NOTÍCIA
O maior diferencial estará na habilidade de criar soluções eficazes para problemas cada vez mais complexos
Publicado em 14/11/2025
Estudantes do Instituto Mauá de Tecnologia (foto: IMT/divulgação)
Este artigo produzido por Afonso Braga é apresentado pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)*
A engenharia brasileira está passando por uma das transformações mais significativas de sua história. O engenheiro do século 21 já não se limita a projetar estruturas ou otimizar processos industriais. Hoje, ele é um empreendedor de ideias e soluções: alguém que une conhecimento técnico, sensibilidade social e visão de mercado para criar negócios inovadores, sustentáveis e escaláveis — seja ao fundar uma nova empresa ou dentro de organizações já estabelecidas, no conceito de intraempreendedorismo.
Essa mudança não é casual. Ela acompanha o crescimento do empreendedorismo como força econômica no País. O estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2024) aponta que 33,4% da população adulta brasileira está envolvida em atividades empreendedoras — cerca de 47 milhões de pessoas, um recorde histórico. O Brasil ocupa a 6ª posição mundial em número de empreendedores consolidados e, apenas no primeiro trimestre de 2025, foram formalizadas 1,4 milhão de novas empresas, sendo 78% delas microempreendedores individuais (MEIs). Esses números revelam não apenas a vitalidade do ecossistema, mas também uma mudança cultural: empreender tornou-se uma resposta prática às transformações do mercado e às necessidades de adaptação diante de um cenário em constante evolução.
Historicamente ligada à inovação, a engenharia encontra agora um ambiente ainda mais favorável para a criação de negócios de impacto. Energias renováveis, inteligência artificial, biotecnologia e startups de base tecnológica são hoje os novos “canteiros de obra” do engenheiro contemporâneo. O Brasil, que gera quase 90% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis, se destaca como um terreno promissor para iniciativas que unem tecnologia e sustentabilidade — e engenheiros estão na linha de frente dessa transformação.
Ao mesmo tempo, a Indústria 4.0 avança de forma consistente. Dados recentes mostram que 86% das grandes empresas, 64% das médias e 42% das pequenas já utilizam tecnologias como machine learning, IoT e automação. Esse movimento abre espaço para que engenheiras e engenheiros assumam papéis estratégicos, liderando startups, spin-offs corporativas e projetos de inovação aberta. O Plano Nacional de Inteligência Artificial, que prevê investimentos até 2028, fortalece ainda mais esse ecossistema, preparando o terreno para o engenheiro empreendedor.
Nesse cenário, o ensino superior desempenha um papel central. Formar engenheiras e engenheiros para o futuro significa oferecer mais do que uma sólida base técnica — é necessário estimular o pensamento crítico, a capacidade criativa e o espírito empreendedor e inovador. Isso envolve metodologias ativas, projetos interdisciplinares, laboratórios de prototipagem, incubadoras e conexões diretas com empresas e startups.
Acreditamos que “aprender fazendo” é a melhor forma de preparar profissionais para um mercado em transformação. O engenheiro precisa dominar algoritmos, mas também compreender modelos de negócio, liderar equipes multidisciplinares e transformar tecnologia em valor econômico e social.
O engenheiro do futuro será, inevitavelmente, um empreendedor. Sua missão não será apenas resolver problemas, mas identificar oportunidades onde outros enxergam incertezas. Ele será o elo entre o conhecimento técnico e o propósito de inovar com impacto.
Em um mundo guiado por dados, sustentabilidade e criatividade, o maior diferencial não estará apenas na capacidade de calcular, mas na habilidade de criar soluções eficazes para problemas cada vez mais complexos.
Empreender, afinal, é o ato mais genuíno da engenharia: projetar o futuro — e construí-lo com as próprias mãos.
*Afonso Braga é professor do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), instituição que apoia o jornalismo independente da revista Ensino Superior. Conheça os benefícios de apoiar a publicação e saiba como fazer parte.