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NOTÍCIA
A realidade posta a nu e a oportunidade de pensar e agir sobre ela
Publicado em 10/05/2016
Hannah Arendt (1906-1975) foi uma pensadora da crise. Seus exercícios de pensamento se voltaram para a compreensão das crises do totalitarismo, da república, da cultura, da educação. Em face da grave crise política que vivemos, pode ser interessante recorrer a seus escritos para pensar nossos impasses. Em primeiro lugar porque ela rejeita a acepção comum que temos de crise – identificada de modo imediato com “decadência”, “declínio”, “degeneração” – em favor de sua acepção original: um momento de cisão que exige julgamento, decisão, critérios de escolhas. Para essa pensadora alemã, uma crise põe a realidade a nu e assim nos convida a pensar e a agir. Ela só se transforma em um desastre se a ela respondemos com preconceitos, isto é, com certezas herdadas do passado que nos impedem de ter a experiência de pensar o presente como algo radicalmente novo. E esse é o principal risco que hoje corremos, tanto no âmbito público como no contexto escolar, no qual seus ecos não tardaram a chegar.
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Não são poucos aqueles que, em um momento de cisão como o que vivemos, asseveram que os professores e as escolas deveriam manter distância das polêmicas do presente, evitando influenciar seus alunos com opiniões e perspectivas. À primeira vista, o argumento pode soar plausível, afinal, o que interessa à escola é o cultivo da autonomia do aluno, sua capacidade de fazer juízos independentes – inclusive no plano da política – e não conformá-los a uma visão já dada. Ocorre, contudo, que essa capacidade de pensar criticamente o presente não decorre da aplicação de regras e fórmulas abstratas, tampouco brota espontaneamente em cada indivíduo. Ela é, antes, fruto da convivência contínua e sistemática com aqueles que nos mostram, por seus atos e palavras, o poder da reflexão na desconstrução dos clichês e slogans que nos impedem de pensar o presente ao apresentar um quadro simplificado e maniqueísta dos acontecimentos. O que distingue a doutrinação da formação não é a suposta isenção dos professores, mas a sua capacidade de expor suas razões, de submetê-las ao exame livre e independente de seus pares e alunos, abrindo-se à experiência da pluralidade.
Por outro lado, o que autoriza o professor a ocupar seu lugar na formação de um espírito crítico não é sua opinião política, mas sua formação em um campo determinado do saber. Felizmente, contudo, essas duas exigências não são de forma alguma irreconciliáveis. A grande questão que sempre se coloca a um professor – mas que os momentos de crise tornam clara e aguda – é a de pensar o presente a partir de um legado simbólico do passado. Nesse sentido, o melhor antídoto contra a irreflexão não é a reprodução no âmbito escolar da guerra retórica produzida pelas mídias sociais, mas o exame criterioso dos empreendimentos e objetos culturais que nos auxiliam a compreender aspectos cruciais de nossa sociedade. O que um conto de Machado de Assis nos revela sobre as vicissitudes do poder numa sociedade senhorial? O que um filme como Depois da chuva (2013, de Cláudio Marques e Marília Hughes) desvela acerca de nossa cultura política? Como uma aula sobre o golpe de 1964 pode iluminar os dilemas do presente? Esse é o desafio de uma escola que não se nega a pensar a política, mas que sabe que ela não é uma “míniágora”.