Revista Ensino Superior | O novo manual de sobrevivência universitária

Educação

Colunista

Daniel Sperb

Consultor em inovação e gestão universitária

O novo manual de sobrevivência universitária

Edtechs estão redesenhando as regras do jogo

Liderança Conheça os quatro pilares que separam protagonistas de espectadores, segundo Daniel Sperb (foto: Shutterstock)

Existem estilos de gestão que flertam com o colapso institucional, seja pela pressa sem direção, seja pela cautela que disfarça inércia. Enquanto algumas lideranças seguem patinando entre esses dois extremos, edtechs e uma pequena minoria de IES já estão moldando profissionais de altíssimo desempenho, forjados por modelos pedagógicos hiperpersonalizados. E quando o mercado começar a absorver esses talentos, o contraste ficará impossível de ignorar. 

Vai ser como colocar, lado a lado, um Del Rey tentando se manter na pista e um Tesla, autônomo, veloz e atualizado por software. E sejamos sinceros: se você for minimamente crítico, concordará que fui generoso citando o Del Rey e não um Fiat 147.

A revolução não está a caminho. Ela já chegou trazendo big data, personalização granular do ensino e estratégias de marketing que operam de forma autônoma.

Enquanto você lê estas palavras, edtechs estão redesenhando as regras do jogo. A questão não é se isso vai acontecer. É quando.

Nesse novo cenário, quatro pilares separam os protagonistas dos espectadores. Ignorá-los é uma aposta silenciosa na própria irrelevância.

 

1. Fatores de inovação: a revolução autônoma

Agentes autônomos de inteligência artificial (IA) não são ferramentas. São exércitos silenciosos capazes de revolucionar operações, escalar personalização e gerar diferenciação.

Eles reduzem custos drasticamente, ampliam a produtividade em múltiplas frentes e agregam valor institucional em níveis nunca antes vistos no setor.

Inovação estratégica não é cosmética, é compromisso com o futuro. Significa tomar decisões com base em dados, testar novos modelos de negócio e disruptar seus cursos antes da concorrência.

Quais metas concretas sua IES definiu para ampliar a adoção da IA em áreas acadêmicas e administrativas?

 

2. Fatores mercadológicos: ascensão da “martech”

O marketing universitário evoluiu em quatro fases, onde a primeira foi a negação, quando falar em marketing era pecado . A segunda foi a transição do analógico para o digital, onde métricas substituíram o “achismo”. Na terceira, a automação transformou intuição em dados. A quarta é a era das martechs, onde exércitos de agentes autônomos de IA estão se tornando o marketing.

Não há mais espaço para diretorias de marketing que costumam usar a sopa de letrinhas (CPC, CTR, CAC, LTV) como bengala para não falar de conversão ou para consultores que falam mais de IA do que implementam.

O mercado já troca CMOs tradicionais por CTMOs (Chief Technology & Marketing Officers), especialistas que fundem código, dados e psicologia do consumo para transformar intenção em matrícula em segundos.

Marketing sem tecnologia hoje não é apenas defasado, é irrelevante. Enquanto você lê este texto, os sistemas redesenham regras de captação e retenção. 

Se sua equipe ainda debate “tom de voz da marca” em vez de implementar algoritmos que convertam, está repetindo o erro de quem subestimou a internet ou o computador pessoal nos anos 90.

 

3. Fatores pedagógicos: a revolução da hiperpersonalização

Pela primeira vez na história da humanidade, a hiperpersonalização do ensino deixou de ser uma utopia. Ela já é possível, acessível, escalável e viável. O que falta? Um mínimo de visão dos gestores que ainda não entenderam o que têm em mãos com os agentes autônomos de IA.

Currículos genéricos, avaliações irrelevantes e trilhas padronizadas são o retrato da ineficiência acadêmica. A IA veio para demolir esse modelo e construir algo mais justo, eficaz e inteligente.

Com algoritmos bem treinados, é possível entregar jornadas de aprendizagem altamente personalizadas, adaptadas ao ritmo, perfil e objetivos de cada estudante. E tudo isso pode (e deve) ser acompanhado por dashboards de performance em tempo real, que antecipam problemas e medem aprendizagem com precisão.

 

4. Fatores administrativos: a emergência da autoridade consciente

Ter os melhores sistemas de ERP e dashboards de BI é como comprar um avião de última geração sem pilotos qualificados: inútil e caro. A IA automatiza processos, integra KPIs e gera insights, mas nenhum algoritmo corrige lideranças que confundem controle com gestão, medo com produtividade, ou reuniões infinitas com resultados.

Dois perfis lideram ao fracasso: os “controladores”, que asfixiam a inovação com microgerenciamento obsessivo, e os “conciliadores”, que trocam resultados por aceitação, transformando equipes em reféns da mediocridade.

A solução está em líderes que fundem visão estratégica a exigência ética: CEOs que atraem e retêm talentos com projetos reais, não com meros devaneios desconectados da realidade. 

Considerações finais

Quanto tempo você acha que uma edtech ou quem sabe até uma IES vai levar para expor o modelo pedagógico da sua instituição, usando algoritmos de personalização granular, predição e entrega individualizada de conteúdo?

Você já parou para pensar no tipo de profissional que será formado a partir desses modelos preditivos hiperpersonalizados? Quanto tempo até o mercado começar uma seleção natural de profissionais formados nesse modelo?

Quanto tempo até a concorrência colocar um outdoor na frente da sua IES, estampando seus índices de trabalhabilidade?

 

Por: Daniel Sperb | 02/04/2025


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