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NOTÍCIA
Gestores do setor falam sobre os tropeços das instituições na relação com o mercado
Publicado em 12/03/2025
A falta de entendimento sobre o agrossistema faz com que o potencial desse setor seja pouco explorado pelas instituições de ensino superior brasileiras. “O agrossistema é tratado quase que exclusivamente como algo rural, mas não é. O rural é um pedaço da cadeia, antes e depois disso há uma enormidade de atividades não rurais que interagem com esse sistema.” É o que destaca João Otávio Bastos Junqueira, conselheiro do Centro Universitário Fundação de Ensino Octávio Bastos (Unifeob), de São João da Boa Vista, no interior paulista. À Ensino Superior, Junqueira e outros gestores falam sobre o mercado agro e as oportunidades que as instituições têm deixado passar.
Na avaliação de João Otávio Bastos Junqueira, as IES precisam mostrar as possibilidades de trabalho que existem no mundo agro e que não necessariamente estão destinadas ao campo. “É preciso despertar no jovem urbano que ele pode trabalhar nesse setor sem necessariamente sair de sua rotina”, diz. Para o conselheiro da Unifeob, seja por desconhecimento ou por comodismo, as IES ainda estão engessadas – precisam se movimentar para acompanhar a tendência. “Temos, no Brasil, algumas vantagens naturais, como expansão territorial. Há, ainda, as vantagens tecnológicas e conseguimos tropicalizar a agricultura, por exemplo. Mas existe outra perna nesse ‘tripé’, que é a formação humana, e as universidades estão falhando em se atualizar nesse aspecto. Com o atual cenário mundial, vislumbra-se a oportunidade de o país ser um excelente fornecedor de alimentos, energia renovável, preservação de água e biodiversidade. O currículo das nossas instituições não está acompanhando essa necessidade do mundo”, detalha.
João Otávio Junqueira, da Unifeob: “O agrossistema tem soluções, mas elas precisam ser bancadas” (foto: arquivo pessoal)
“Com algumas exceções, as IES não conhecem esse mundo do agrossistema e o quão tecnológico é. Quando se fala sobre o agrossistema, permeia a imagem do Chico Bento com uma enxada na mão. Esse desconhecimento faz com que as instituições de ensino sejam muito passivas, à espera de uma demanda que precisa ser estimulada”, critica Junqueira. Na avaliação do profissional, o fortalecimento do agrossistema é também um caminho para diminuir os danos causados pela crise climática. “Quando falamos sobre biocombustíveis, por exemplo, temos uma tecnologia maravilhosa de combustíveis à base de cana, mas precisamos tornar esse produto internacional. Enquanto temos domínio acerca desse sistema, poucos países utilizam o álcool como combustível. E essa é apenas uma das alternativas. O Brasil tem coisas a mostrar e o agrossistema tem soluções, mas elas precisam ser bancadas”, exemplifica.
A declaração é reforçada na 15ª edição do Mapa do Ensino Superior, elaborado pelo Instituto Semesp e lançado para a imprensa nesta quarta-feira, 12. Segundo o documento, cursos como biocombustíveis, ciências ambientais, ecologia, energias renováveis e engenharia ambiental têm ainda mais relevância no contexto de crise climática. No entanto, esses cursos ainda apresentam um número reduzido de matrículas em comparação a cursos mais tradicionais, como agronomia e medicina veterinária.
Durante a apresentação do mapa para a imprensa, Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, chama atenção para o fato de que apenas 803 IES ofertam cursos relacionados ao agrossistema, enquanto o número de matrículas representa apenas 4,5% do total de matrículas do país. “Sabemos que o agronegócio é a área mais pujante da economia brasileira. Há potencial e uma grande oportunidade de avançarmos. Sem dúvidas, a empregabilidade será maior e faltará mão de obra qualificada nesse segmento.”
Acerca da baixa procura por cursos relevantes no contexto de crise ambiental, a presidente da entidade, Lúcia Teixeira, indica que a tendência é de crescimento. “São cursos mais recentes em termos da oferta, que passa a crescer agora. Podem ver que no EAD era mínima e passa a crescer agora. E no presencial, que abrange um maior escopo de áreas. É uma área que deve apresentar um grande crescimento à altura desse setor para o desenvolvimento do país. Cresce a conscientização.”
