Inovação

Colunista

Fábio Reis

Diretor de inovação e redes do Semesp e presidente do Sthem Brasil

O trivial, o reformador, o sonhador e o inovador

Inovar na IES requer desejo de transformar, de enfrentar resistências, de gerar mudanças culturais de ir além da inclusão de uma disciplina no currículo

Os gestores e a gestão Fábio Reis: "Há gestores que sonham e buscam tornar suas projeções algo real e efetivo" (ilustração: Freepik)

De um modo geral, os gestores de IES privadas buscam: a) captar alunos, b) ter os conceitos 3, 4 ou 5 nas avaliações do MEC; c) ter resultados financeiros para tornar as IES sustentáveis. Há gestores de IES que não conseguem atingir esses resultados, por vários motivos, entre eles: a) concorrência, b) modelo de gestão, c) burocracia, d) lentidão ou resistência à mudança, e) pessoas com o perfil inadequado para a função que exercem.

Há gestores que fazem o trivial, o corriqueiro e o comum, por isso, nem sempre conseguem atingir bons resultados. Estes correm um sério risco de serem “engolidos pela dinâmica do mundo”. Fazer o trivial não é compatível com os nossos tempos e gera lentidão nas decisões e mudanças, elevação dos custos, dispersão das sinergias e descompasso com as tendências. Provavelmente, os gestores e as IES triviais estão com problemas financeiros, possuem baixa captação e talvez pouca relevância social.

Há gestores institucionais que fazem reformas e introduzem mudanças que agregam valor, que em função da gestão conseguem manter bons resultados nas avaliações do MEC, mas que não provocam movimentos de transformação. Reformar traz inovação, mas exige reformas contínuas. Reformar pode ser perigoso se o gestor não estiver atento a um projeto de inovação, pois não basta ter ambientes no “estilo google”, não basta ter laboratórios e salas de aula com design contemporâneos, não basta ter boas notas nas avaliações do MEC, se a cultura institucional é conservadora e os estímulos para impulsionar processos inovadores, são escassos.

 

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Reformar o currículo ou usar alguma plataforma, não significa inovar. Um projeto integrador como disciplina pode não ser necessariamente interdisciplinaridade e aprendizagem baseada em desafios. Reformas podem trazer “vernizes de inovação”, mas possuem um tempo de duração limitado. Gestores reformadores tendem sempre a “correr atrás do prejuízo” ou a ficarem felizes com uma nota 4 ou 5 do MEC, que precisa ser celebrada. É preciso reconhecer que a nota do MEC não é a solução para uma IES que quer prosperar nos próximos anos.

Há gestores que sonham e buscam tornar suas projeções algo real e efetivo. Um sonho se torna realidade no ensino superior, quando há pessoas comprometidas, vontade política, planejamento e orçamento. Discursos, apresentações em eventos, conversas em ambientes públicos e lives nas mídias sociais não tornam o sonho algo real. Há gestores que fazem o trivial, mas sonham com a inovação, todavia, não planejam, não desenham o projeto, não possuem um time de pessoas preparadas, não investem e, de modo geral, são conservadores no dia a dia.

A inovação pode acontecer por insights, pelas experiências das pessoas, pelas conexões ou por outros fatores, porém, nas IES tendem a ser resultado de aprendizados, de planejamento, de conhecimento, de formação de times qualificados e também pelos fatores apontados acima. Inovar na IES requer desejo de transformar, de enfrentar resistências, de gerar mudanças culturais de ir além da inclusão de uma disciplina no currículo. Gestores inovadores transcendem as reformas pontuais e conseguem transformar seus sonhos em realidade. Um modelo acadêmico é inovador, quando impacta todos cursos e são mais do que uma reforma na “grade curricular”. Um reformador, pensa no dia a dia e no amanhã. Um inovador, pensa no hoje e nos próximos anos. Ele se adianta às demandas e tendências e não se conforma com o trivial.

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Há gestores felizes e confortáveis com o trivial. Há gestores com boas intenções, porque são sérios e vão continuar a fazerem reformas, porém, há riscos de serem surpreendidos pela dinâmica da sociedade. Os que sonham e não realizam seus desejos, talvez vivam em uma constante frustração, mas provavelmente vão sobreviver. Os inovadores que fazem mudanças sistêmicas terão capacidade de conduzir a IES para uma jornada de prosperidade.

Sim, os inovadores fazem reformas, mas possuem visão de longo prazo, conhecem o ambiente do ensino superior, superaram o medo e deixaram de serem conservadores. Penso que o mundo do ensino superior será dos inovadores, porque eles vão captar mais alunos, vão tirar boas notas no MEC, vão desburocratizar as IES, vão descentralizar as decisões e serão sustentáveis financeiramente e se tornarão mais relevantes para a sociedade, para os empregadores e para os jovens. O valor do diploma deles será maior.

 

 

 

Por: Fábio Reis | 25/05/2023


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