Tanto professores quanto gestores desempenham um papel vital na criação de um ambiente emocionalmente positivo
ambiente que promove a expressão saudável das emoções contribui para o bem-estar dos estudantes (foto: Freepik)Você já se perguntou como as emoções impactam a capacidade de aprender? Como os professores e gestores da sua IES têm usado o poder da emoção para manter a atenção e o foco dos estudantes em seu processo de aprendizagem? E mais importante: como aproveitar essa conexão emocional para a potencializar o processo educacional?
Estas questões podem servir como ponto de partida para fundamentar reflexões sobre a possibilidade de explorar as complexidades da relação entre emoção e aprendizagem de maneira mais profunda e significativa no âmbito institucional.
Se você é um professor ou gestor institucional, certamente já deve ter sentido que uma aula envolvente emocionalmente é aquela que deixa uma marca duradoura na mente dos estudantes. Afinal, a aprendizagem não se trata apenas de decorar conceitos, fatos ou fórmulas, mas ocorre quando um sujeito tem uma mudança relativamente permanente no comportamento, cognição, função cerebral, habilidades ou conhecimento como resultado de suas experiências.
Como a aprendizagem é constituída a partir das experiências e estas experiências, por sua vez, são geradas por estímulos externos percebidos pelos sentidos e comunicados ao cérebro para processamento, a emoção, neste contexto, influencia os processos cognitivos dos seres humanos, incluindo percepção, atenção, memória, raciocínio, capacidade resolutiva, o que impacta diretamente o processo de aprendizagem.
As emoções são a chave para a captura da atenção, sentidos e permanência do foco. É só pensar sobre o fato de que um docente altamente carismático consegue manter toda a turma vidrada em suas palavras. Isso ocorre porque a emoção é a chave para manter a atenção e o controle atencional é um dos principais pontos para aprender.
Nas últimas duas décadas, os avanços na neurociência revolucionaram a forma como pensamos sobre a ligação entre a aprendizagem, as emoções e o cérebro. Temos agora amplas evidências de que as emoções e aprendizagem estão inextricavelmente ligadas. E se sentimos, logo aprendemos, vale Vale destacar que as emoções ampliam o nível de memorabilidade e geram uma aprendizagem mais autêntica, profunda e permanente no processo de aprendizagem e este é exatamente o ponto: como profissionais da educação não apenas devemos reconhecer essa ligação emocional, mas também cultivar emoções positivas de maneira estratégica para potencializar a experiência de aprendizagem na educação superior.
É preciso estar atento para dialogar com os estudantes sobre as emoções negativas que situações acadêmicas podem gerar. Desde a atitude do docente, a linguagem corporal e o tom de voz até encorajar a exposição do estudante a situações que o deixam nervoso, como falar na frente dos colegas, fazer uma prova final importante, ou trabalhando em uma tarefa com um prazo excessivamente curto. Como professores, ter esse conhecimento sobre a aprendizagem humana é inestimável, pois podemos adaptar nossas aulas às necessidades emocionais dos alunos e melhorar os processos de ensino e aprendizagem.
Mas como gerar o envolvimento emocional positivo para promover uma aprendizagem mais profunda e comprometida com os processos de aprendizagem? Selecionei três abordagens estratégicas que considero essenciais para aplicação na sala de aula.
A sala de aula é um ecossistema diversificado, composto por docentes e discentes únicos, cada um com suas próprias experiências, perspectivas e habilidades. Reconhecer e valorizar essas singularidades é essencial para criar um ambiente educacional enriquecedor e inclusivo.
Parte da razão pela qual os estudantes desistem de tentar aprender é porque acham difícil e pensam que estão sozinhos nesse esforço. Quando os estudantes trabalham juntos, têm a oportunidade de se conectarem uns com os outros. Já conectados com as ideias dos outros, desenvolvem um nível mais alto de compreensão e conexão emocional.
Uma das estratégias que aplico com frequência é a “meu avatar” que tem o objetivo de propiciar que os participantes tenham noções rápidas das pessoas da sua turma com o intuito de criar memórias visuais que proporcionam conversas entre pessoas, à medida que a aula ou uma reunião progride.
Inicio solicitando que os estudantes imaginem o que poderiam dizer sobre si mesmos em relação aos seus gostos, interesses e hobbies, estilos de aprendizagem, além de outras características, e registrem nos avatares impressos ou virtuais.
A ideia é que todos se conheçam, fugindo da clássica apresentação, de forma criativa e personalizada para reconhecer as similitudes entres os participantes. Para turmas que já se conhecem, vale um momento para registar as qualidades individuais por meio de notas autoadesivas em torno do avatar.
