NOTÍCIA
O ano de 2024 foi de ajustes e de preparação para crescer; 2025 depende das políticas econômicas e do bom humor do mercado
Publicado em 26/12/2024
O ano de 2024 chega perto do fim e nem mesmo a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 3,2% para 3,5%, será motivo de calmaria. O dólar bate recordes diariamente, o ajuste fiscal é visto como insuficiente e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, inadequada.
Enquanto isso, no ensino superior privado as coisas parecem repetir tendências do mercado, mantendo as diferenças de resultados em relação ao tamanho das instituições. Enquanto os grandes players do setor, que detêm quase 60% das matrículas, investem cada vez mais em tecnologias de ponta, os pequenos e médios grupos apostam em estratégias variadas, tentando fazer com que seus diferenciais competitivos os levem a resultados positivos.
Os reflexos da pandemia de covid ainda são presentes tanto na economia quanto na educação, porém, parecem ir paulatinamente perdendo força. Um dos indícios disso é a volta da procura por cursos presenciais. O ensino a distância, em contrapartida, apresentou queda mesmo nos grandes grupos, o que fez com que a sua oferta fosse ficando mais variada.
É o que mostra a Estácio, instituição que faz parte de um dos grandes grupos do mercado do ensino superior privado, o Yduqs, que responde também por Ibmec e Idomed. O CEO Aroldo Alves avalia que 2024 foi um ano de destaque na diversificação do portfólio e na inovação tecnológica. “A Estácio se consolidou como pioneira no modelo híbrido em escala, ampliando possibilidades de estudo acessíveis para diferentes perfis. O investimento contínuo em transformação digital também se mostrou um diferencial, com ferramentas avançadas que elevam a qualidade acadêmica e a eficiência operacional”, diz o executivo, que é também vice-presidente do grupo Yduqs.
A diversificação apontada por Alves inclui a expansão dos cursos técnicos, uma demanda que parece sempre reprimida no país. A oferta de cursos técnicos de nível médio pela Estácio, que hoje tem 40 unidades pelo Brasil e 27 no estado do Rio de Janeiro, contribuiu para o desempenho, relata o executivo.
Além disso, a instituição embarcou também na onda da IA generativa, oferecendo sua versão dos serviços hoje mais comuns no universo dos bancos: ‘Tácia’, a Estácio virtual, oferece suporte acadêmico personalizado. A isso se junta também uma nova plataforma de carreiras, serviço já presente há bastante tempo em outras instituições (como a Cogna), mas que agora alardeia o uso da Inteligência Artificial para conectar alunos a oportunidades de emprego.
No geral, o grupo Yduqs soube equilibrar as diversas áreas. Nos primeiros nove meses de 2024 cresceu 26% em relação ao mesmo período de 2023, mesmo com um “cenário menos favorável”. Segundo os números apresentados no site do grupo, a área – ou “vertical”, no dialeto mercadológico – que fez a diferença foi a premium, que reúne Ibmec e Medicina, com crescimento de 36% e 10,8%, respectivamente, em sua base de alunos, na comparação com 2023. A maior parte desse resultado se deve ao campus Faria Lima, que oferece grande variedade de cursos, de administração a várias engenharias, passando por arquitetura e ciência de dados.
Mas houve quedas também na base de alunos. As graduações digitais refluíram 4,7% e a área presencial 8,4%, pior resultado. No que diz respeito ao tíquete médio, sempre comparando os primeiros nove meses de 2024 e 2023, houve crescimento de 9,2% no Ibmec e de 2,9% em medicina. Nas graduações, houve variação negativa de 4,9% no tíquete do digital e de -1,5% no total das graduações. No geral, a empresa está melhorando o perfil de sua dívida, mesmo pondo em prática um programa de recompra de ações.
