NOTÍCIA
Em linha com a legislação, Unijorge adota a bandeira da acessibilidade e elimina as barreiras físicas e pedagógicas que dificultam o acesso dos alunos com deficiência ao ensino superior
Publicado em 05/02/2018
Aluno do 5º semestre de Jornalismo do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), Marcelo Moita, de 21 anos, tem surdocegueira. Mas desde que recebeu o implante de um dispositivo eletrônico, uma parte da audição lhe foi devolvida – e também das esperanças. “Quando eu me formar, quero ser comentarista de futebol”, afirma.
Para conseguir seu diploma, contudo, Moita precisa mais do que dedicação aos estudos e empenho. Ele precisa de sinalização em braile, piso tátil, totens adaptados, fones de ouvido e outros equipamentos adequados às suas limitações.
O aluno também precisa de uma política de inclusão educacional e social por parte da escola – isto é, estratégias de ensino-aprendizagem diferenciadas e professores, metodologias e materiais especiais que possibilitem seu acesso aos conteúdos, como determina a legislação.
Sob este ponto de vista, Marcelo Moita está respaldado. O Unijorge, localizado em Salvador (BA), levantou a bandeira da acessibilidade e fez dela seu diferencial. “Lei é lei, mas o nosso trabalho hoje vai além da sensibilização dos professores e dos colegas do aluno com deficiência. Estamos desenvolvendo internamente uma cultura para vê-lo com outro olhar”, explica o reitor Guilherme Marback.
Ele informa que, para criar condições de permanência e integração dos alunos com deficiência à vida acadêmica, o Unijorge investiu em acessibilidade arquitetônica e também procurou eliminar barreiras digitais e de comunicação interpessoal: as salas de aula foram equipadas com kits de projeção e sonorização, impressoras e teclados braile, lupas, gravadores de áudio e softwares leitores de tela.
A biblioteca se tornou uma sala interativa, os banheiros foram adaptados para os cadeirantes, três novos elevadores, plataformas elevadas e uma rampa foram instalados, e mais vagas foram destinadas às pessoas com deficiência no estacionamento.
O Unijorge ainda instituiu o Núcleo de Acessibilidade, órgão ligado diretamente à reitoria. Segundo sua coordenadora Ana Terse Soares, a ele compete garantir apoio especializado para acabar com eventuais barreiras que venham a obstruir o processo de aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
Essa educação especial se apoia em um conjunto de atividades organizadas institucionalmente a partir da Política de Diversidade Humana, Inclusão e Acessibilidade.
“Compreendemos a acessibilidade desde o momento da seleção dos candidatos no vestibular, no planejamento e execução do nosso orçamento, formação de professores, orientação dos profissionais, práticas pedagógicas e todas as ações necessárias para a manutenção das condições de permanência dos nossos alunos”, completa.
Neste ano, circulou pelos campi Comércio, Paralela e Avenida Tancredo Neves um total de 65 estudantes com algum tipo de deficiência. Ao todo, há cerca de 20 mil alunos na instituição soteropolitana, incluindo os dos cursos presenciais e EAD.
A partir do momento em que o estudante faz uma declaração de deficiência, o centro universitário passa a oferecer técnicas de estudo e metodologias pedagógicas que incluem uma adaptação curricular, um Plano de Desenvolvimento Individual, intervenções didáticas pontuais em sala de aula e uma avaliação diferente, com provas orais e equipamento apropriado, como material em braile.
Ana Terse Soares explica que cabe ao Núcleo de Acessibilidade orientar e preparar o professor para o seu ano letivo com um portador de deficiência, oferecendo-lhe suporte e orientações. Foi o que recebeu Leonardo Bião, que lecionou a disciplina de fotografia a Marcelo Moita, e com ele compartilhou uma experiência de adaptação pedagógica singular.
Desde o início, Moita desenvolveu as mesmas atividades que os seus colegas, apesar da natureza essencialmente visual da disciplina. Ao longo do aprendizado, o professor Bião dedicou-se a descrever ao aluno todas as imagens que estavam sendo trabalhadas, tomando o cuidado de lhe apresentar detalhes da distribuição espacial dos elementos, das cores, da iluminação e das texturas.
Moita também pôde operar a câmera, diferenciando os comandos pelo tamanho, forma e textura dos botões. Ele fez registros fotográficos a partir da descrição do cenário e das orientações sobre posicionamento e elementos a serem captados e recebeu monitoria dos seus colegas nas aulas e atividades extraclasse.
“Quando cheguei para prestar vestibular, já me surpreendi com a estrutura acessível. Ao iniciar o curso de Jornalismo, contei com o apoio do Núcleo de Acessibilidade para adaptar as disciplinas e as avaliações. Sempre tive muito apoio dos meus colegas de turma e dos professores e nunca sofri preconceito”, elogia o aluno do Unijorge, cujas práticas podem servir de referência para o setor e para a ampliação do acesso ao ensino superior.