NOTÍCIA
Insper era uma escola de negócios e nos últimos anos tornou-se maior e mais complexa. Hoje com sete cursos de graduação, mantém seu objetivo – formar líderes
Publicado em 03/01/2025
O Insper, Instituto de Ensino e Pesquisa, está localizado num dos centros financeiros e empresariais da capital paulista, o bairro da Vila Olímpia. O primeiro vestibular, em 1998, objetivou preencher as vagas do curso de administração e economia, que deu continuidade aos propósitos do fundador, o engenheiro e economista Claudio Haddad. Bem antes, em 1987, ele fundara um MBA em finanças.
Guilherme Martins, natural de Ubá, cidade da Zona da Mata Mineira, é o atual presidente. Formado em administração na Universidade Federal de Viçosa (UFV), com mestrado e doutorado em administração pela FGV, começou no Insper como professor assistente há 15 anos. Aprendeu a dar aulas, assumiu projetos, disciplinas, tornou-se professor em tempo integral, coordenador de cursos da graduação – “um mix de carreira docente” – e, desde 2017, colocou o pé na gestão, primeiro como diretor da graduação, e desde 2023 na presidência. “Vim do chão de fábrica”, diz.
Para Martins, a gestão de uma IES não pode ficar em segundo plano. “A empresa não deve ser menor do que a universidade. Se a área acadêmica é a única pauta, com uma governança incapaz de inovar, vai ficar limitada pela mediocridade da empresa que a suporta.” Para ele, sem ter uma empresa saudável, com processos bem estruturados, tecnologia, governança, políticas bem feitas, fóruns de debates e discussões, a inovação é apenas um sonho.
“Desde que assumi tenho investido tempo em colocar o Insper-empresa no mesmo padrão de qualidade do Insper-universidade, porque, se não ficar balanceado, um limita o outro.” Para atingir esse objetivo, Martins conta com Rodrigo Soares, vice-presidente acadêmico que no Insper já ocupou a Cátedra Fundação Lemann e foi diretor de pesquisa, e Marcelo Orticelli, vice-presidente de desenvolvimento organizacional, com uma trajetória de trinta anos no Itaú Unibanco, portanto, com vasta experiência em governança corporativa.
“O Insper era uma escola de negócios que basicamente entregava uma estrutura com sala de aula, professor, professores auxiliares e alunos engajados em empresas juniores. Nos últimos anos, a instituição tornou-se maior e mais complexa.” Hoje com sete cursos de graduação, o Insper mantém seu objetivo – formar líderes.
Cresceu também o interesse dos estudantes: 77% dos alunos chamados na primeira lista se matriculam. Há dez anos, esse percentual era de 35%. O Insper pretende crescer mais na graduação, porém, não o tanto que comprometa a metodologia pautada pela interdisciplinaridade e integração das áreas de conhecimento e de seus estudantes.
Em 2015, vieram as engenharias – mecânica, mecatrônica e computação – e inauguraram o modelo acadêmico integrado. “Ali decidimos não ter departamentos ou faculdades e ter um gestor único do programa. Há um diretor da graduação, um da pós e, embora também haja coordenadores de cada curso, o diretor tem o papel de promover a interdisciplinaridade. Há respeito ao core de cada curso, mas há a garantia de que o mecanismo promoverá essa interdisciplinaridade.”
Por exemplo, a empresa júnior é de engenharia e administração, com portfólio amplo, eletivas, e os estudantes se preparam para serem profissionais que atuarão em conjunto e terão uma visão interdisciplinar também acerca dos problemas da sociedade. Numa disciplina de blockchain, por exemplo, “é possível reunir um engenheiro de computação, um advogado, um administrador e um economista para que possam atuar em conjunto dentro das suas profissões”.
Martins afirma que o objetivo é formar o indivíduo com capacidades de conexão, empatia e com complementaridade de habilidades, características que costumam levar anos de carreira para se conquistar. “Um profissional que consiga ser, dentro das organizações em que ele vai liderar, uma espécie de broker – uma posição em que vai conversar com o engenheiro, o advogado, o economista. Para isso, é preciso conviver desde cedo com linguagens e mindsets, formas de pensar que são diferentes. Isso acelera a carreira.”
A gestão diferenciada impõe ao Insper um limite de crescimento. Graduação e pesquisa são os carros-chefes da instituição e, em dez anos, o número de alunos na graduação dobrou. Para não perder o DNA, Martins propôs ao Conselho do Insper uma discussão aprofundada. Qual o limite para esse modelo se manter sustentável e integrado? “Hoje temos quatro mil alunos, há dois anos eram três mil e queremos chegar, no máximo, a seis mil.”
Neste ano, na pós – MBAs, mestrados e doutorados – há de 2.500 a 3 mil estudantes; na educação executiva, 10 mil.
