Competências socioemocionais são cada vez mais valorizadas pelas empresas, justamente por conta das relações mais intensas e do nível de competitividade do mercado
Discentes passaram a desenvolver habilidades de trabalho em equipe Foto: PexelsAs discussões sobre práticas de ensino e aprendizagem na atualidade quase sempre convergem a um ponto importante: como desenvolver soft skills – as habilidades sociais – em sala de aula para garantir que nossos estudantes se tornem profissionais mais completos e capazes de alcançar seus objetivos de trabalho e de vida. Os conhecimentos técnicos – comumente classificados como hard skills – já não são mais suficientes para assegurar uma boa caminhada fora dos ambientes escolares.
As empresas, sobretudo as referências internacionais, valorizam cada vez mais as competências socioemocionais, justamente por conta das relações mais intensas e do nível de competitividade do mercado. Mas quais são essas habilidades? Elas podem, de fato, ser desenvolvidas nas salas de aula, como integrantes dos currículos e da prática cotidiana?
Vamos começar a responder a essas perguntas pela caracterização das soft skills. O termo em inglês é o mais utilizado internacionalmente quando se fala nesta categoria de competências. Renomados estudiosos, concentrados nessas características, enumeram elementos importantes relacionados ao desenvolvimento da inteligência emocional. Entre eles estão a capacidade de controle de emoções, consciência crítica e ética, pensamento criativo, comunicação eficiente, atitude colaborativa, gerenciamento do tempo e capacidade de escuta.
Inúmeras soft skills e outras derivadas dessas características principais têm maior relevância de acordo com o contexto profissional no qual estão inseridas. Porém, todas podem ser trabalhadas na área da educação desde os níveis iniciais e aperfeiçoadas até a educação superior e demais ambientes de pós-graduação.
No entanto, professores e demais sujeitos atuantes na educação devem ser capacitados para assumir essa responsabilidade – em processo devidamente conectado às metas educacionais de uma determinada instituição de ensino. Deve ser objetivo promover a formação de estudantes criativos, proativos e empáticos, possibilitando também o aprimoramento de características inatas de cada indivíduo.
O ponto central está nas experiências que serão proporcionadas a partir dos processos de ensino e aprendizagem. Ecossistemas educacionais capazes de promover o desenvolvimento de soft skills, em grande parte, envolvem estratégias de interação, respeito à diversidade e autoconhecimento – indicativos para compreender a si e ao mundo no qual está inserido. Salas de aula, por natureza, são espaços que impulsionam o agir coletivo, em uma prévia do que será enfrentado nas relações sociais e de trabalho.
É nesse “laboratório da vida” que professores podem encaminhar a formação dos alunos aliando saberes técnicos às habilidades sociais. Por não terem acesso a uma educação neste contexto, muitos profissionais precisam se reinventar para enfrentar os desafios da atualidade, com destaque àqueles oriundos do avanço das novas tecnologias. Contudo, quando não detêm a inteligência emocional de base, são obrigados a correr contra o tempo. E nem sempre conseguem seguir no ritmo exigido.
Com certeza você já ouviu histórias sobre profissionais com currículos invejáveis, com alto desempenho de hard skills, mas que não conseguem avançar em suas áreas de atuação por conta de carências relacionadas a soft skills, desde situações mais simples, como dificuldades para relacionamento interpessoal ou para trabalho em equipe, ou mais complexas, como incapacidade para lidar com momentos de pressão comuns nos ambientes corporativos.
Por outro lado, a história recente nos mostra como pessoas inspiradoras conseguem resultados extraordinários quando utilizam soft skills adequadamente: quão focada e persistente foi a física e química polonesa Marie Curie para conduzir pesquisas pioneiras sobre radioatividade; quão resiliente foi o empreendedor americano Steve Jobs ao se deparar com dificuldades e trabalhar até alcançar resultados criativos e impactantes na Apple.
A boa notícia é que essas habilidades podem ser ensinadas, a exemplo do que fazemos nas disciplinas das ciências duras, como a matemática. E ainda temos o auxílio de recursos tecnológicos já atrelados aos processos educacionais para atender às demandas de estudantes nativos digitais. Um dos principais percursos de aprendizagem inclui o preparo para situações de trabalho específicas, concentradas em competências transversais que intensifiquem a interação eficiente entre características pessoais e ações práticas.
Afinal, o mundo contemporâneo é extremamente dinâmico. Tudo se transforma rapidamente, exigindo soluções imediatas. Sujeitos preparados para essa realidade devem ser abertos a adaptações e mudanças. Há décadas, o cenário desse tipo de aprendizado estava concentrado nas experiências vividas nas corporações, pós-escola. Agora, deve começar nas salas de aula.
Simone Bergamo é diretora-acadêmica do grupo Ser Educacional.
Por: Simone Bergamo | 11/10/2022