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Jabuti ajuda reconhecer academia

Prestígio do prêmio alavanca o capital simbólico das editoras e as vendas de obras premiadas e finalistas

Publicado em 21/01/2025

por Ensino Superior

Jabuti Os vencedores do Jabuti Acadêmico ganharam uma estatueta e um valor em dinheiro (foto: arquivo pessoal)

Por Marleine Cohen 

“Esse livro é para ganhar um prêmio.”

O comentário, feito pelo professor de arquitetura Carlos Antônio Leite Brandão, ao entregar os originais da obra Genealogia da cidade ao então diretor da editora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio Carsaladi, não podia ser mais premonitório: lançada em 2023 com uma tiragem inicial de 500 exemplares, a obra de 397 páginas foi contemplada, um ano depois, com a primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico na categoria “Arquitetura, Urbanismo, Design e Planejamento Urbano e Regional”.

Genealogia da cidade

Genealogia da cidade, de Carlos Antônio Leite Brandão: vendas aquecidas, prestígio e muitos convites (foto: arquivo pessoal)

Instituído em outubro do ano passado, o Jabuti Acadêmico tem apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e “visa reconhecer e enaltecer o valor das produções acadêmicas, científicas e profissionais que moldam e impulsionam o avanço do conhecimento no país”, como se lê no site da Câmara Brasileira do Livro, idealizadora da versão literária do prêmio, em 1958.

Ao primeiro finalista das categorias dos dois eixos contemplados – “Ciência e Cultura” e “Prêmios Especiais” –, a distinção garante uma estatueta e um valor em dinheiro de R$ 5 mil. Além de prestígio e muita visibilidade, assim como na versão literária.

 

Leia: Prêmio Jabuti valoriza pesquisa acadêmica

 

E não foi diferente com o professor Carlos Brandão. O longo trabalho iniciado ainda em 2011, a partir do preparo de aulas na Escola de Arquitetura da UFMG, acrescido de uma pesquisa de fôlego que uma bolsa do CNPq viabilizou a partir de 2016, resultou em convites e mais convites. “Conferências no Brasil, palestras no exterior, vendas alavancadas: é inegável o prestígio que um prêmio desses dá”, explica ele.

Carlos Antônio Leite Brandão

Professor de Arquitetura Carlos Antônio Leite Brandão, da UFMG: “Esse livro é para ganhar um prêmio” (foto: arquivo pessoal)

Entretanto, a atual diretora da editora da UFMG, professora da Faculdade de Letras, Carla Viana Coscarelli, espera mais da criação do prêmio acadêmico e projeta que “será apenas dentro de quatro ou cinco anos que as pessoas vão ficar aguardando por ele.”

“Não é ainda uma visibilidade que revolucione”, avalia.  “Notamos um incremento de cerca de 25% nas vendas desta obra, um aumento de acessos no site da Universidade, maior procura por outros livros da editora, mas esta primeira edição do Jabuti Acadêmico repercutiu mais no meio especializado; na grande mídia ela foi mais tímida. O prêmio literário é mais falado, mas creio que a premiação acadêmica ainda vai se consolidar com o tempo.”  

 

Estímulo à leitura

A avaliação da professora Carla também encontra explicação na postura que muitos pesquisadores universitários adotam perante o fruto de suas investigações. “Não tinha pretensão de concorrer a nada. Só soube que estava inscrito no prêmio quando fiquei entre os finalistas”, conta Carlos Almada, professor de Harmonia e Análise da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cujo livro, A melodia de Jobim, publicado pela Unicamp, em 2023, ganhou a primeira colocação na categoria “Artes”.

O trabalho, que dá seguimento ao livro Harmonia de Jobim, de 2022, resulta de um exame original e detalhado de aspectos diversos da estrutura da obra daquele que muitos consideram “o pai da Bossa-Nova”. Entretanto, admite Carlos Almada, trata-se de um estudo técnico, “que tem interesse para o público especializado – estudantes de música, músicos, instrumentistas e pesquisadores.”

Planos de divulgação? “Trabalhar o título no mercado exterior, junto a esse mesmo público, e, com minha equipe, estender o projeto a outros compositores”, adianta.

Segundo a diretora da editora da Unicamp, professora titular do Departamento de Linguística Edwiges Maria Morato, de fato, “a premiação no âmbito universitário é mais uma consequência, um resultado do trabalho realizado, do que propriamente uma meta, um objetivo ou um norteador por si mesma.”

 

Acesse: Entrevista com Silvia Pimentel, homenageada no Jabuti Acadêmico

 

O ganho maior, segundo ela, é “um capital simbólico” – “o interesse do público, que se traduz no estímulo à leitura e ao conhecimento dos livros; a confiabilidade no catálogo, na qualidade editorial e acadêmica da editora, na sua capacidade de difundir ao público mais amplo a agenda científica e a pesquisa brasileira por meio de seu instrumento de comunicação por excelência, que é a edição universitária.”

