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Entrevistas

“Ensino a distância no Brasil precisa melhorar”, diz especialista

Reitor da Universidade Veiga de Almeida, enxerga porém que existe uma demanda de estudantes que desejam entrar na universidade

Publicado em 25/04/2016

por Mariana Ezenwabasili

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Arlindo Cardarett Vianna: demanda reprimida é real e estratégica para o ensino superior na América Latina

As instituições privadas de ensino superior devem fechar o ano com 3,9 milhões de alunos matriculados em cursos presenciais de graduação – uma redução de 15% com relação aos registros de 2014. As previsões, feitas pela Hoper Educação sob encomenda da Ilumno (antiga Whitney University System), mostram que o total de estudantes nas IES particulares deve crescer 1,2% em 2017 e 2,5% em 2018. Já as matrículas na modalidade a distância (1,6 milhão atualmente) devem ter um aumento de 22% nos próximos dois anos.

Para Arlindo Cardarett Vianna, reitor da Universidade Veiga de Almeida (UVA), no Rio de Janeiro, e membro do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras e do conselho da Associação Nacional das Universidades Privadas (ANUP), as estimativas reforçam perspectivas positivas para os planos da organização das IES no Brasil a longo prazo. Mas, por ora, o recomendado é que sejam “revistos todos os gastos”.

Em entrevista à Ensino Superior, o reitor e presidente da Ilumno no Brasil, rede composta por 11 instituições de ensino superior localizadas em sete países, associa a volta de crescimento das IES por aqui nos próximos anos a uma “demanda reprimida” de jovens com idade para entrar na universidade. Segundo Vianna, o fenômeno também é observado em outros países da América Latina. Além disso, para o reitor, se comparado ao que é oferecido nos Estados Unidos e em países da Europa, o ensino a distância no Brasil ainda precisa melhorar.
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Como olhar para o atual cenário de diminuição das matrículas nas graduações presenciais?
Boa parte dessa queda se deve ao número de vagas oferecidas pelo Fies, drasticamente reduzido de 2014 para 2015. Em 2016, estamos contando com dois efeitos: o reflexo nas diminuições no Fies e a questão de que hoje o Brasil vive uma crise econômica e política, com altos índices de desemprego, e isso também, de uma certa forma, afeta o cenário educacional. Se em 2016 nós não tivéssemos uma crise econômica e política, provavelmente esses números já começariam a subir neste ano.

As instituições privadas devem contar menos com o apoio do governo federal por meio do financiamento estudantil?
A eficiência no rigor dos gastos das instituições será crucial, porque muito provavelmente as instituições terão um encolhimento na taxa total de alunos e aí não terá mais saída. Será preciso rever todos os gastos. Se a instituição não for eficiente, terá de fazer escolhas. A primeira possível é diminuir o investimento. Mas sabemos que se isso é feito a instituição corre o risco de ficar cada vez menos competitiva no mercado. Outra escolha possível é diminuir a carga horária dos professores, o que pode gerar desespero entre os docentes. Então a melhor opção a ser seguida por todas as instituições é tornarem-se mais eficientes nas estruturas de gastos, com uma gestão mais eficaz e responsável.

O modelo de ampliação do acesso ao ensino superior no Brasil via financiamento foi bem desenhado?
Se o Fies não existisse em 2012, 2013 e 2014, o ensino superior teria crescido a taxas menores. É preciso olhar os movimentos que existiram pelo mundo com relação a financiamentos governamentais, como vimos no Chile, na Colômbia, mesmo nos Estados Unidos, onde a situação é caótica. Provavelmente, nos próximos três anos aquela bolha imobiliária que houve em 2007 e 2008 será uma bolha educacional. Lá, a taxa de inadimplência no financiamento estudantil chega a US$ 1,4 trilhão. Ou seja, vemos que financiamentos estudantis ao redor do mundo exigem que haja muita estruturação e alinhamento.

Quais as alternativas para contornar a situação até a volta do crescimento das matrículas?
Considerando o que ocorre na Veiga de Almeida, no Rio, e na Unijorge, em Salvador, já que ambas fazem parte da rede Ilumno no Brasil, a chave é focar a graduação do aluno. É claro que temos de querer matricular alunos novos, isso faz parte de qualquer gestão, mas o conceito básico deve ser graduar e combater a evasão de uma forma muito rigorosa. Temos uma taxa de evasão nas nossas graduações presenciais em instituições privadas de 17% e 20% por ano. Isso significa que uma IES de porte médio no Brasil, com 10 mil alunos, perde, todos os anos, entre 1.700 e 2.000 estudantes. É um número muito grande, e faz com que a instituição não cumpra o papel dela, que é devolver à sociedade uma pessoa que tenha mais bagagem.

O que explica a tendência de crescimento da EAD no Brasil?
A EAD é uma área nova no Brasil, quando comparada à consolidação do ensino presencial no país, e realmente ao longo dos anos vem crescendo a uma taxa muito maior do que a do ensino presencial. Em 2014, tínhamos 92 instituições no Brasil oferecendo EAD. Em 2015 e em 2016, esse número tem crescido, porque o número de polos autorizados vem crescendo. Há hoje uma diminuição do preconceito que se tinha com relação à EAD. Outro fator importante é que as mensalidades dos cursos dessa modalidade correspondem, em média, a 25% do valor das mensalidades do ensino presencial.

