NOTÍCIA
Quando o ensino e a aprendizagem são “visíveis” - isto é, quando fica claro o que os professores estão ensinando e o que os alunos estão aprendendo, naturalmente ocorre um processo de retroalimentação da motivação em aprender, tanto do professor, quanto do estudante
Publicado em 23/03/2022
Pensar e criar são capacidades inerentes a um modo de aplicar o pensamento e estão entre as principais competências cognitivas do século XXI. Diferentemente do que se costuma imaginar, estas competências não são inatas, e podem ser altamente estimuladas em sala de aula a partir de atividades organizadas de modo intencional.
Como gestores e professores, no entanto, temos um grande desafio: conseguir enxergar o processo de pensamento dos estudantes. Na maioria das vezes, temos acesso apenas aos resultados de seu pensamento.
A partir da especulação filosófica sobre a possibilidade de projetar o pensamento em uma tela, a invenção do “cérebroscópio” – um dispositivo mitológico capaz de expor os pensamentos de uma pessoa -, os neuroeducadores vêm se dedicando ao desenvolvimento de alternativas de melhor desempenho quando se trata de aprender novos conhecimentos e habilidades, afinal aprender é resultado do pensamento ou como afirma Ron Ritchhart, autor da obra Criando culturas de pensamento, “Aprender é uma consequência do pensamento, não algo extra que adicionamos para uma boa medida, mas algo em que devemos nos engajar ativamente para promover nossa própria aprendizagem e a dos outros.”
Tornar o processo de pensamento visível cria melhores condições aos professores para ajudarem os estudantes a lidarem com seus modos de aplicar o pensamento com sucesso.
O pensamento visível é uma abordagem pedagógica que vem ganhando notoriedade a partir de pesquisas feitas pelo professor neozelandês, John Allan Clinton Hattie. Ele estuda indicadores e avaliação de educação através de análises quantitativas e meta-análises com o objetivo de saber de fato quais intervenções pedagógicas geram maior impacto na aprendizagem.
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Com base nos estudos de Hattie (2017), quando o ensino e a aprendizagem são “visíveis” – isto é, quando fica claro o que os professores estão ensinando e o que os alunos estão aprendendo, naturalmente ocorre um processo de retroalimentação da motivação em aprender, tanto do professor, quanto do estudante.
Como profissionais da educação, precisamos ter a consciência que cada intervenção pedagógica gera algum efeito no desempenho do estudante.
Muitas vezes, a experiência nos mostra que poucos estão conscientes dos objetivos de aprendizagem, das competências a serem desenvolvidas e, ainda, da compreensão prévia dos estudantes. Isso leva a frustrações de todos: professores, estudantes e instituições.
Para solucionar esta questão, recomenda-se a aplicação de diferentes estratégias e recursos, de forma a tornar esses elementos chave visíveis, tangíveis, de modo que consiga tornar a aprendizagem efetiva e acessível a todos.
No contexto da aprendizagem visível, Mark Church, pesquisador da Universidade de Harvard, apresenta rotinas de pensamento que podem ser colocadas em prática por professores à medida que as ideias dos estudantes são expressas, discutidas e documentadas.
As rotinas de pensamento são estratégias simples, mas poderosas, usadas para visualizar os processos de pensamento por meio do desenvolvimento de um aprendizado profundo e no cultivo de habilidades intimamente ligadas à teoria da disposição de pensamento.
As rotinas de pensamento como técnicas rápidas e eficazes, possibilitam que a intervenção docente estimule o desejo de saber como se aprende e a desejar pensar, isto é, desenvolver a disposição do pensamento (desejo em ação). Ter a consciência da relação do pensar e aprender para realmente compreender algo é uma ideia chave para criar motivação, disposição efetiva e engajamento, e consequentemente maior performance no processo de aprendizagem.
Para auxiliar os estudantes a compreenderem como pensam e aprendem: isso ocorre por meio da nomeação e visibilidade ao que se pensa. Para Church (2020) são os “movimentos de pensamento” – thinking moves, que formam nos estudantes os “hábitos mentais” – scaffolding e, consequentemente, favorecem o pensamento estratégico, crítico e criativo.
Cuidar da experiência dos estudantes e potencializar ao máximo suas possibilidades de aprendizagem deve ser o principal foco do trabalho docente, pois criar condições motivadoras faz a diferença para efetivar a criatividade e inovação na sala de aula e a construção de uma educação através da vivência e experimentação.
Neste sentido, propõe-se implementação de uma abordagem que seja capaz de fornecer subsídios que asseguram a identificação clara dos atributos que fazem a diferença na performance da aprendizagem dos estudantes. Quando o professor consegue perceber e comunicar se de fato o estudante aprende (ou não), pelas evidências geradas é capaz de intervir redirecionando o processo e concatenando esforços com base na intencionalidade pedagógica – a aprendizagem visível.
HATTIE, John. Aprendizagem visível para professores. São Paulo: Penso, 2017
RITCHHART, R.; CHURCH, Mark. The power of making thinking visible. Practices to engaje and empower all learners. San Francisco: Jossay-Bass, 2020.
RITCHHART, R. Creating cultures of thinking: The 8 forces we must master to truly transform our schools. John Wiley & Sons, 2015.
A autora recomenda:
Amplie o seu repertório sobre aplicação de rotinas de pensamento, acesse:
http://www.pz.harvard.edu/thinking-routines
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