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Inovação

Microcertificações, o mergulho derradeiro das IES no mundo digital

As microcertificações batem à porta das IES trazendo a celeridade da cultura digital

Publicado em 15/12/2022

por Sandra Seabra Moreira

Design-sem-nome

Imagine uma pequena imagem, espécie de crachá, clicável, com a logomarca da universidade, talvez junto ao de uma empresa, no currículo digital do estudante de graduação e, claro, no seu perfil de rede social. Ao clicar, há o link para imagens de sua participação num projeto importante da empresa onde estagiou, acompanhadas de depoimento do líder de sua equipe e outro do seu professor. Ou imagens de uma atividade de extensão, um trabalho junto à comunidade, da qual o estudante participou com dedicação. Tudo devidamente verificado e chancelado pelas instituições. Quem não quer?

 

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Os empregadores desejam, os estudantes adoram. As microcertificações estão em alta e vão muito além de um diploma no formato PDF. Elas batem à porta das IES trazendo a celeridade da cultura digital. Enquanto significarem real aquisição de conhecimento, competências e habilidades, podem contribuir para a entrada mais rápida dos universitários no mercado de trabalho e para a sua ascensão profissional. Às IES está posto o desafio de emiti-las. 

“Há um mercado de trabalho e da cultura digital que está sempre em constante atualização, há empresas que nem requerem mais o diploma especificamente. Do ponto de vista dos nossos estudantes há muito mais informações e interesses pelas microcertificações do que pelas próprias instituições de ensino superior. Estamos correndo um pouco atrás desse processo, querendo compreender melhor esse timing”, afirma Cíntia Boll, pró-reitora de graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O desafio para as IES é enorme, diz Noah Geisel, gerente do programa de microcertificações da Universidade do Colorado Boulder, nos EUA. Em parte porque depende do contexto de cada instituição. A maior dificuldade para as IES, ele acredita, é buscar consistência. “É difícil criar quadros consistentes para o entendimento do que são as microcredenciais para cada universidade. As consequências de não estabelecer coerência podem ser a confusão e o caos, que têm um impacto negativo para a universidade, estudantes e empregadores.”

 

Microcertificação e reconhecimento

 

Cursos extras, livres, e seus certificados nem são mais uma novidade. Empresas do ramo de tecnologia, por exemplo, oferecem cursos em diversas áreas e possibilidades de qualificação e certificação. Há também os MOOCs – Massive Open Online Courses –, ministrados por instituições de ensino superior, a maioria gratuitos, mas algumas instituições cobram pela emissão de certificado. Na pandemia, fizeram ainda mais sucesso. Cintia lembra que muitos estudantes que procuram esses cursos não o fazem somente por uma questão mercadológica, e sim pela busca do conhecimento. De qualquer forma, “esses cursos podem turbinar o acesso a uma pós-graduação”, afirma. 

 
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No âmbito dos cursos longos de graduação e pós-graduação, o processo de microcertificação vincula-se a um reconhecimento maior do conhecimento, habilidades e competências dos estudantes. Geisel lembra que muito do que as empresas requerem dos profissionais, como empatia e criatividade, não está presente nos currículos. Além disso, nas universidades, o que os estudantes realizam fora das quatro paredes da sala de aula é muito pouco reconhecido. Assim, o processo de microcertificação pede novas métricas para mensuração do aprendizado e avaliação do estudante. Cíntia remete-se à revolução digital ocorrida a partir de 2014, nas escolas e universidades. “De repente, o laboratório de mídia da escola estava inteiro na palma da mão dos estudantes”, lembra. Foi o que, à época, a Unesco chamou de aprendizagem móvel. “Como ainda temos coragem de cobrar do aluno alguma coisa que não desse lugar da cultura digital?, questiona. Sobretudo neste momento em que até mesmo o processo de certificação está se instalando no âmbito da cultura digital.” 

Para ela, o esforço de criação do estudante, em que ele usa os conceitos e os conhecimentos oferecidos pela academia, acaba por ficar de fora, como se esse esforço não estivesse integrado o suficiente para que seja reconhecido. Isso porque, dentro da academia, a cultura é oral e impressa. “Quem trabalhou com educação a distância – trabalhei por muitos anos, sou uma defensora da educação a distância e aberta – entende o próprio processo de aprender e a presencialidade docente completamente entrecruzados ao mundo da cultura digital. O problema é que no mundo das IES, a palavra e a escrita têm mais valor. A cultura digital, ou o que os estudantes fazem no âmbito da cultura digital, tão valorizada no mercado do trabalho, não aparece.”

 

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Um exemplo dos tempos da cultura analógica parece ainda persistir: “Levávamos um videocassete para o aluno assistir e depois pedíamos uma redação escrita, e não a realização de um filme”. Ainda que parte do ambiente do ensino superior esteja no universo digital, muito do que está na nuvem é uma reprodução do papel, onde o aluno marca, escreve o que é requerido. “Falamos tanto em criatividade e cortamos o processo de criação de qualquer um que seja – jovem, adulto, velho – quando não conversamos o suficiente com Twitter, Instagram, Tik Tok”, afirma. As oportunidades que se abrem para os estudantes por meio das metodologias ativas – uma apresentação, por exemplo, bem realizada – eventualmente podem ganhar espaço numa microcertificação.

Geisel explica as vantagens do processo de microcertificação para os estudantes: “Creio que a vantagem está em equipar os estudantes com narrativas mais profundas e ricas de quem eles são como aprendizes e realizadores. Estamos criando narrativas sobre os seus trunfos, a fim de abrir as portas das oportunidades. Notar, nomear e credenciar aptidões e competências significativas, de forma verificável e confiável, é uma das respostas certas à questão de como criar sistemas melhores e mais equitativos de reconhecimento e contratação”.

 

Projeto piloto pode ajudar as IES a começar

 

Uma microcertificação é menos que uma certificação e mais do que uma simples validação de um curso rápido. É pequena e bastante específica. Geisel chama de badge, ou crachá, contendo metadados que ajudam a articular a aprendizagem. São informações como o nome do curso, a instituição emissora, as habilidades específicas conquistadas, as evidências dessa conquista e o contexto maior em que estas habilidades se inserem. Um crachá – ou microcertificação – é verificável, partilhável, portátil e empilhável.

É importante que as certificações estejam vinculadas às ideias de acesso, equidade, algoritmos, oportunidades e mobilidade. Principalmente, que não se perca de vista a necessidade de seu conteúdo oferecer informações relevantes aos empregadores. “O meu conselho para começar é identificar o motivo que define esse propósito, traçar um ecossistema de partes interessadas que são essenciais para o sucesso, compreender os seus estímulos individuais, e depois tentar conceber um projeto-piloto.”

 

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Para Cíntia, o processo de microcertificação nas universidades pode ser a oportunidade de fazer o novo, o diferente. Ela menciona que as tecnologias digitais propiciam a concepção de cursos com tempo curto e, neles, a potencialização de conceitos, propostas e interdisciplinaridade de pessoas para fortalecer o processo de aprendizagem. Um curso de especialização, por exemplo: “O CEO de uma empresa nunca vai assistir aulas toda tarde, por seis meses. Mas se considerarmos a possibilidade de um curso ser objetivo o suficiente – a tecnologia oferece essa condição –, potencializando e fortalecendo determinado foco, podemos transformar seis meses em uma semana. A partir daí é possível pensar num grande projeto-piloto. Inclusive, se houver reconhecimento dos órgãos de controle, podemos melhorar as relações das instituições certificadoras com o mundo do trabalho”.

Autor

Sandra Seabra Moreira


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