Revista Ensino Superior | Pedagogia e psicanálise não devem se misturar - Revista Ensino Superior
Personalizar preferências de consentimento

Utilizamos cookies para ajudar você a navegar com eficiência e executar certas funções. Você encontrará informações detalhadas sobre todos os cookies sob cada categoria de consentimento abaixo.

Os cookies que são classificados com a marcação “Necessário” são armazenados em seu navegador, pois são essenciais para possibilitar o uso de funcionalidades básicas do site.... 

Sempre ativo

Os cookies necessários são cruciais para as funções básicas do site e o site não funcionará como pretendido sem eles. Esses cookies não armazenam nenhum dado pessoalmente identificável.

Bem, cookies para exibir.

Cookies funcionais ajudam a executar certas funcionalidades, como compartilhar o conteúdo do site em plataformas de mídia social, coletar feedbacks e outros recursos de terceiros.

Bem, cookies para exibir.

Cookies analíticos são usados para entender como os visitantes interagem com o site. Esses cookies ajudam a fornecer informações sobre métricas o número de visitantes, taxa de rejeição, fonte de tráfego, etc.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de desempenho são usados para entender e analisar os principais índices de desempenho do site, o que ajuda a oferecer uma melhor experiência do usuário para os visitantes.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de anúncios são usados para entregar aos visitantes anúncios personalizados com base nas páginas que visitaram antes e analisar a eficácia da campanha publicitária.

Bem, cookies para exibir.

NOTÍCIA

Edição 235

Pedagogia e psicanálise não devem se misturar

Segundo a pscicanalista Melanie Klein, práticas devem ser guiadas por profissionais diferentes

Publicado em 13/12/2016

por Myriam Chinalli

pscicanalise Liberar a fantasia: o objetivo da educação psicanalítica a partir da perspectiva defendida por Melanie Klein | © Gustavo Morita

Liberar a fantasia: o objetivo da educação psicanalítica a partir da perspectiva defendida por Melanie Klein | © Gustavo Morita

Liberar a fantasia: o objetivo da educação psicanalítica a partir da perspectiva defendida por Melanie Klein | © Gustavo Morita

A discussão a respeito da posição de quem trata crianças – se é educador ou analista – existe desde os primórdios da psicanálise, causando debates teóricos acalorados. Melanie Klein (1882-1960) teve um posicionamento radicalmente contrário à ideia de “comunhão” entre psicanálise da criança e educação. Acreditava que a análise de crianças não diferia em quase nada da análise de adultos. Buscava eliminar qualquer intervenção pedagógica de seus atendimentos. Considerava que psicanálise e educação eram processos absolutamente distintos, que deviam coexistir, mas orientados por pessoas diferentes.

Em sua primeira comunicação pública, na Conferência da Sociedade Húngara de Psicanálise, em 1919, Melanie Klein apresentou o trabalho “Influência do esclarecimento sexual e o afrouxamento da autoridade no desenvolvimento intelectual das crianças” como tentativa de substituir a “educação tradicional” de Fritz, 5 anos (seu primeiro caso, que na realidade era seu filho Erich), por uma “educação psicanalítica”. Criticou a educação tradicional por diminuir a inteligência e a capacidade criadora das crianças. Também dizia que esse tipo de educação impunha a ideia de Deus e a repressão sexual, envolvendo a sexualidade infantil nos “véus do segredo, da falsidade e do perigo” e cobrindo-a de mistério.

No começo de 1924, apresentou uma comunicação altamente controvertida sobre a psicanálise de crianças pequenas, na qual começava a questionar certos aspectos do complexo de Édipo, ideia desenvolvida por Freud. Em 17 de dezembro do mesmo ano, Melanie Klein foi a Viena para fazer uma comunicação sobre a psicanálise de crianças e, nessa ocasião, confrontou-se diretamente com Anna, filha de Freud. O debate estava então aberto, e trataria do que deveria ser a psicanálise de crianças: uma forma nova e aperfeiçoada de pedagogia (posição defendida por Anna Freud) ou a oportunidade de uma exploração psicanalítica do funcionamento psíquico desde o nascimento (como queria Melanie Klein).

Mudando-se para Londres, Melanie experimentou suas teorias, tratando dos filhos perturbados de alguns de seus colegas. Sua personalidade invasiva provocou à sua volta paixões e repulsas. Em março de 1927, Anna Freud fez uma comunicação ao grupo berlinense, que constituiu um verdadeiro ataque às teses kleinianas. Houve críticas a Anna, e Freud irritou-se. A discordância entre ambas não parava de crescer: Anna circunscrevia a análise de crianças apenas como extensão do mal-estar de seus pais, enquanto Melanie via a criança de forma autônoma, tanto em sua demanda quanto em seu tratamento.