Em declaração para o mapa, o diretor da Universidade do Agro da Uniube, – localizada em Uberaba, MG, e uma das Universidades Inovadoras de 2024 –, Flávio Garcia Sartori, criticou a falta de uma divulgação clara sobre as possibilidades de inovação e tecnologia no segmento. De acordo com o diretor, esse é um aspecto que distancia os jovens. “Há a necessidade de uma comunicação voltada para os jovens que buscam o ensino superior nos dias de hoje. Trata-se de uma geração imediatista que busca por tecnologia e pela mecanização com o uso de inteligência artificial. Além disso, grande parte dos currículos das IES não atendem às necessidades das grandes empresas. Precisamos de maior conexão entre a sala de aula e o mundo do trabalho”, afirma.
“Muitas IES têm certa aversão à conexão com o mundo do trabalho. A partir do momento que a sala de aula é conectada com a revolução tecnológica do agronegócio, surge a demanda de formação de professores. É preciso conectar esse professor que até então ministrava o conteúdo de maneira passiva”, acrescenta Sartori.
Para Jeferson Vinhas, do Centro Universidade Integrado, os cursos do agrossistema devem contemplar as demandas de ESG (foto: divulgação)
Jeferson Vinhas, CEO do Centro Universidade Integrado de Campo Mourão (PR), também atribui a falta de entendimento das IES brasileiras à desconexão com o mercado de trabalho. A conclusão vem de um levantamento realizado pelo grupo com mais de 40 empresas. “Perguntamos sobre o tipo de profissional que essas empresas estavam recebendo, o tipo que gostariam de receber e qual o currículo que as IES precisam entregar para diminuir esse gap. Quando falamos em maior interação com o mercado, é importante ouvi-lo, apresentar projetos e identificar o que falta e o que pode ser alterado. O nosso currículo foi alterado pelo menos 43 vezes, porque a cada conversa surgiam contribuições belíssimas”, relata.
Segundo os dados publicados no Mapa do Ensino Superior, embora a representatividade dos cursos relacionados ao agrossistema ainda seja baixa em comparação ao total da educação superior, esses cursos apresentaram crescimento acima da média dos demais. Na rede privada, entre 2013 e 2023, o crescimento de matrículas na modalidade presencial foi de 43,2%. Na modalidade a distância, o aumento foi de 271,5%.
Flavio Garcia Sartori, da Uniube: “Falta de compreensão sobre as possibilidades de inovação e tecnologia distancia os jovens” (foto: divulgação)
Questionados sobre as oportunidades de emprego para aqueles que se formam em cursos do agrossistema, os profissionais concordam que há, sim, espaço no mercado de trabalho. Flávio Garcia Sartori cita a pesquisa Profissões emergentes na era digital: oportunidades e desafios na qualificação profissional para uma recuperação verde, produzida em 2022 pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) em parceria com o Senai e com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que estimava a geração de 178 mil vagas de emprego para 2023.
Como apresentado no mapa do Instituto Semesp, ainda que a representatividade dos cursos relacionados ao Agrossistema no ensino superior não seja grande, as áreas do agronegócio e do meio ambiente têm se profissionalizado cada vez mais, em especial graças a uma tendência de evolução tecnológica do setor, o que requer profissionais mais capacitados e especializados. Isso fica evidente com o crescimento no número de empregos formais de profissionais com graduação de 2019 a 2022, 15,4%, o dobro do aumento em relação às demais profissões no mesmo período (7,6%).
“Falta gente qualificada. Há uma lacuna de profissionais nesse setor, assim como na área de Tecnologia da Informação. Não se trata da falta de pessoas diplomadas, mas de pessoas que tenham uma boa formação. Quem apostar nisso não terá apenas emprego, mas empreendedorismo para o resto da vida”, sinaliza João Otávio Bastos Junqueira, que também enfatiza a importância da formação cidadã. “Formar pessoas com qualidade não se trata apenas de conhecimentos técnicos. Existem habilidades treináveis, como a empatia. As atuais discussões que tentam rotular a diversidade como algo ruim e a visão de que o mundo deve ser dos homens brancos, heterossexuais e ricos é maluquice. Precisamos de diversidade no mundo, integrar as pessoas, conviver com as diferenças. Traçar um checklist do que faz um bom cidadão, é traçar um checklist do que é um bom profissional.”