Revista Ensino Superior | Por que amar Adélia - Revista Ensino Superior
Personalizar preferências de consentimento

Utilizamos cookies para ajudar você a navegar com eficiência e executar certas funções. Você encontrará informações detalhadas sobre todos os cookies sob cada categoria de consentimento abaixo.

Os cookies que são classificados com a marcação “Necessário” são armazenados em seu navegador, pois são essenciais para possibilitar o uso de funcionalidades básicas do site.... 

Sempre ativo

Os cookies necessários são cruciais para as funções básicas do site e o site não funcionará como pretendido sem eles. Esses cookies não armazenam nenhum dado pessoalmente identificável.

Bem, cookies para exibir.

Cookies funcionais ajudam a executar certas funcionalidades, como compartilhar o conteúdo do site em plataformas de mídia social, coletar feedbacks e outros recursos de terceiros.

Bem, cookies para exibir.

Cookies analíticos são usados para entender como os visitantes interagem com o site. Esses cookies ajudam a fornecer informações sobre métricas o número de visitantes, taxa de rejeição, fonte de tráfego, etc.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de desempenho são usados para entender e analisar os principais índices de desempenho do site, o que ajuda a oferecer uma melhor experiência do usuário para os visitantes.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de anúncios são usados para entregar aos visitantes anúncios personalizados com base nas páginas que visitaram antes e analisar a eficácia da campanha publicitária.

Bem, cookies para exibir.

NOTÍCIA

Arte e Cultura

Por que amar Adélia

No ano em que a poetisa mineira comemora 80 anos, um roteiro de leitura de sua obra

i476840

Em 1976 o céu da poesia brasileira triscou-se de modo irreversível. O abalo foi provocado por uma mulher que, no ano anterior, enviara alguns poemas seus para Affonso Romano de Sant’anna. O crítico percebeu a riqueza do material e convocou o próprio Carlos Drummond de Andrade para o parecer final. O entusiasmo do poeta, que considerou fenomenal o que leu, foi expresso numa crônica de 9 outubro no Jornal do Brasil. Estava pronto o cenário para Adélia Prado, a poetisa de Minas Gerais que agora completa 80 anos.

Além da crônica, Drummond recomendou a publicação dos poemas ao editor Pedro Paulo de Sena Madureira. Bagagem (editora Imago), o primeiro livro de Adélia Prado, teve lançamento concorrido: Antonio Houaiss, Clarice Lispector, Nélida Piñon, Juscelino Kubitschek, Alphonsus de Guimaraens Filho, além dos “padrinhos” que apostaram nas criações da moça nascida em Divinópolis (MG), professora, mãe de 5 filhos, formada em filosofia. Neste breve espaço, pinçaremos poemas de Poesia reunida (São Paulo, Siciliano, 1991), que iluminam nossa condição de leitor. É nossa forma de dizer “obrigado”.
#R#

Primeiro livro

Em “Com licença poética”, poema de abertura, duas constatações: uma reverência ao adentrar o solo sagrado da poesia, tendo-se como matriz o autor de Sentimento do mundo, permeada por um discurso original, numa técnica despojada que funde humor, simplicidade e reflexão:

Quando nasci um anjo esbelto,/ desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira./ Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada./ (…) Vai ser coxo na vida é maldição pra homem./ Mulher é desdobrável. Eu sou.

Estão presentes, neste livro, os fundamentos de uma enunciação calcada no cotidiano, nos lusco-fuscos da memória, na religião como linguagem. Depois de encontrar “sua turma” em textos de Guimarães Rosa, Drummond e Clarice, Adélia moldou sua dicção, timbrada pela particularidade da epifania que resulta da observação sobre homens, bichos, objetos, rituais:

“Meu primeiro livro foi feito num entusiasmo de fundação e descoberta nesta felicidade. Emoções, para mim inseparáveis da criação, ainda que nascidas, muitas vezes, do sofrimento. Descobri ainda que a experiência poética é sempre religiosa, quer nasça do impacto da leitura de um texto sagrado, de um olhar amoroso sobre você, ou de observar formigas trabalhando”. (http://www.releituras.com/aprado_bio.asp).

Título

A escolha do título do primeiro livro pareceria mais adequada a quem já houvesse percorrido um longo caminho. No caso de Adélia, contudo, ajusta-se, pois ela se apresentou com visíveis sinais de maturação e originalidade. Assim, o esforço para iluminar o estar no mundo só é exitoso mediante a poesia.

