguesa.

A opção esbarrou nas diferenças do ensino da língua materna e dos idiomas estrangeiros. Posteriormente, a escola buscou adquirir material didático que orientasse as aulas e não encontrou nada que satisfizesse.

"Chegamos a um ponto em que o planejamento era feito muito mais pelo professor de línguas do que pela escola", relembra Mônica Padroni, diretora pedagógica da Projeto Vida. "Resolvemos, então, contratar uma coordenadora de inglês. Mas ter uma única pessoa para coordenar cursos para crianças de 4 a 14 anos se mostrou inviável."
Veio a escolha do primeiro instituto de línguas para trabalhar em regime de parceria. "Os princípios educacionais pareciam convergentes, mas eles não se sentiam parte da escola. Havia muita troca de professores e eles não participavam das reuniões", conta Mônica.

A parceria que mantém com a Escola da Vila, que tem um centro de estudos voltado à difusão de experiências na educação, ajudou a Projeto Vida a encontrar a solução. Trocou o instituto de línguas de porte maior por um pequeno, que construiu um formato de trabalho em conjunto com a escola.

Constituída por professoras de inglês da própria Escola da Vila que se associaram para montar uma escola de línguas para prestar serviços à instituição, a Target Idiomas, segundo Mônica, teve sempre uma postura mais aberta para estabelecer um intercâmbio entre as suas propostas e a identidade da escola.

Dois exemplos: a Target até então trabalhava só com professores próprios, mas aceitou capacitar os profissionais que já estavam na escola e integrá-los ao projeto. Formada por professoras de inglês, a empresa também introduziu o espanhol em seu rol de serviços, a pedido da Projeto Vida. Hoje, a escola ministra aulas de espanhol para 5a e 6a séries e de inglês para todas as classes da educação infantil à 8a série.

"A causa central de nossa opção é a qualidade pedagógica. Em termos de custo, gastamos mais do que se tivéssemos uma ou mesmo duas coordenadoras próprias. Mas os profissionais da Target têm mais foco, são muito atualizados e escutam a escola. Não é apenas um curso de inglês dentro do currículo da escola", define Mônica.

Modelo instrumental – Outra escola que teve de mudar de parceiro foi o Colégio Integrado Jaó, de Goiânia (GO), porém por motivo diverso. A escola oferecia, por meio de um instituto parceiro, cursos extracurriculares de línguas em suas instalações. A certa altura, sentiu necessidade de uma instituição disposta a investir mais e que tivesse estrutura operacional para também operar na unidade da escola em Brasília.

"Nas aulas curriculares, pelo tamanho e heterogeneidade das turmas, trabalhamos o modelo instrumental, que valoriza mais os textos e o vocabulário", explica Marcos Tucano, professor responsável pela interface com o CNA, empresa que instalou no ano passado uma de suas unidades de Language Center no colégio.

A escola deu preferência à contratação de um parceiro especializado para atender à demanda de um aprendizado mais aprofundado por parte de alunos e famílias em função da experiência.

"Buscamos informações nas mais diversas franquias, assistimos aulas demonstrativas, conversamos com pais e com alunos que estudavam nessas escolas. Analisamos a atuação mercadológica, o marketing, o perfil da marca junto ao público-alvo. O CNA foi o mais interessado em ocupar novos espaços", afirma Tucano.

Autor

Rubem Barros


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