Destacando que a editora da Unicamp recebeu oito indicações ao prêmio, sendo três delas obras de autores da casa, de diferentes áreas, e foi vencedora em duas categorias, a professora Edwiges ainda explica que, para além do impacto significativo nas vendas, “a premiação pode indicar que estamos num bom caminho, que nosso catálogo é percebido como relevante, integrado e inovador em relação a uma agenda cultural e científica contemporânea, que a edição acadêmica pode ser feita com esmero autoral e alta qualidade editorial, e que nossas formas de prospectar obras devem ser compreendidas como fontes pertinentes de divulgação do conhecimento.”

História da Bioética no Brasil | Jabuti Acadêmico

História da Bioética no Brasil, título da PUC PRESS: um marco para a compreensão do percurso da bioética no Brasil

Prova disso é a obra finalista História da Bioética no Brasil, lançada em 2023 pela PUC PRESS, a editora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e indicada na categoria “Ciências Biológicas, Biodiversidade e Biotecnologia.”

 

Leia: O papel das IES na promoção do hábito de ler

 

Segundo Michele Oliveira, gerente da editora, “inscrever este título, ainda que não tenha ganho o prêmio, foi muito importante para nós, como IES privada: o reconhecimento foi muito bom e reverberou entre os outros autores e nas vendas”. 

Apontado como “uma das mais importantes fontes de pesquisa para os estudiosos da bioética no Brasil” pela presidenta da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), Elda Coelho de Azevedo Bussinger, o livro do professor Diego Carlos Zanella, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades e Linguagens da Universidade Franciscana (UFN, de Santa Maria, RS), e de Dirce Bellezi Guilhem, professora titular da UnB em bioética e ética em pesquisa, e membro da International Association of Bioethics, foi definido como “uma obra fundamental para fomentar o debate ético em torno das inovações científicas e dos desafios sociais que impactam a vida em todas as suas dimensões e já é considerado um marco para a compreensão do percurso da bioética no Brasil”. Um trabalho de referência, que, sem dúvida, dá “muita visibilidade à PUC-Paraná e se abre a amplas possibilidades de tradução para o mercado exterior”, avalia Michele.

 

Vendas triplicadas

Para colher todos esses frutos, por mais inovadora ou pertinente que seja, a obra acadêmica exige de seu autor tenacidade para enfrentar vários obstáculos: afora as verbas minguadas envolvendo pesquisa, edição e tiragem, ela exige tempo para se tornar palatável e ser publicada. Na ausência de profissionais especializados em edição de livros nas editoras acadêmicas, cabe muitas vezes ao próprio autor reescrever sua tese ou pesquisa para transformá-la em livro.

Mônica Tenaglia

Mônica Tenaglia, autora de “As comissões da verdade e os arquivos da ditadura militar brasileira”, durante premiação de obra publicada pela UnB (foto: arquivo pessoal)

Foi o que aconteceu com Mônica Tenaglia, historiadora e arquivista, que publicou pela editora da UnB As comissões da verdade e os arquivos da ditadura militar brasileira, agraciado com o Jabuti Acadêmico 2024 na categoria História e Arqueologia”.

“O livro, de 350 páginas, é resultado da minha tese de doutorado intitulada As Comissões da Verdade no Brasil: contexto histórico legal e reconstrução das estratégias e ações para o acesso aos arquivos, de 2019. Quando saiu a chamada pública para submeter trabalhos na UnB, me disseram que eu teria de reescrever a obra, para transformar a tese em livro. Precisei arrumar tempo para me dedicar a esta tarefa”, explica Mônica.

 

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O que se seguiu foi uma avalanche de acontecimentos, segundo ela. “O livro foi publicado como e-book em 2023 e, um ano depois, saiu uma primeira fornada de 300 exemplares.”

O sucesso e a relevância da obra foram tamanhos que ao lançamento na Bienal se seguiram a Feira de Livros da própria UnB, os congressos científicos, as palestras, as conferências, o prestigiado prêmio da Associação Brasileira de Editoras Universitárias e, por fim, o convite para participar da conferência da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Internacional de Arquivos (International Council on Archives – ICA), organização independente instalada na França, que visa fazer chegar aos órgãos competentes as boas práticas de gestão arquivística, para disponibilizar informação, investigação e educação para todos.     

Apesar da tiragem sempre acanhada, e do retorno financeiro correspondente, são trabalhos como esses que enchem os olhos das editoras acadêmicas: “Este é o atestado da qualidade do nosso trabalho”, argumenta Sofia Maria Rosa Franco, coordenadora comercial da editora da UnB, informando que “depois da premiação, a média mensal de venda da obra da professora Mônica chegou a triplicar”.

Mais que tudo, o sucesso da iniciativa despertou na editora algo que se assemelha a um novo ensaio comportamental: “A partir de agora, nossa produção está atenta aos títulos mais fortes para concorrer a premiações. Queremos montar uma lista de indicações ao próximo Jabuti Acadêmico e outros prêmios para repassá-la ao nosso Conselho Editorial”, informa Sofia Maria.

 

Jabuti Acadêmico 2025

A 2ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico será lançada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) no próximo dia 30 de janeiro de 2025, às 11h. Acesse o site da premiação e reelembre todas as obras vencedoras da primeira edição: https://www.premiojabuti.com.br/academico/o-jabuti-academico/ 

Autor

Ensino Superior


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