Revista Ensino Superior | Educação emocional, tarefa que se deve cumprir divertidamente

Educação

Colunista

Josiane Tonelotto

Superintendente acadêmica do Centro Universitário Belas Artes

Educação emocional, tarefa que se deve cumprir divertidamente

Filmes da Pixar abordam emoções humanas de forma criativa e profundamente significativa

Divertida Mente Diverida Mente 2, novo filme da Pixar, traz um novo grupo de emoções para representar a adolescência (imagem: reprodução/Trailer)

Depois de ter assistido há alguns anos ao filme Divertida Mente, na semana passada chegou a vez do Divertida Mente 2. Isso me fez parar para pensar sobre a importância da educação emocional na vida das crianças e, principalmente, dos adolescentes – tarefa tanto da família quanto da escola. Os filmes abordam de forma criativa e profundamente significativa as emoções humanas e como elas ocorrem e se alternam na vida de uma criança e no início da adolescência. No primeiro filme as emoções personificadas são a alegria, tristeza, raiva, medo e nojo. Já no segundo, além dessas emoções aparecem a ansiedade, a inveja, o tédio e a vergonha. 

Em ambos os filmes, a sequência dos acontecimentos e as interações entre as emoções, mostram claramente como a personalidade da protagonista vai sendo forjada e como isso se relaciona com seu bem-estar.  Inicialmente ela se defronta com as emoções mais básicas, e o domínio é da alegria; posteriormente a emoção dominante se torna a ansiedade, pelo que está por vir. De uma forma acessível e envolvente mostra-se a complexidade do mundo emocional humano e como a forma com que aprendemos a lidar e gerenciamos nossas emoções é essencial para o desenvolvimento saudável.

Sem dúvida alguma, a complexidade das mudanças experimentadas na adolescência, decorrentes de uma série de mudanças físicas, cognitivas e emocionais merece atenção. São muitas incertezas e uma vulnerabilidade evidente que não podem e não devem passar despercebidas. Trata-se de um período de vida em que as emoções precisam de uma compreensão mais profunda.

 

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Será que damos o devido valor a esse período tão importante? Como pais e professores costumamos refletir sobre como a resolução dos conflitos dessa fase repercutem para a vida toda? Será que não nos acomodamos achando que é um processo natural e que tudo se resolve? Às vezes não é bem assim e esse período cria dificuldades ao longo da vida que poderiam ser evitadas e isso fica bem claro quando recebemos esses estudantes na educação superior.

A importância de nos preocuparmos com a educação emocional, tanto quanto o fazemos com a educação formal, reside no fato de ser por meio dela que as pessoas desenvolvem as inteligências interpessoal e intrapessoal, popularizada como inteligência emocional.  A educação emocional é essencial para o desenvolvimento pessoal, social e acadêmico, e desempenha um papel crucial no bem-estar geral, envolvendo a aprendizagem e a prática de habilidades que nos ajudam a reconhecer, compreender, expressar e gerenciar nossas emoções de maneira saudável e construtiva. 

Tanto as famílias quanto as escolas desempenham papéis cruciais nesse processo, porque devem fornecer o suporte necessário para que crianças, adolescentes e jovens adultos possam desenvolver essas habilidades de maneira eficaz. As famílias são os primeiros ambientes nos quais as crianças começam a aprender sobre emoções. O apoio emocional dos pais, especialmente durante transições difíceis, como entrada na escola, participação em competições e outras, é fundamental. A presença de figuras parentais que validem e discutam abertamente como as emoções surgem, como interferem e como se lida com elas pode nos ajudar desde pequenos a entender que mesmo as emoções negativas, têm valor e propósito.

 

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Desde pequenos precisamos entender que não é possível sermos felizes sempre, e são os pais os primeiros a ajudarem seus filhos a entenderem isso. Não se pode evitar as frustrações, mas preciso estar próximo quando elas acontecem. Essa não é uma tarefa fácil. Deixar e experimentar nossos filhos sendo frustrados e contrariados requer tranquilidade e confiança, principalmente numa sociedade que valoriza o sucesso e a felicidade.

Não é diferente o papel da escola, que é um ambiente em que crianças e adolescentes passam a maior parte do tempo. Esse espaço é fundamental para a socialização e o desenvolvimento emocional. Na escola, a convivência e as disputas naturais ganham efeitos profundos e duradouros no bem-estar dos estudantes. Nesse ambiente se ensinam habilidades de regulação emocional, empatia e resolução de conflitos que vão equipar os jovens com as ferramentas necessárias para navegar nas complexidades das interações sociais e dos desafios acadêmicos e profissionais que estarão presentes ao longo da vida.

 

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A chegada à universidade coloca à prova a educação emocional recebida pelos jovens. Nesse período se tudo deu certo, as ferramentas necessárias para reconhecer, entender e manejar as próprias emoções devem ter sido desenvolvidas, constituindo pilar fundamental para a manutenção de uma boa saúde mental. No entanto, essa nova fase ainda exige cuidados para se consolidar. Essa é a etapa em que o jovem adulto se prepara para ser um profissional e para enfrentar novas demandas que não exigirão dele apenas competência profissional. Algumas competências emocionais devem ser aprimoradas passo a passo para que o desenvolvimento se complete: resiliência, crítica e autocrítica, autoconsciência, empatia e tantas outras. Temos que auxiliar nossos estudantes no manejo do stress e redução da ansiedade, na melhoria do bem estar geral e principalmente na prevenção de problemas de saúde mental. 

Para que tudo isso ocorra naturalmente, como vimos, a continuidade da educação emocional é imprescindível e tarefa diária, mesmo na educação superior. Programas de educação emocional e apoio à saúde mental são muito bem vindos e podem ser evidenciados nas matrizes curriculares, na capacitação de docentes e funcionários, em serviços de aconselhamento e tantas outras oportunidades que não percam de vista o ambiente de apoio necessário. Nossa preocupação deve ser sempre o desenvolvimento acadêmico, mas nunca desvinculado do desenvolvimento pessoal. A evolução da sociedade, com o aumento dos problemas de saúde mental, e demandas não atendidas de adequação dos jovens ao mercado de trabalho têm deixado claro que nosso papel em ensinar a lidar com as emoções será maior a cada dia.

 

Veja o trailer de Divertida Mente 2

 

Por: Josiane Tonelotto | 16/07/2024


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