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Requisito essencial para o bem-estar, a adaptação não pode ser vista como uma responsabilidade exclusiva dos estudantes.
Março chegou e, com ele, o início de um novo curso na Belas Artes. Tive o prazer de ministrar a aula magna do curso de psicologia e de receber um grupo de estudantes cheios de energia, ávidos por conhecimento e por uma formação que os capacite para o exercício profissional. Olhei para cada rosto, alguns acompanhados pelos pais, e não pude deixar de refletir sobre a grande responsabilidade que temos ao formar pessoas que, de fato, possam fazer a diferença no mundo. Mas, para além disso, pensei na adaptação e em como, à sua maneira, cada um se apropria desse novo ambiente.
Ao ingressarem na educação superior e darem os primeiros passos na vida adulta, nossos estudantes rompem com contextos familiares e confortáveis que os acompanharam até então. O círculo de amizades, que por muito tempo permaneceu o mesmo, se dissolve, espalhando velhos amigos para os mais diversos lugares. Poucas amizades resistem a essa mudança. Inicia-se, então, um período de novas conquistas e de reconfiguração do ambiente social. Muitas vezes, essas rupturas são ainda mais intensas para aqueles que deixam suas cidades para estudar em outros lugares, onde as diferenças culturais e as novas dinâmicas de convivência podem ser percebidas como desafios ou até ameaças.
A natureza das atividades e dos compromissos acadêmicos também exige novas respostas. O que antes era acompanhado de perto pelos professores agora demanda amadurecimento e autonomia. Trabalhos e avaliações com outro nível de exigência podem ser encarados como obstáculos difíceis de transpor, quando, na realidade, representam etapas naturais do desenvolvimento acadêmico.
Todos esses pontos evidenciam o quanto esse período da vida exige dos estudantes um esforço significativo de adaptação. Afinal, trata-se de uma nova fase da vida, repleta de responsabilidades e desafios. A capacidade de adaptação é uma característica essencial para a nossa sobrevivência e bem-estar. Seja na biologia, na psicologia ou na sociologia, o conceito de adaptação, embora assumindo diferentes significados, sempre remete à necessidade de ajuste a novas condições. E isso nem sempre ocorre de maneira fluida e tampouco se manifesta da mesma forma para todas as pessoas.
Ainda que a adaptação seja uma experiência contínua, que se estende da infância ao envelhecimento, ela não acontece de forma linear. Trata-se de um processo dinâmico, permeado por avanços e retrocessos, e vivenciado de maneiras distintas ao longo da vida. Em alguns momentos, as mudanças ocorrem de maneira quase imperceptível, enquanto, em outros, impõem um esforço significativo, exigindo tempo, resiliência e suporte emocional. Cada fase da vida traz desafios específicos, e cada indivíduo responde a eles de acordo com sua bagagem emocional, social e psicológica.
Além disso, a adaptação não ocorre com a mesma facilidade para todos. Enquanto algumas pessoas lidam bem com mudanças e se ajustam rapidamente a novas realidades, outras encontram extrema dificuldade em sair de suas zonas de conforto. Isso pode estar relacionado a diferentes fatores, como traços de personalidade, experiências anteriores, contexto social e até mesmo predisposições genéticas.
O psicólogo Richard Lazarus, em sua Teoria do Estresse e da Adaptação, argumenta que a maneira como interpretamos uma mudança determina nosso nível de estresse diante dela. Se uma nova situação é vista como um desafio superável, a adaptação ocorre de forma mais fluida. No entanto, se for percebida como uma ameaça incontrolável, a tendência é o desenvolvimento de sofrimento psíquico, podendo levar à ansiedade, depressão e outros transtornos emocionais.
A forma como interpretamos os eventos ao nosso redor influencia diretamente nossas emoções e comportamentos. Quando percebemos que não possuímos os recursos necessários para enfrentar uma mudança, nossa capacidade de adaptação é comprometida, o que pode gerar sentimentos de desamparo e frustração. Mas por que isso acontece? Por que nos desestabilizamos diante de situações inesperadas e novas?
Não podemos esquecer que o cérebro humano é programado para buscar previsibilidade e segurança. Quando confrontado com mudanças inesperadas, o sistema límbico, responsável pelas respostas emocionais, pode reagir de forma intensa, gerando ansiedade e resistência. Esse mecanismo biológico explica por que tantas pessoas enfrentam dificuldades ao lidar com transições significativas, como mudanças de carreira, término de relacionamentos ou adaptação a novas culturas e ambientes. Em alguns casos, essa dificuldade pode ser tão acentuada que leva ao desenvolvimento de sintomas como ansiedade, irritabilidade e desmotivação diante de situações novas.
A adaptação é um requisito essencial para o bem-estar e, no contexto da educação superior, não pode ser vista como uma responsabilidade exclusiva dos estudantes. Esse processo envolve desafios que vão além do domínio do conteúdo acadêmico e, por isso, as instituições de ensino desempenham um papel fundamental na criação de um ambiente que favoreça essa transição.
Garantir que os jovens encontrem suporte tanto intelectual quanto emocional é essencial para que possam lidar com as exigências desse novo ciclo sem sobrecarga excessiva. O acolhimento deve ir além de boas-vindas protocolares e se concretizar em ações eficazes, como programas de mentoria, espaços de escuta, suporte psicológico acessível e práticas pedagógicas que incentivem a participação ativa dos estudantes.
Criar uma cultura institucional que valorize o desenvolvimento humano em sua totalidade, compreendendo que cada aluno traz consigo uma bagagem única, com diferentes ritmos e estratégias para lidar com desafios, faz parte da missão de toda instituição de ensino superior.
A adaptação ao ambiente acadêmico não é apenas um requisito para o bom desempenho acadêmico, mas também um fator determinante para a permanência e o sucesso dos estudantes na universidade. Formar profissionais competentes é fundamental, mas tão essencial quanto isso é garantir que esses jovens encontrem, no percurso acadêmico, um espaço que os prepare não apenas para o mercado de trabalho, mas para a construção de uma trajetória significativa e equilibrada ao longo da vida.
Por: Josiane Tonelotto | 14/03/2025