Inovação

Colunista

Ana Valéria Reis

Consultora em inovação, aprendizagem, metodologias ativas e avaliação

Como o docente pode personalizar a aprendizagem

Embora a tecnologia e a IA tenham um papel importante na personalização da aprendizagem, a personalização pode ocorrer independentemente do uso desses recursos

aprendizagem personalizada Antes da tecnologia e da IA na educação, já se buscava personalizar o processo de ensinar e aprender (Foto: Pexels)

A educação moderna enfrenta o desafio de atender às necessidades individuais dos alunos em um ambiente de aprendizagem diversificado. Cada aluno tem seu próprio ritmo de aprendizagem, preferências e estilos cognitivos. Nesse contexto, a personalização da aprendizagem emergiu como uma abordagem promissora para criar experiências educacionais mais eficazes e envolventes.

Embora a tecnologia e a inteligência artificial (IA) tenham um papel importante a desempenhar na personalização da aprendizagem, é fundamental destacar que a personalização pode ocorrer independentemente do uso desses recursos.

A personalização da aprendizagem reconhece que cada aluno é único e possui diferentes necessidades e habilidades. Ao personalizar os docentes podem criar um ambiente mais inclusivo e adaptado às características individuais dos alunos, que visa maximizar o potencial de cada estudante, promovendo um engajamento mais profundo e resultados mais significativos.

 

 Personalização da aprendizagem sem o uso de tecnologia

 

Antes da tecnologia e da IA na educação, já se buscava personalizar o processo de ensinar e aprender. Para isso, foi preciso dar voz e espaço aos alunos. Metodologias diferenciadas e revisão nos objetivos de aprendizagem foram essenciais para associar os elementos “o que, por que, como e para que” aos resultados alcançados e culminar com os resultados esperados.

Algumas estratégias eficazes incluem diferenciação instrucional: os docentes podem adaptar a instrução, o conteúdo e as atividades de acordo com as necessidades dos alunos. Isso pode envolver agrupamento flexível, ajuste do ritmo de ensino, oferecimento de recursos adicionais ou diferentes formas de avaliação. Para tanto, os diagnósticos sobre o perfil dos alunos passaram a ser constantes. Conhecimento dos alunos: com o diagnóstico, compreender as características individuais dos alunos, como seus estilos de aprendizagem, interesses e experiências prévias permite aos docentes personalizar o conteúdo e as abordagens instrucionais para tornar a aprendizagem mais relevante e significativa. Feedback contínuo: fornecer feedback específico e construtivo aos alunos permite que eles compreendam seus pontos fortes e de melhoria. Os docentes podem adaptar seu feedback de acordo com as necessidades individuais de cada aluno, fornecendo-lhe orientações personalizadas para o progresso acadêmico.

 

Leia: Motivação do corpo docente é desafio para a gestão

 

Idealmente as estratégias acima são muito eficazes. No entanto, o número de alunos em sala e a carga horária docente pareceram incompatíveis com a prática eficiente delas. Então, como a introdução da tecnologia nos processos de ensino e aprendizagem poderia ajudar na otimização do tempo e na personalização da aprendizagem? A tecnologia e a IA oferecem oportunidades adicionais para a personalização da aprendizagem. Alguns exemplos de como os docentes podem aproveitar essas ferramentas incluem plataformas de aprendizagem adaptativa, que utilizam algoritmos de IA para ajustar o conteúdo e as atividades com base no desempenho e nas necessidades de cada aluno.

Isso permite que os estudantes avancem no seu próprio ritmo e recebam recursos adicionais quando necessário. Análise de dados de aprendizagem: as ferramentas permitem que os docentes coletem e analisem informações sobre o desempenho e o progresso dos alunos. Isso ajuda a identificar áreas de dificuldade e a adaptar a instrução para atender às necessidades individuais dos alunos. Recursos interativos: tecnologias como vídeos, simulações, jogos educacionais e realidade virtual fornecem experiências de aprendizagem interativas e envolventes. Os docentes podem selecionar e adaptar esses recursos para atender às necessidades específicas dos alunos.

