Atividade desenvolvida pela professora Thaís Lobosque Aquino, da Escola de Música e Artes Cênicas, destacou a falta de valorização de compositoras mulheres
Publicado em 29/11/2018
Cansada da predominância da música erudita e de estudos voltados a artistas do sexo masculino na vida acadêmica, a professora da Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Thaís Lobosque Aquino, desenvolveu o projeto Música, estágio e pesquisa: ações formativas com o tema mulheres na música.
A atividade faz parte de uma disciplina do curso de Licenciatura em Música e a Fundação Carlos Chagas (FCC), por meio do Prêmio Prof. Rubens Murillo Marques, a reconheceu dentre mais de 80 projetos avaliados com um incentivo de R$20 mil e uma réplica da escultura da artista plástica Vera Lucia Richter.
Junto com os estudantes de uma escola de educação básica, os alunos da licenciatura desenvolveram um trabalho de pesquisa sobre a vida e obra de três importantes artistas: Rita Lee, Maria Anna Mozart (conhecida como Nannerl Mozart) e Chiquinha Gonzaga.
“Desde que comecei a tocar piano, especialmente na música acadêmica e erudita, notei a predominância de músicas compostas entre o século XVI e o XVIII por artistas do sexo masculino, brancos e europeus. Durante a minha graduação de piano cheguei a propor a inclusão de Chiquinha Gonzaga. A ideia, contudo, não foi bem vista por ela ser mulher e se tratar de música popular”, desabafa Aquino.
Na avaliação da idealizadora do projeto, esse cenário continua inalterado. Ela avaliou currículos de muitas instituições de Música e afirma que esse perfil de repertório ainda persiste.
O projeto da professora premiada pela FCC envolveu 127 participantes – entre professores formadores e orientadores, alunos estagiários do curso de Licenciatura em Música e crianças do ensino básico – e se desenvolveu por meio de três atividades formadoras.
O festival competitivo foi a primeira. Nele, as crianças tocaram obras de Rita Lee e falaram sobre o que aprenderam com a história da cantora, autora de letras irreverentes, que trataram de muitos tabus sociais, como se viu em Rita Lee, uma autobiografia (Globolivros, 2016).
A segunda ação focou em um projeto de extensão com crianças de 7 a 12 anos que, por meio do tema Orquestra, pesquisaram sobre a musicista Nannerl Mozart (1751-1829), irmã mais velha de Mozart e tão talentosa quanto ele, só que apagada da história por ser mulher. Na sua época, o que se esperava dela era que cuidasse exclusivamente da casa e dos filhos, conta a professora.
Por fim, a docente da UFG colocou os alunos da disciplina de estágio para trabalhar com Chiquinha Gonzaga (1847-1935). Junto com alunos do 3º ano do ensino fundamental, eles até criaram um arranjo para a canção Lua Branca.
Gonzaga quebrou paradigmas ao não aceitar o sistema patriarcal de seu tempo: ela não ficou em casa, enfrentou sua família ao abandonar o marido e seguir carreira de musicista. Primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, autora e compositora de muitas canções, como Ó abre alas, a artista é um dos principais nomes da música popular brasileira.
Além deste projeto, a FCC também premiou mais dois projetos: Estágio: uma articulação entre formação inicial e continuada de professores e Cajón: estratégia interventiva para compartilhamento de emoções em sala de aula.
Patrícia Albieri de Almeida, uma das coordenadoras do prêmio, explica que a bonificação é uma forma de reconhecer e valorizar boas experiências formativas propostas por docentes dos cursos de licenciatura na formação de professores para a educação básica.
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