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Gestão

Conselho Federal de Medicina Veterinária coloca qualidade dos cursos de graduação em xeque

Ação Civil Pública movida pela autarquia visa o impedimento da abertura de novos cursos; Gestores repercutem a posição

Publicado em 23/03/2023

por Gustavo Lima

Atendimento animais no Unileão Atendimento animais no Unileão (Foto: divulgação/Unileão)

Em reação contrária ao volume de abertura de novos cursos de graduação em medicina veterinária por parte do MEC, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) ajuíza uma Ação Civil Pública (ACP) para impedir a abertura de novos cursos. Em nota publicada no site oficial do Conselho, a autarquia alega que os possíveis novos cursos, pertencentes a instituições de ensino privadas, não possuem condições mínimas de funcionamento. À Ensino Superior, reitores de IES que já ofertam os cursos de graduação avaliaram a posição do CFMV.

Jaime Romero Souza, mantenedor e reitor do Centro Universitário Unileão, de Juazeiro do Norte, no Ceará, conta que o curso de graduação em medicina veterinária é recente na instituição. Com mais de 100 alunos formados, o curso foi aberto há pouco mais de cinco anos. “Ele conta com uma das maiores e mais modernas estruturas do Brasil. Para montar esse curso, fui a vários pontos do Brasil, visitei hospitais veterinários, clínicas e fazendas”, relata o reitor que afirma ofertar “um conceito mais amplo de curso”.

 

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Para o mantenedor, deixar a livre iniciativa ou a iniciativa privada transformar a educação em negócio é o mesmo que decretar a queda de sua qualidade. “Educação não é só negócio, educação vem do compromisso com o sucesso do estudante. Isso significa estar atualizado com as necessidades de mercado, ter cursos inovadores e atrativos para o estudante”, explica.

Em sua avaliação, o estudante não é mais atraído pelo modelo tradicional de ensino e busca interatividade, além da aplicação prática dos conceitos adquiridos ao longo da formação.  “E para se conseguir isso, [na formação em medicina veterinária] você precisa ter uma estrutura muito bem montada para pequenos, médios e grandes animais. Ter animais em uma pequena fazenda, um centro cirúrgico e uma área de recuperação. Não se pode abrir mão de programas sociais, como os de castração em convênio com as cidades e de acolhimento dos animais selvagens que estão feridos ou que sofreram maus tratos”, pontua.

 

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Atendimento animais no Unileão

“Educação vem do compromisso com o sucesso do estudante”, afirma reitor (Foto: divulgação/Unileão)

Jaime enfatiza a necessidade de condições favoráveis para o atendimento da população nos hospitais veterinários. “Com isso você tem o aluno participando de muitas atividades práticas e de muita aplicabilidade dos conceitos. Assim se forma um médico veterinário de qualidade, não é colocando-o em sala de aula, onde ele recebe os conceitos práticos com aulas que, muitas vezes são oferecidas em EaD, para que depois aprenda a atuar no mercado”. O mantenedor da Unileão conta que na instituição os estudantes visitam fazendas, haras e criadouros, ajudam na produção de ração e plantam o capim do pasto. “Realmente é o sentido mais amplo de formação. Eu não conheço outra maneira de se fazer educação superior – com qualidade, é claro”, salienta.

Na UNIFEOB, a graduação de medicina veterinária é ofertada há mais de 35 anos na modalidade presencial. Segundo a vice-reitora, Danielle Rodrigues, em termos de resultados e atração de profissionais e estudantes do país, esse é o curso de maior expressão da IES localizada em São João da Boa Vista, São Paulo. “Esse é um dos nossos cursos com maior curva ascendente ao longo do tempo e com projeções muito prósperas de crescimento. Formar e habilitar médicas e médicos veterinários é uma responsabilidade enorme. O impacto é de alta criticidade e um erro pode custar a vida de um animal e isso é irreversível”, realça. Danielle conta que a IES atende uma grande demanda de casos voltados ao mercado pet. “Um pet é como um membro da família e na maioria das vezes, o membro mais importante. Nesse contexto, a garantia da qualidade não é negociável, nem diferencial, mas uma licença básica que nos permite operar”, acrescenta.

 

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A vice-reitora chama atenção para os números dos cursos de graduação de medicina veterinária ofertados no país e fala sobre a relação do MEC com o CFMV. “O Brasil tem mais cursos de graduação de Medicina Veterinária (536) do que a soma de todos esses cursos em outros países (320). O Agrovet é um setor pujante, faz parte da vocação do Brasil, mas a equação entre essa potência e fazer negócio por meio dela – o que envolve as oportunidades na educação superior – deve acontecer de maneira sustentável. Nosso desejo é o estreitamento, diálogo cada vez maior entre MEC e Conselhos de Medicina Veterinária para garantir esses aspectos”, destaca.

Raquel Torcani Carmona, advogada e gerente do departamento jurídico do Semesp, ressalta que, nos últimos anos, houve uma grande procura pelos cursos de medicina veterinária, assim como pelos demais cursos da área de saúde. A especialista explica que a documentação para a abertura de novos cursos passa pela avaliação da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (SERES) e, em sequência, é encaminhada para o Inep, que verifica se o que está sendo proposto é realmente apresentado no campus.

“Se a IES justificar [a abertura do curso] no Projeto Pedagógico do Curso (PPC), passar pela avaliação in loco, se for constatada a possibilidade de abertura, isso é permitido por lei”, garante.

A ACP se encontra em fase de análise no Ministério Público. Mais informações sobre o posicionamento do Conselho podem ser encontradas no site (acesse).

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Gustavo Lima


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