Revista Ensino Superior | O “gerundismo” é fruto de influência do inglês? - Revista Ensino Superior
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NOTÍCIA

Edição 236

O “gerundismo” é fruto de influência do inglês?

Alguns estudiosos apontam traduções do inglês como um dos motivos para o crescente abuso do gerúndio, mas linguística mostra que isso não é verdade

Gerundio 1 iStock_000005825672

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Alguns estudiosos atribuem o abuso do gerúndio (gerundismo) à influência das traduções do inglês. Parece-me que se trata de uma hipótese equivocada. Senão vejamos.

Quando duas línguas estão em contato, ocorre pelo menos uma solução entre três possíveis:

1) ou as duas línguas se fundem numa só;

2) ou uma das línguas domina a outra, que desaparece;

3) ou as duas línguas coexistem, e as comunidades adotam uma língua franca (caso das muitas línguas e dialetos indianos, cujas comunidades adotaram o inglês como língua oficial de intercurso).

Na primeira solução, a fusão das duas línguas ocorre depois de um longo processo de miscigenação que passa por um período de bilinguismo (situação segundo a qual os falantes utilizam as duas línguas, privilegiando socialmente uma delas, antes da fixação da língua mista chamada crioulo).

O bilinguismo se distingue do ambilinguismo. Naquele, uma língua é privilegiada, como o espanhol diante do guarani, no Paraguai; neste, ambas as línguas têm o mesmo status, como o francês e o flamengo, na Bélgica.

Substrato e adstrato

Na segunda solução, em que apenas uma das línguas permanece, se a língua do povo vencido é a que desaparece (caso do celtibero, diante do latim), a língua vencida, antes de desaparecer completamente, após um

período de bilinguismo, deixa na língua dominadora algum vestígio a que se dá o nome de substrato; se a língua do povo vencedor é a que desaparece (caso do germânico diante do latim), temos a influência de superstrato (vestígio da língua desaparecida do povo vencedor na língua supérstite do povo vencido).

Na terceira solução, em que uma língua coexiste com outra, ambas em contato, a influência exercida em ambas ou numa se chama influência de adstrato, que se faz sentir basicamente no vocabulário e não na sintaxe.

O adstrato inglês no português do Brasil se resume exclusivamente ao léxico, graças à tecnologia americana e à supremacia dos EUA, como superpotência bélica e financeira.

Se o gerundismo fosse influência das traduções do inglês, seria preciso que, primeiramente, as camadas menos privilegiadas tivessem acesso livre a essas traduções, o que não é o caso do Brasil, em que a grande maioria de falantes do basileto (dialeto da base da pirâmide social) não têm acesso a nenhum tipo de cultura estranha, aprendida pelo estudo ou adquirida pelo contato.

Abuso localizado

Para que regra nova se estabeleça no acroleto (dialeto das classes privilegiadas), é necessário que ela passe primeiro pelo basileto.

Ora, o gerundismo ocorre apenas no mesoleto, já que os usuários do basileto não têm acesso às traduções inglesas, e o acroleto repudia o gerundismo, e seus falantes chegam a proibir por lei que ele seja usado pelos falantes do mesoleto.

O que originou o gerundismo foi só o abuso de seu emprego fora dos padrões normativos de respeito ao aspecto verbal.

Uma frase como “Vou estar (ficar) estudando hoje em casa”, perfeitamente legítima, porque designativa de um processo (a ação se prolonga no tempo), é que teria originado outra como “Vou estar passando a ligação agora”, em que, apesar da estrutura frasal idêntica, sem vinculação com o inglês, o aspecto pontual desautoriza o emprego do gerúndio.

Não há, portanto, nenhuma influência do inglês ou de traduções do inglês no gerundismo, mas apenas o desrespeito exclusivamente mesoletal ao aspecto progressivo do gerúndio.

Recapitulando o gerúndio

O gerúndio expressa ação em curso, simultânea à do verbo da oração principal ou anterior/posterior a ela. Em “Estou produzindo”, está em curso um processo de produção.

Em formas compostas (dois verbos), ele indica ação duradoura se ao lado do infinitivo de verbos auxiliares (estar, andar, ir,vir) e ação concluída antes da expressa pelo verbo da oração principal. “Tendo concluído a prova, ele a entregou ao professor”: a ação concluída antecipa a entrega. “Ele está falando” indica um presente com tendência a continuar. “Anda acordando sem ânimo”: ênfase é na intensidade ou insistência do fato. “Mais fiéis vão rezando pelo papa” assinala ação progressiva.

Em perífrases (três verbos), é válido quando:

  • Se há um futuro em relação a outro: “Vou estar vendo a novela quando você for ao futebol”.
  • Verbo implicar duração ou admitir repetição: “Vou estar fechando o balanço” está no vernáculo, mas “vou estar enviando o e-mail”, não. É um documento só e a ação é rápida ou instantânea. “Amanhã, vou estar apertando parafusos o dia todo”, a sentença descreve ação contínua.

“Gerundismo” é o uso exaustivo e indistinto da perífrase, até quando se refere a ações que não duram no tempo. (LCPJ)

Autor

José Augusto Carvalho, da revista Língua Portuguesa


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