Construções e transformações

Para Klein, durante a análise de uma criança, devia-se explorar a relação desta com seus pais em profundidade, sendo desnecessário e mesmo incompatível que o analista exercesse qualquer influência educativa. Encarava o papel dos pais da “realidade” de forma bastante diferente dos pais internalizados pela criança, postulando que as imagens destes, mesmo em crianças pequenas, já sofreram distorções e transformações.

A base técnica de Melanie Klein era a mesma utilizada com adultos: a criança podia expressar-se associando os assuntos e as palavras livremente. Para sustentar a posição do analista, Klein defendia que sua função deveria se afastar das tarefas do educador que, muitas vezes, se ocupava em proibir e tolher, enquanto a do analista deveria concentrar-se em permitir e liberar certos comportamentos, sobretudo por meio dos jogos e das brincadeiras.

Klein afirmava que era preciso educar as crianças com o mínimo de repressão de sua sexualidade e protegê-las dos “perigos da ignorância” por meio do esclarecimento. Assim é a educação que ela buscava realizar com Fritz (Erich, seu filho): uma educação baseada sobre a “franqueza irrestrita”, capaz de liberar e satisfazer sua curiosidade, agindo contra a repressão e a inibição de sua capacidade intelectual. Suas perguntas sobre o nascimento das crianças eram respondidas com absoluta veracidade e, quando necessário, numa base científica apropriada ao seu desenvolvimento, mas tão breve quanto possível.

Nesse primeiro momento, em 1919, a educação psicanalítica deveria combater ainda a onipotência em todas as suas frentes: a ideia de Deus, os contos, as fantasias e tudo o que manifestasse a “megalomania incurável do ser humano” – pesada ameaça que pairava sobre o pensamento e que, segundo ela, punha em risco o desenvolvimento intelectual e a aprendizagem.

Já em 1921, no desenvolvimento do caso Fritz-Erich, a proposta de perseguir as fantasias em nome da liberdade de expressão sofreu uma transformação: o objetivo da “educação psicanalítica” passou a ser a “liberação da fantasia”. Essa relação educativa e psicoterápica de Melanie Klein com Fritz-Erich marcou a origem da técnica kleinista da psicanálise das crianças por meio do brincar.

Poderosa chefe de escola

Diversamente do annafreudismo, o kleinismo não foi simples corrente. Constituiu-se como um sistema de pensamento a partir de um mestre (no caso, uma mulher) que modificou inteiramente a doutrina e a clínica freudianas, desenvolvendo novos conceitos e instaurando uma prática original de análise, da qual decorreu um grupo de formação didática diferente da do freudismo clássico.

Melanie Klein e seus sucessores fizeram escola, integrando na psicanálise o tratamento das psicoses (esquizofrenia, casos borderlines, distúrbios da personalidade ou do self), inventando o próprio princípio da psicanálise de crianças (por uma rejeição radical de qualquer pedagogia tradicional) e, por fim, transformando a interrogação freudiana sobre o lugar do pai, sobre o complexo de Édipo e sobre a gênese da neurose e da sexualidade numa investigação da relação arcaica com a mãe, numa evidenciação do ódio primitivo (inveja) e, por último, numa busca da estrutura psicótica (posição depressiva / posição esquizoparanoide), característica de todo sujeito. Assim, os kleinianos inscreveram a loucura na vida de todos os sujeitos humanos.

A história particular de Melanie também foi marcada por intensos conflitos. Em 1932, sua filha Melitta Schmideberg, casada com Walter Schmideberg, amigo da família Freud, tornou-se analista e se afastou de Melanie. A partir de 1933, Melanie Klein passou a sofrer ataques incessantes de Melitta, em público.

Além disso, alguns meses depois da chegada dos Freud a Londres, em 1939, as hostilidades com Klein irromperam efetivamente, provocando a partir daí intensas reuniões públicas para discussões teóricas. Os confrontos assumiram tal intensidade que o pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott (1896-1971), então partidário de Melanie, interrompeu durante a Segunda Guerra uma noite de debates para observar que um ataque aéreo estava ocorrendo e era urgente procurar abrigo – e ninguém havia se dado conta.

Nunca tendo se reconciliado com sua filha Melitta, deixando inacabada uma autobiografia, Melanie Klein morreu de câncer de cólon em Londres, a 22 de setembro de 1960, sem nada perder de seu dinamismo e combatividade intelectual até o final da vida.

Autor

Myriam Chinalli


Leia Edição 235

afro

Ensino de cultura e história afro e indígena ainda enfrenta obstáculos...

+ Mais Informações
english

Língua inglesa: formação de professores e conteúdo diferem entre...

+ Mais Informações
martinique-206916_1920

A luz de Luiz

+ Mais Informações
negro

Vidas negras

+ Mais Informações

Mapa do Site

Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.