Já uma instituição com perfil bastante diverso em relação à Estácio, o Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), sediado no estado do Rio de Janeiro e com polos EAD em 28 cidades, a maioria em seu estado de origem, comemora um aumento de 8% em sua base de estudantes. Confirmando a tendência de retorno dos estudantes aos cursos presenciais, foram estes os responsáveis pela maior parte deste aumento. Já tendo em seu histórico mais de 100 mil egressos, a Unisuam conta hoje com 35 mil alunos, dos quais 25 mil em cursos presenciais e outros 10 mil em EAD.
Segundo o gestor da instituição, Arapuã Motta Neto, além do aumento na base de estudantes, a Unisuam também comemora “a consolidação dos cursos de mestrado e doutorado e o lançamento de um novo programa de mestrado profissional em biopsicossocial. Também lançamos novos cursos, destacando-se o de terapia ocupacional.”
O tíquete médio cresceu em bases praticamente idênticas às da inflação prevista para o país fechar o ano, 5% de variação nas mensalidades, contra 4,9% do índice oficial da inflação. Motta Neto salienta que sua IES tem objetivos variados. “Adotamos uma política de preços que incentiva não apenas o acesso, mas também a conclusão do curso pelo aluno, valorizando o impacto do ensino e não apenas o custo.”
No entanto, para incentivar as matrículas de novos alunos, a instituição fez campanha em seu site, com cupons de desconto para aqueles que se matricularem de 9 a 30 de dezembro. A campanha reduz pela metade o preço de quase todas as graduações durante todo o primeiro semestre de 2025. Assim, o valor de cursos como o de odontologia (R$ 3.800 o tíquete cheio) e psicologia (R$ 1.660) saem, respectivamente por R$ 1.799 e R$ 879. Em administração, os novos alunos poderão pagar R$ 529 no presencial e R$ 215 no digital.
O gestor se mostra satisfeito com o desempenho da instituição no ano, lembrando que foram realizadas parcerias com instituições locais que devem trazer benefícios a partir de 2025. “A reitoria está focada no desenvolvimento de novas parcerias e na diversificação de receitas, com o objetivo de reduzir a dependência das mensalidades escolares”, esclarece o dirigente, no que pode significar uma explicação combinada com as promoções para novos alunos. Ou seja, o custo de captação seria compensado com as parcerias. Motta Neto, porém, preferiu não mencionar quais são os novos parceiros.
Em Sorocaba (SP), a 90 km da capital do estado, o Centro Universitário Facens, a antiga Faculdade de Engenharia de Sorocaba, prevê um crescimento de quase 7 vezes em relação à variação positiva de 3% que obteve em sua base de alunos em 2024, na comparação com o ano anterior. Hoje, a Facens tem 4 mil alunos de graduação.
E como atingir os 20% planejados para 2025? Mirando nas carências de áreas específicas de formação profissional, diz a reitora Patrícia Klahr. “Esse crescimento será impulsionado pela falta de profissionais de engenharia, arquitetura e tecnologia, conforme pesquisa da CNI que aponta um déficit de 75 mil engenheiros no mercado brasileiro. Na área de saúde, a OMS (Organização Mundial da Saúde) projeta um déficit de 10 milhões de profissionais de saúde até 2030.
Não por acaso, das quatro áreas em que Facens oferece graduação, duas das principais são engenharias (nove graduações) e saúde (seis graduações). No caso destes 15 cursos, todos são presenciais. Há, ainda, arquitetura e tecnologias. Esta última área oferece quatro diferentes graduações, sendo a de gestão em TI presencial e EAD e a análise e desenvolvimento de sistemas, que, além das duas possibilidades, pode também ser semipresencial.
Em relação a seu tíquete médio, a Facens manteve praticamente o mesmo número. Houve aumento de 5% na concessão de bolsas de estudo. O foco da instituição é que suas formações tenham alto nível de empregabilidade, respondendo a demandas sociais por meio de parcerias com empresas e organizações, tais como Huawei, Veolia, CPFL, Lenovo, CPQD, ABB, Emerson, Festo, Commscope, Instituto Fraunhofer.
A instituição ainda investe em áreas como sustentabilidade, saúde mental e segurança cibernética, em que um novo curso foi criado em parceria com a Lenovo.