Tanto professores quanto gestores desempenham um papel vital na criação de um ambiente emocionalmente positivo. Um ambiente que promove a expressão saudável das emoções, a empatia e o respeito mútuo contribuem para o bem-estar dos estudantes e, por sua vez, melhora sua capacidade de aprendizado.
A neurociência ressalta que o estresse constante, a ansiedade e o medo podem prejudicar o funcionamento do cérebro e inibir a apropriação de novos conhecimentos. Portanto, investir em estratégias, abordagens e checagens criativas pode favorecer a geração de emoções positivas.
Para iniciar a aula, faça uma checagem das emoções usando a indicação de memes, por exemplo, e peça que comentem um pouco sobre os sentimentos do momento. Isso é bem interessante em dia de apresentação de trabalho, prova, ou assunto mais denso. Pode ser uma espécie de articulador para uma fala docente mais encorajadora e consciente.
Para tratar de uma temática difícil, um problema com algum professor, coordenador, situação etc., realize uma checagem para identificação do nível de segurança para verbalização das situações. Isso abre oportunidades de escuta e aumenta o nível de segurança para expor algum assunto mais sensível.
Atividades que envolvem interações sociais e colaboração entre os estudantes podem ativar áreas do cérebro relacionadas ao prazer e à recompensa, facilitando a aprendizagem. Relacionar o conteúdo a situações do cotidiano torna o aprendizado mais relevante e emocionalmente envolvente. Fornecer feedback construtivo e positivo contribui para a autoestima dos alunos, criando um ambiente de apoio emocional.
O capital social refere-se à rede de relações sociais, confiança mútua, normas e valores compartilhados que existem dentro de uma comunidade ou sociedade. É um conceito que enfatiza como as interações sociais positivas podem criar recursos valiosos para pessoas e grupos. No contexto da educação superior, o capital social envolve a construção de conexões, colaborações e relacionamentos saudáveis entre estudantes, professores, funcionários e a comunidade acadêmica em geral.
A promoção de atividades de aprendizado em grupo, projetos colaborativos e discussões em sala de aula que incentivem a colaboração entre os estudantes cria oportunidades para construir laços e desenvolver confiança.
Neste contexto, é importante variar os membros dos grupos, criar comunidades de aprendizagem, favorecer as redes de relacionamentos, promover clubes acadêmicos (on-line e presenciais), eventos sociais e outras atividades extracurriculares que facilitem a interação e o estabelecimento de relações entre eles para que possam promover o networking, além de criar espaços para expressão dos relacionamentos e vínculos.
Para aumentar o capital social dos estudantes, indico a organização de um Meetup, um encontro informal para que as pessoas conversem de pé, facilitando a circulação e o networking. Esta é uma ideia muito comum praticada no Vale do Silício.
Como os estudantes são iniciantes, neste processo, vale criar uma espécie de “Roteiro para um Meetup incrível”, com perguntas e possíveis interesses que podem realizar com os colegas da mesma turma ou de um curso, já preparando-os para uma situação profissional.
Eu costumo variar o conjunto de perguntas, dependendo do curso, tempo e quantidade de pessoas, mas de modo geral, sempre utilizo estas:
Lembre-se de que as perguntas devem ser abertas e estimular conversas significativas. Encoraje os estudantes a compartilharem suas experiências, ideias e opiniões para enriquecer as interações durante o Meetup e fortalecer as conexões.
Desenvolver o capital social na educação superior é fundamental para criar um ambiente de aprendizado enriquecedor, promover o sucesso dos estudantes e fomentar uma cultura de colaboração e apoio.
Na educação superior, as emoções podem ser uma prática poderosa para enriquecer o aprendizado e aumentar a percepção de valor da experiência de aprendizagem. Professores e gestores desempenham um papel central nessa abordagem, aproveitando o poder das emoções para envolver os estudantes de forma mais profunda e duradoura.
Imagine despertar a curiosidade e a motivação dos estudantes através de conexões emocionais genuínas. Essa abordagem não apenas amplifica a compreensão, mas também fortalece a coesão da comunidade educacional.
Nesse contexto, explorar a relação entre emoção e aprendizagem é uma oportunidade que não deve ser perdida. Seja você um educador ou gestor, considere estratégias que valorizem a influência das emoções no processo de aprendizagem. O resultado? Um aprendizado mais significativo e uma educação que impacta de maneira positiva a vida dos estudantes.
Por: Thuinie Daros | 28/08/2023