Tem-se essa mesma impressão em “Leitura”:

Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras./ As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha/ de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas/ fora do seu tempo desejadas.

Do mesmo modo, é difícil não ser tocado por “Impressionista”, no qual a banalidade da ação quebra-se diante da força do último verso. O poeta pesca a poesia nos atritos da fala, escapável ao sujeito que a manifesta:

Uma ocasião,/ meu pai pintou a casa toda/de alaranjado brilhante./ Por muito tempo moramos numa casa,/ como ele mesmo dizia,/ constantemente amanhecendo.

São muitos os exemplos dessa “luta mais vã”. Nesse sentido, o estranhamento, combustível da poesia, muitas vezes apresenta-se com imagens simples e versos sem contorcionismos sintáticos: “Explicação de poesia sem ninguém pedir”:

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,/ mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,/atravessou minha vida,/ virou só sentimento.

O périplo sobre cotidiano e encantação continua em “Amor feinho”, “Briga no beco” (na 2ª parte); “Dona doida” e “Ensinamento” (na 3ª), que frequenta minhas práticas docentes:

Minha mãe achava estudo/ a coisa mais fina do mundo./ Não é. / A coisa mais fina do mundo é o sentimento./ Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, /ela falou comigo:/ “Coitado, até essa hora no serviço pesado”./ Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água./ Não falou em amor./ Essa palavra de luxo.

Na quarta parte da obra, indico “O retrato”, “Modinha” e “poesia”.

2o e 3o livros

Seu segundo livro, O coração disparado (1978), também se divide em quatro partes. Dele, são constantes em minhas (re)leituras: da primeira, “Dois vocativos”, “Roça”, “Um silêncio”, “Bulha”, “Hora do Ângelus”. Quero destacar, ainda, o que tem me servido tanto para as instâncias gramaticais quanto para a poesia em si. Trata-se de “Solar” e sua impactante simplicidade:

Minha mãe cozinhava exatamente:/ arroz, feijão roxinho, molho de batatinhas./ Mas cantava.

Da segunda parte, aprecio “Bairro”, “Canícula”, “Gênero” e “Corridinho”; e da quarta, “Fotografia”.

O terceiro livro de Adélia, Terra de Santa Cruz (1981), divide-se em três partes: “Território, “Catequese” e Sagração”. Da primeira destaco “Casamento” – uma cutucada nos feminismos de plantão – envolto numa poesia rés do chão. Aqui, o estado poético é feito com pinceladas:

Há mulheres que dizem:/ Meu marido, se quiser pescar, pesque,/ mas que limpe os peixes./ Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,/ ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar./ É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,/de vez em quando os cotovelos se esbarram,/ ele fala coisas como ‘este foi difícil’/ ´prateou no ar dando rabanadas’/ e faz o gesto com a mão./ O silêncio de quando nos vimos a primeira vez/ atravessa a cozinha como um rio profundo./Por fim, os peixes na travessa./ Vamos dormir./ Coisas prateadas espocam:/somos noivo e noiva.

As recentes

Há ainda O pelicano (1987) e A faca no peito (1988). O primeiro livro está dividido em quatro partes. Na primeira, destaco “Objeto de amor” com seu inexcedível “Cu é lindo!”. Das duas partes do segundo livro, fico com dois poemas da primeira. Um é “Artefato nipônico”:

A borboleta pousada
Ou é Deus
ou é nada.”

Outro é “Parâmetro”:

Deus é mais belo que eu.
E não é jovem.
Isto sim, é consolo.

Adélia Prado está em plena forma: em 2013 lançou Miserere. Traduzida. Premiada. 8 livros de poesia. 8 de Prosa. Poema para balé. Antologias. Parcerias. Gravação de CD, 2 livros infantis etc.

E mais não digo.

Autor

Jeová Santana, da revista Língua Portuguesa


Leia Arte e Cultura

chef's tablex

Banquete para os olhos

+ Mais Informações
shutterstock_223147369

Bibliorias e livrotecas

+ Mais Informações
Capa resenha

Obra introduz autores e grandes questões de filosofia da linguagem

+ Mais Informações
indigena3

Daniel Munduruku resgata histórias de etnias indígenas brasileiras

+ Mais Informações

Mapa do Site

Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.