Por que essa diferença de valores? A manutenção da EAD é mais barata?
Talvez isso possa acontecer aqui no Brasil, mas não poderia fazer essa afirmação com relação à EAD em outros países. Um curso de EAD em países da Europa ou nos Estados Unidos é mais caro do que um curso presencial, por exemplo. O valor cobrado na EAD no Brasil é assim porque a modalidade era vista lá atrás – hoje não é mais assim– como um subproduto; e como um subproduto os cursos EAD tinham um “subpreço”. E o problema era exatamente este: as instituições não alinhavam o seu propósito com as necessidades de mercado. E é por isso que o Brasil ainda tem muito que caminhar no sentido de ter uma EAD com cada vez mais qualidade.

A EAD é bem distribuída no país?
Estudos da Hoper mostram que 93% da EAD no Brasil está nas mãos de 22 instituições, sendo que só 92 instituições brasileiras oferecem cursos nessa modalidade. Acontece que o ensino a distância começou no Brasil praticamente sem nenhuma regulação. Mas quando chegamos a 2007, o país fez uma “arrumação na casa” e foram fechados quase 50% dos polos que existiam naquela época. Nesse período, até dentro de açougue havia polo. Era uma coisa absurda. O fechamento de processo de abertura de polos seguiu até 2011, 2012, quando começaram a surgir os novos processos de credenciamento. Mas durante muitos anos a regulação restringiu a entrada de novas instituições no mercado de EAD. Então, os números de hoje são consequência desses dois fatores.

Como avalia as orientações do recém-lançado Marco Regulatório da EAD?
Esse Marco Regulatório vai no sentido de uma melhoria de qualidade, mas burocratiza alguns processos que não deveriam ser mais burocratizados. Mas reconheço que o melhor controle acaba fazendo com que algumas coisas fiquem burocratizadas. De maneira geral, o documento caminha para qualidade, mas ainda não está alinhado com os padrões internacionais de qualidade do ensino a distância.

O que você entende como qualidade na EAD considerando os padrões internacionais?
Hoje colocamos o polo e seus elementos, como biblioteca e laboratório de informática, como instrumentos centrais de avaliação da EAD brasileira. Ou seja, há uma preocupação com a infraestrutura física, porém não se leva em conta nada com relação ao serviço que é oferecido para o aluno. Daremos um outro salto quando melhorarmos cada vez mais a qualidade de relacionamento e da tutoria feita aos estudantes. O Brasil ainda precisa se adequar e se alinhar a essas normas.

Instituições da Ilumno são pioneiras no oferecimento de cursos de EAD na Argentina e na Colômbia. Comente isso.
Na Argentina, por exemplo, de cada dez alunos matriculados em EAD seis estão fazendo cursos na nossa Universidad Siglo 21. A instituição foi a primeira a oferecer EAD no país. Como a Ilumno é uma empresa norte-americana, acabamos entrando lá com o background que tínhamos do modelo de ensino a distância oferecido nos Estados Unidos. Na Colômbia, onde temos três instituições de ensino, também fomos pioneiros no oferecimento de EAD na Institución Universitaria Politécnico Grancolombiano e na Fundación Universitaria del Area Andina. Lá, a Politécnico Grancolombiano é a primeira em número de alunos de EAD e a Area Andina é a terceira. Somados os alunos de EAD nas duas instituições temos 65 de cada 100 estudantes de EAD no país. Essas instituições seguem o mesmo modelo e o mesmo projeto.

Como chegaram a esses resultados?
Existe um modelo Ilumno que consta em vários documentos da rede dizendo como é o padrão do nosso ensino e serviço. No Brasil não estamos muito acostumados com isso, mas é um modelo norte-americano que prevê que várias cartilhas de conduta sejam escritas e seguidas. Esses modelos não são estáticos, vão passando por atualizações ano a ano. E aí respeitamos as diferenças de regulação da EAD em cada país onde estão as nossas universidades. Um exemplo simples: na Colômbia, não há necessidade de haver um espaço acadêmico dentro de um polo. Se lá não é necessário e aqui, no Brasil, é, pensamos o que precisa haver nos nossos cursos aqui com relação aos polos físicos. Aliás, nessa questão as regulações da Argentina e do Brasil são similares, então temos de ter espaços acadêmicos físicos nos cursos de EAD oferecidos nesses países.

Considerando sua experiência com instituições internacionais, quais as estimativas de crescimento do ensino superior na América Latina?
Quando olhamos para a América Latina, vemos que na Argentina e no Chile a população entre 18 e 24 anos tem um índice de escolaridade altíssimo. O Brasil hoje aparece em terceiro lugar no número de jovens matriculados no ensino superior na América Latina, atrás de ambos. Temos em torno de 32% de jovens com 18 e 24 anos de idade na faculdade. Como o dado é de 2014, a tendência é que esse percentual diminua por conta dos cortes no Fies, como falei. Há países da região em que esse índice está abaixo de 15%. Então existe aí uma demanda a ser atendida; o potencial de crescimento do ensino superior na região é muito grande. O problema é que muitas vezes não há dinheiro suficiente para investir.
Já nos Estados Unidos, diria que acima de 95% da população entre 18 e 25 anos está no ensino superior. Na Europa, idem. O ensino superior nesses locais não tem mais como expandir-se. É claro que sempre existe uma demanda, porque há pessoas nascendo, crescendo; mas não uma demanda reprimida. A China e a Índia, por exemplo, são países extremamente populosos em que essa demanda reprimida tem sido atendida ao longo do tempo e por isso vão continuar a crescer. Mas o potencial com base em uma demanda reprimida, eles não têm. Essa demanda reprimida é real e estratégica aqui e em toda a América Latina.

Autor

Mariana Ezenwabasili


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