Apesar da difusão do termo competências e habilidades, colocá-lo em prática na sala de aula ainda é um desafio para muitos professores
Publicado em 07/05/2012
Com a criação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), em 1990, o sistema educacional brasileiro começou a ganhar novos contornos. O chamado “conteudismo” saiu de cena para dar lugar aos conceitos de competências e habilidades. A ideia trazida por eles era simples: contextualizar os conteúdos dados em salas de aula de forma que os alunos aplicassem os conhecimentos adquiridos em seu cotidiano fora da escola. As competências e habilidades embasaram não só a matriz do Saeb, como a das outras avaliações que vieram a seguir, como a Prova Brasil e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Como indicou a reportagem “Vazio Conceitual” (edição 175), duas décadas depois, ambos os termos não se consolidaram no ambiente escolar. Para Mônica Waldhelm, doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), um dos motivos que justificam tal ausência é a falta de clareza da própria matriz do Enem, que liga conteúdos disciplinares a competências e habilidades, agravando a compreensão e aplicação desses conceitos. “Embora muitas escolas e professores afirmem que seus currículos e planos de ensino têm como eixo a construção de competências, constata-se que ainda há muita confusão em torno deste conceito”, explica a educadora.
Para compreender melhor, a matriz do Enem é composta por cinco eixos cognitivos – dominar linguagens, compreender fenômenos, enfrentar situações-problema, construir argumentação e elaborar propostas – que podem ser considerados competências de ordem mais geral, já que se aplicam a contextos diversos. Para cada área de conhecimento são determinadas algumas competências que se desdobram em diferentes habilidades. “Matemática e suas Tecnologias”, por exemplo, exige sete competências e 30 habilidades distintas. “O que distingue uma competência de uma habilidade, grosso modo, é que a primeira é de caráter geral, enquanto a segunda relaciona-se mais diretamente a uma situação específica”, esclarece Mônica.
Segundo a educadora, podemos exemplificar da seguinte forma: a competência de construir argumentação é exigida e mobilizada em diversas situações. Dependendo da área, ela utilizará conceitos específicos. Para argumentar com propriedade contra ou a favor do direito ao aborto em casos de fetos anencefálicos, por exemplo, é preciso dominar minimamente conceitos de anatomia, legislação e bioética. “O limite conceitual entre o saber e o saber-fazer é tênue e contextual. O mais importante é perceber que não se constroem competências no vazio conceitual, mas também nenhum conceito por si só faz alguém desenvolver uma competência”, diz.
Articular competências, habilidades e conteúdos exige investimento na formação continuada docente e a troca de experiências com colegas. “E não ter medo de investir em situações diversificadas de aprendizagem, ainda que sejam trabalhados menos conceitos no ano letivo”, aponta Mônica. Acompanhe ao longo da semana a experiência de quatro escolas que buscam colocar em prática atividades com foco no desenvolvimento de competências e habilidades. As atividades foram realizadas a partir da matriz de referência do Enem.
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