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NOTÍCIA
Por que preservar as instituições de ensino das demandas imediatas do mundo
Publicado em 02/04/2015
Pixaby
Guardo na memória a vívida recordação de uma imagem – presente na obra Cuidado, Escola! – na qual um grupo de alunos, encerrados em uma sala de aula, ouviam a lição de um professor enquanto um eclipse solar ocorria do lado de fora. O curto texto que a acompanhava criticava duramente a cisão entre a escola e a vida que pulsava a seu redor.
A ideia de fundir a escola com a vida e o mundo ganhou corpo e se difundiu para além das discussões acadêmicas. Passou a habitar as telas de cinema, as páginas dos jornais e as falas dos professores, tornando-se, assim, mais um dos clichês que embalam os discursos educacionais. Como todo clichê, ela nasceu de uma preocupação genuína e legítima: não faz sentido perpetuar conteúdos e práticas escolares que não ofereçam uma compreensão do mundo em que vivemos. A escola não poderia ter por modelo uma vida monástica cujo sentido radicaria em algum lugar que se situaria para além de nossa experiência mundana e vital. Como todo clichê, no entanto, essa ideia, expressa em palavras de ordem, acabou por simplificar o que, por sua natureza, é bastante complexo.
Se é verdade que a escola existe em conexão com um mundo ao qual ela deve conferir compreensão e inteligibilidade, não é menos verdadeiro que sua existência deve implicar um certo grau de suspensão em relação à ordem exterior e às demandas imediatas do mundo. Como nos ensinam Masschelein e Simons, em sua obra Em defesa da escola, a própria ideia de um tempo e um espaço escolar implica a noção de uma suspensão em relação à ordem e às demandas cotidianas do mundo. Aliás, só inventamos a escola porque acreditamos que é preciso oferecer a todos um tempo de formação, que se aparte das exigências da vida (ligadas à produção e ao consumo, à organização da vida social…); em que o que pode não ter utilidade imediata (como a poesia, a filosofia, o jogo) tem um lugar privilegiado em função de seu potencial formativo.
Na escola não ensinamos geometria para que os alunos resolvam os problemas práticos da medição de terras, nem ensinamos literatura para que eles venham a ser escritores ou críticos literários. Para um aluno leitor ele pode ser uma forma de compreender o mundo, justamente porque dele se aparta e, assim, se propõe como uma nova forma de olhar o mundo e de nele se situar.
Por isso a escola deve, sim, ter muros. São seus muros que deixam – ou ao menos deveriam deixar! – do lado de fora a violência policial, a redução do valor do sujeito à sua condição econômica, a ideia de que só o que está na superfície do presente merece um lugar na existência humana. Que outra instituição pode valorizar um livro escrito há mais de dois mil anos, o tempo da meditação, o espaço da discussão sem um fim utilitário? A escola precisa de muros que a protejam de uma ordem social na qual os imperativos econômicos subjugam os ideais políticos e os princípios éticos. Não uma barreira que a transforme em cidadela distante e alienada, mas um muro poroso. Um muro que se comunique com o exterior, mas que preserve a possibilidade da existência de um tempo e um espaço de formação numa ordem social em que tudo se reduz aos imperativos da produção.