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IES devem redefinir a essência da proposta de valor da educação superior
Você sabe a diferença entre eficiência e relevância? Imagine investir em uma fábrica de máquinas de escrever com tecnologia produtiva de última geração. O problema é claro, ninguém mais usa máquinas de escrever. Na educação, a busca por eficiência sem questionar propósito leva ao mesmo erro. O mundo se transforma, mas a formação profissional segue estagnada, ampliando o abismo entre o ensino e as exigências do mercado.
Enquanto a velocidade das transformações tecnológicas redefine as demandas do mercado, muitas instituições de ensino permanecem presas a um modelo ultrapassado.
O mercado quer advogados especializados em regulamentações de criptomoedas e contratos inteligentes; médicos que integram plataformas de telemedicina e algoritmos de diagnóstico por imagem à sua prática clínica; farmacêuticos especializados em biotecnologia de precisão e na análise de dados genômicos para terapias personalizadas; e professores que orquestram agentes de inteligência artificial (IA) para personalizar trilhas de aprendizagem com base em design de jogos.
Até mesmo na aquecida área da tecnologia, o jogo mudou. A revolução do low-code (pouco código) e da IA não representa ameaça à educação tecnológica, mas a oportunidade de ressignificar o ensino de tecnologia.
Enquanto o modelo SaaS (modelo de software baseado na nuvem) questiona sua própria sobrevivência, as plataformas no-code (sem código) e a IA transformam silenciosamente o mercado. Esse cenário não exige apenas cortes em currículos obsoletos, mas a inclusão de novas habilidades que, hoje, sequer são reconhecidas como essenciais. O verdadeiro dilema não é “o que cortar dos currículos”, mas “quais competências invisíveis hoje serão indispensáveis no futuro”.
Nesse novo contexto, o papel do profissional de tecnologia vai muito além de programar. Ele precisará orquestrar ecossistemas digitais. Com a ascensão do low-code, no-code e da inteligência artificial, a demanda por codificação tradicional está sendo substituída por habilidades estratégicas e integrativas.
Perante esse cenário, ter um curso de tecnologia no portfólio não significa mais formar programadores isolados, mas capacitar todas as áreas do conhecimento a operar dentro desse novo paradigma. Imagine um curso de direito onde alunos aprendem a automatizar contratos inteligentes com Clio, ou um curso de medicina que inclui módulos em RedCap para gestão ágil de dados clínicos. A tecnologia deixou de ser uma disciplina separada para se tornar o sistema nervoso central de todas as profissões.
Esse problema não é novo. Grandes empresas já enfrentaram essa mesma armadilha ao longo da história. Em 1985, Steve Jobs deu uma entrevista profética criticando empresas que, após um crescimento inicial, caíam na obsessão por replicar processos, como se houvesse uma “fórmula mágica” para repetir o sucesso. Elas institucionalizam métodos, engessam a criatividade e, no fim, burocratas substituem inovadores. Já viu esse filme em algum lugar?
Enquanto outras empresas engessaram a inovação com manuais de “melhores práticas”, a Apple fez o contrário: reinventou o impossível. Prova disso foi o iMac G3 de 1998, com seu design translúcido e cores vibrantes, que exigiu processos inéditos de injeção de plástico. A Apple não adaptou o produto às linhas de produção existentes, forçou a indústria a inventar novas técnicas.
O mesmo aconteceu com os MacBooks de gabinete esculpido em bloco único de alumínio, um processo tão complexo que a Apple precisou comprar fábricas inteiras de CNC para esculpir as peças sem emendas. Até o Apple Park, com seus vidros curvos de 14 metros de altura, exigiu que fornecedores reinventassem a fabricação de vidro temperado.
Infelizmente, grande parte das IES opera em um “egossistema” de gestão universitária que gira em torno de buscar eficiência operacional (muitas vezes sem sucesso) de produtos (cursos) que, em sua maioria, já deveriam ter sido reinventados ou descontinuados.
Pró-reitores, diretores e coordenadores acadêmicos deveriam se preocupar em desenhar frameworks inovadores e implementá-los com disciplina militar, embarcando tecnologia e processos para entregar uma proposta de valor irresistível para cada curso de seu portfólio.
A história já nos mostrou que não é a eficiência operacional que salva negócios obsoletos, mas a coragem de reinventar o produto certo para o tempo certo. Kodak, Blockbuster e BlackBerry não falharam por falta de eficiência, mas por ignorarem a mudança no valor de suas ofertas.
Muitas universidades seguem pelo mesmo caminho, aprimorando processos internos sem perceber que seu modelo de ensino está desalinhado com a realidade. O desafio não é apenas atualizar currículos ou digitalizar aulas, mas redefinir a essência da proposta de valor da educação superior. O ensino universitário precisa deixar de ser um “egossistema” fechado e se tornar um verdadeiro ecossistema de inovação e relevância.
O mercado acordou e já não espera mais pelas universidades.
A educação do futuro não será medida pela rigidez de suas grades curriculares (uma nomenclatura bem adequada – grade – contém ironia), mas pela capacidade de formar profissionais com competências que sequer estavam no radar há três anos.
O ensino superior que prosperará será aquele que entender que seu papel não é apenas transmitir conhecimento, mas criar experiências de aprendizagem que evoluem na velocidade do mundo real.
Por: Daniel Sperb | 20/03/2025