Revista Ensino Superior | IA: Professor GPT, o desafio da educação superior

Inovação

Colunista

Marina Feferbaum

Coordenadora do CEPI e da área de metodologia de ensino da FGV Direito SP

Professor GPT, o desafio da educação superior

A convivência, a troca de ideias e o desenvolvimento de soft skills continuam sendo dimensões humanas essenciais no processo educativo

IA Com o avanço das ferramentas de IA generativa, surge uma nova etapa: o professor como formador de cidadãos autônomos, reflexivos e capazes de lidar com a complexidade do mundo (foto: Shutterstock)

Uma pesquisa da Gartner de fevereiro de 2024 previa que o volume de buscas por buscadores (como o do Google) cairia 25% até 2026, em razão de alternativas de IA, como o SearchGPT. Um survey da Future PLC de dezembro de 2024 apurou que 27% dos americanos já usavam IA ao invés de buscadores. Na faixa dos Zillenials (nascidos entre 1993 e 1995), esse número subia para 29%. Esses dados coincidem com uma percepção crescente entre meus alunos de graduação. O mesmo movimento também já aparece nos mais jovens, desde a educação fundamental. 

 

E você com isso?

Usar um LLM significa mais do que realizar buscas de informação na Web. Não se trata de um simples substituto aos buscadores, mas de um conjunto de ferramentas que vai muito além. Logo, quem usa o LLM para buscas também o utilizará para outros propósitos, inclusive para auxiliar nos estudos. E não: não quero focar no clichê de utilizar a IA para fazer a tarefa de casa.

Em um caso recente que ilustra o potencial de ensino da IA, a filha de uma conhecida utilizou um LLM para estudar para uma prova do fundamental. Sem tempo para leituras, pediu um modelo de prova sobre o conteúdo do trimestre, com explicações de como o conteúdo poderia ser cobrado e um resumo. Estudou tudo rapidamente e obteve um tremendo sucesso. Em outra situação, o filho de um conhecido pediu que o LLM explicasse um conteúdo de história como se fosse uma fofoca — e “decorou” tudo em uma rápida leitura.

Esses exemplos mostram como as novas gerações estão aprendendo a explorar a informação de maneiras criativas e adaptadas às suas realidades. Em breve, esses estudantes chegarão ao ensino superior com hábitos de aprendizagem distintos, trazendo consigo um repertório de ferramentas digitais bastante avançado.

 

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Diante desse cenário, o papel do professor se renova: mais do que um transmissor de conteúdos — função que, de fato, nunca foi sua essência — o professor sempre teve como missão central valorizar o protagonismo do estudante, criando as condições para que ele desenvolva sua autonomia plena e aprenda a aprender. Em um ambiente cada vez mais saturado de informações, essa missão ganha ainda mais relevância. A IA pode oferecer dados e respostas, mas cabe ao professor guiar o estudante no desenvolvimento do pensamento crítico, da interpretação contextualizada e da aplicação ética do conhecimento.

Com a transformação digital, o papel do docente já havia evoluído de detentor do conhecimento para facilitador. Agora, com o avanço das ferramentas de IA generativa, surge uma nova etapa: o professor como formador de cidadãos autônomos, reflexivos e capazes de lidar com a complexidade do mundo. Mais do que mediar conteúdos, ele media processos de pensamento e construção de sentido.

Há, portanto, uma grande oportunidade em repensar as formas de ensinar e aprender com o apoio da IA. O valor das instituições e dos docentes estará na capacidade de integrar essas ferramentas de maneira estratégica, focando no desenvolvimento de competências transversais, na construção de repertórios interpretativos e na formação de cidadãos críticos e éticos.

 

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Além disso, cabe ao professor criar um ambiente de aprendizagem que estimule a curiosidade, o diálogo e o senso de pertencimento — elementos fundamentais que nenhuma tecnologia pode substituir.

A universidade seguirá tendo um papel relevante, não apenas como certificadora de saberes, mas como espaço de formação integral do indivíduo. A convivência, a troca de ideias e o desenvolvimento de soft skills continuam sendo dimensões humanas essenciais no processo educativo.

A corrida pela IA na educação está apenas no início e há muitas oportunidades de inovação pela frente. Preparar-se para esse futuro não significa competir com as máquinas, mas potencializar o que temos de mais valioso: nossa capacidade de ensinar a pensar, a refletir e a agir com responsabilidade.

Em um mundo de respostas automáticas, o professor será cada vez mais relevante como aquele que ensina a formular boas perguntas. 

 

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Por: Marina Feferbaum | 03/06/2025


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