O modelo integrado gera efeitos na pesquisa. “Um advogado junto com um professor da mecânica para falar de propriedade intelectual é algo mágico. É o sonho que sempre buscamos: abordar as pesquisas a partir do problema e a área do conhecimento é o segundo nível”, detalha Martins.
Um dos maiores objetivos do Insper, agora, é que as graduações de engenharia e direito alcancem o mesmo nível de maturidade da escola de negócios, administração e economia. “O corpo docente ainda está crescendo e começa a avançar nas pesquisas.”
O Insper é uma das instituições de ensino brasileiras pioneiras na busca de relações com o mercado. Em 2010, implantou a REP, Resolução Eficaz de Problemas, uma disciplina que acontece dentro das empresas, em que os estudantes recebem mentoria dos profissionais. O professor está presente quando prepara o aluno para a disciplina e no momento de avaliá-lo.
“Os alunos coletam e analisam dados durante um semestre inteiro e propõem uma solução ao executivo da empresa. Os alunos também apresentam a proposta dentro do Insper. Pode ser que o executivo fique feliz com a proposta, mas aqui o aluno pode até ser reprovado. Importa ao Insper o processo, não apenas a resposta.”
Hoje, o programa envolve cerca de 150 alunos, 30 projetos por semestre, com a participação de 30 empresas. “Com as empresas no currículo os alunos aprendem na prática. E com toda a dificuldade, porque o professor não tem o gabarito desses projetos. Os alunos ficam inseguros – é a vida; todos ficamos inseguros com novos desafios.”
Recentemente, o Insper anunciou parceria com o grupo indiano TCS, que terá mil metros quadrados do campus para montagem de laboratório de inovação. “Eles trarão clientes e profissionais deles e trabalharão em desafios com alunos e professores.” O objetivo, explica Martins, é movimentar o campus. O Insper não vai lucrar com o aluguel do espaço, mas com a inovação.
O movimento do empreendedorismo é recente e ganha força a cada dia. “Ser empreendedor é útil até para quem se torna servidor público”, afirma Martins. Não se trata, portanto, de abrir um CNPJ. No Insper, desde 2017, o empreendedorismo é trabalhado de duas formas. A primeira delas é uma trilha de disciplinas eletivas, em que o aluno “ganha um banho” da linguagem que permeia o mercado do empreendedorismo, aprende sobre o comportamento empreendedor e a enxergar oportunidades.
A outra forma é acelerar a carreira do futuro empreendedor. “Se o aluno tem uma ideia de fato e quer colocar em prática, passa por uma banca. Se for detectado potencial e algum grau de estruturação, ele vai para o nosso hub de inovação, trabalhar na empresa dele e ser assessorado por nós. Vai ser incubado e o tempo dele dedicado à empresa conseguimos absorver como disciplina.”
De acordo com monitoramento do Insper, desde 2021, 57 startups de ex-alunos do Insper receberam investimentos da ordem de 7 bilhões de reais, o que abarca 18,3% do mercado brasileiro. São ex-alunos graduados há mais de cinco anos, às vezes vinte anos, e alunos de MBA. “O empreendedorismo é mais conciso na carreira já mais avançada do que no início. Nos EUA, o empreendedor já quebrou duas empresas antes de ter sucesso.”
Há dez anos, 90% dos alunos do Insper eram paulistanos, hoje, 65% vêm de fora, se mudam para São Paulo para estudar, configurando, portanto, uma diversidade regional no Insper. Há desafios na equidade de gênero. Há ações para aumentar o número de alunas, entre elas, uma professora que recepciona as visitantes e mostra o campus, evidenciando-o como um local seguro e saudável para elas.
O curso de direito, já no início, teve 60% de alunas. Martins conta que na engenharia a presença feminina é maior do que na média do mercado, mas ainda pequena. Já no curso de administração, a presença feminina é menor do que na média do mercado, “um gap que buscamos melhorar. O Insper pode ser mais feminino; estamos trabalhando nisso, um trabalho de formiguinha – porém, intencional”.
No quesito equidade racial, há ações específicas como a organização estudantil Raposas Negras, que discute políticas institucionais, e a criação de um setor de diversidade, dentro da área de pessoas, que também estabelece políticas, por exemplo, para a contratação de professores.
Hoje, há 10% de bolsistas na graduação; são quase 400 alunos e metade são pretos ou pardos. O bolsista integral, além de não pagar a faculdade, recebe ajuda de custo para não ter de trabalhar, e moradia. “Ele só precisa estudar.” Martins deseja dobrar o número de bolsas. Ele vivenciou o poder de transformação da educação.
“Desde os 10 anos de idade fui bolsista em colégio particular, depois estudei em universidade federal, mas mestrado e doutorado na FGV foram com bolsa. A educação transformou minha vida e a da minha família”, finaliza.