A IA propõe uma personalização profunda no sistema educativo, mas não devemos esquecer o quanto o período da pandemia limitou as relações interpessoais e o entrosamento entre estudantes que, mesmo no ambiente virtual, se tornou restrito, unindo pessoas com interesses semelhantes e gostos afins. Daí o cuidado de não nos isolarmos nas especificidades de nossas particularidades ou de fazer parceria somente com a tecnologia. Atualmente, a maioria não está isolada, mesmo sozinha. A tecnologia tornou-se nossa parceira mais fiel e presente que interfere nas nossas escolhas, na modelagem de nossas ideias, no escudo de nossas opiniões e na influência de nosso comportamento. 

 

Revista Educação | Tecnologia pode ser aliada da educação, mas uso traz desafios

 

Os debates, os artigos e as pesquisas sobre a incorporação da Inteligência Artificial no cenário da educação, desde a básica à superior, estão cada vez mais profundos, provocadores e, por que não, aterrorizadores. Temos lido e ouvido sobre seus benefícios e malefícios, e muitas pessoas ainda não possuem alguma opinião formada sobre o tema. O artigo “Estamos falando do possível fim da história humana”, de Yuval Noah Harari, publicado pelo The Economist em 28 de abril deste ano, aborda a preocupação com o avanço da inteligência artificial (IA) e seu potencial impacto na sociedade. Destaca que a IA adquiriu habilidades notáveis para manipular e gerar linguagem, o que afeta a base da cultura humana. 

Harari também comenta sobre a influência da IA na criação de histórias, leis, religiões e sua capacidade de formar relacionamentos íntimos com as pessoas. Alerta-nos para os riscos de manipulação, influência política e a possibilidade de vivermos em um mundo de ilusões criadas pela IA. Ele também menciona a necessidade de regulamentar a IA para garantir seu uso responsável e evitar a perda da democracia. O autor defende, ainda, que a identidade da IA deve ser obrigatória. Se estamos conversando com alguém que não se revela IA ou humano, será o fim da transparência e da democracia. E se estamos falando de personalização para o desenvolvimento humano, social, intelectual e emocional de nossos estudantes, de acordo com Harari, a IA já quase nos ultrapassa nisso. 

 

Opinião | Por que a educação personalizada interfere na experiência de aprendizagem dos estudantes? 

 

Personalizar a aprendizagem inclui dizer ao estudante como pode desenvolver domínios cognitivos, socioemocionais e psicomotores com a ajuda de sua fiel parceira, a tecnologia. Daí a necessidade de incluir também os aspectos éticos, morais e reguladores do uso da IA. A personalização da aprendizagem pode desempenhar um papel significativo no desenvolvimento metacognitivo dos alunos. A metacognição refere-se à capacidade de os alunos refletirem sobre o próprio pensamento e processo de aprendizagem, compreendendo seus pontos fortes, desafios e estratégias eficazes para alcançar sucesso acadêmico, intelectual e pessoal.

A metacognição promove o autoconhecimento dos alunos, permitindo-lhes fazer escolhas educacionais alinhadas às suas preferências e necessidades. Eles estabelecem metas individuais e monitoram seu próprio progresso, desenvolvendo uma compreensão mais profunda sobre si mesmos. Os alunos experimentam diferentes estratégias de aprendizagem, refletindo sobre sua eficácia e selecionando as melhores técnicas para melhorar seu aprendizado. Além disso, recebem feedback personalizado e são incentivados a realizar autoavaliação. 

 

Leia também: Tempo e oportunidade para enriquecer a ação docente

 

Os docentes desempenham um papel fundamental ao conhecer seus alunos, adaptar a instrução, fornecer feedback efetivo e criar um ambiente de aprendizagem diversificado e inclusivo. Ao combinar abordagens pedagógicas centradas no aluno com o potencial da tecnologia e da IA, os educadores podem oferecer experiências de aprendizagem personalizadas e significativas, preparando os alunos para enfrentar os desafios do mundo em constante mudança.

Por: Ana Valéria Reis | 30/06/2023


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