Inovação

Colunista

Marina Feferbaum

Coordenadora do CEP e da área de metodologia de ensino da FGV Direito SP

Geração GPT: Enfrentar divergências e explorar oportunidades

Banir a utilização do GPT do ambiente de ensino não parece uma opção adequada. É fundamental investir em pesquisa e formação docente

ChatGPT É fundamental investir em pesquisa e formação docente

Este ano, o prof. Fabio estabeleceu uma nova regra: antes de entrar na sala de aula, todos os alunos devem depositar seus eletrônicos em caixas, permanecendo ali até o fim da aula. A profa. Maria Tereza, diferentemente, reformou sua disciplina para tornar obrigatório o uso de ferramentas GPT nas atividades formativas e avaliativas.

Esses são apenas exemplos fictícios, mas que ilustram a realidade das divergências quanto ao papel da tecnologia em sala de aula e que precisam ser debatidos na academia. Antes de tudo, porém, é importante registrar que ambas as propostas são válidas, desde que adequadas ao objetivo pedagógico pretendido.

Tais divergências vão além daquelas relacionadas ao uso do celular em sala de aula. Num extremo, a tecnologia digital – particularmente a dos transformadores generativos pré-treinados (os GPTs, conforme a sigla em inglês) – é vista como uma grande ameaça à sociedade e ao emprego; no outro, como uma enorme conquista da humanidade, cujo desenvolvimento tem de acontecer na maior velocidade possível. Trata-se, grosso modo, de uma disputa entre ideologia e pragmatismo.

Na sala de aula, o GPT, tão logo disponibilizado, chamou a atenção de docentes e gestores por sua capacidade de cumprir razoavelmente bem e de maneira praticamente instantânea diversas atividades de produção de texto e resolução de problemas. Isso se deu tanto nas tarefas planejadas para promover a aprendizagem como aquelas concebidas enquanto instrumentos de avaliação, comprometendo de maneira contundente a missão formativa do programa. Afinal, os principais instrumentos para pressionar a dedicação discente tornaram-se sem efeito. Daí a reação de banimento cautelar da tecnologia dos meandros acadêmicos.

 

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O receio, claro, é concreto e verdadeiro, pois a tecnologia generativa é um atalho na produção de conteúdo. Ela, porém, não é definitiva, pelo menos não no estado atual. Há necessidade de checagens e aperfeiçoamentos das respostas geradas pela IA. Existem, inclusive, estudos que apontam as limitações da tecnologia e as dificuldades de superá-las.

Contingências à parte, nestes tempos de IA generativa, os instrumentos formativos e avaliativos requerem novas estratégias para engajar o aluno. No passado não digital, no do papel e caneta (quiçá da calculadora), o mero ato de escrever já produzia algum tipo de registro na memória, até mesmo em casos de plágio puro, em que o simples ato de copiar já imprimia na rede neural biológica fragmentos de informação. Eram horas de cadeira que, no mínimo, ajudavam a fixar o conteúdo. A IA generativa serve principalmente para economizar esse tempo. Não por acaso, torna a produção pura e simples de conteúdo uma tarefa sem valor agregado.

Ora, a promessa da tecnologia GPT é exatamente aliviar o usuário do trabalho bruto, produzindo conteúdo mais ou menos acabado. Com isso, aumenta-se o tempo disponível para seu refinamento. Logo, é um potencial aliado ao exercício da reflexão crítica.

 

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Fazer dos GPTs aliados do processo de ensino-aprendizagem não é uma tarefa trivial. Esperar que o docente o faça espontaneamente é, no mínimo, um desrespeito à docência. Planejar aulas já custa tempo. Desenvolver métodos de ensino e de avaliação, além de tempo, requer conhecimento específico que não se adquire sem investimento dedicado a isso.

Ao mesmo tempo, banir totalmente a utilização do GPT do ambiente de ensino não parece uma opção adequada. Afinal, seu uso como ferramenta de produtividade é inevitável em vários cenários, haja vista seu potencial econômico. Logo, é necessário avançarmos no repertório metodológico, identificando boas aplicações práticas dele em sala de aula e situações em que sua proibição deva ocorrer. É, portanto, fundamental investir em pesquisa e formação docente, bem como incentivar o debate na comunidade docente.

 

Por: Marina Feferbaum | 05/03/2024


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