EAD está totalmente alinhado com uma tendência global de aprendizagem contínua
EAD está totalmente alinhado com uma tendência global de aprendizagem contínua (foto: Freepik)A recente abertura para consulta pública que prevê a possibilidade de alteração da Portaria Normativa nº 11/2017 – do Ministério da Educação, em dispositivos relativos à oferta de cursos de graduação do ensino a distância (EAD) tem gerado uma diversidade de reflexões e posicionamentos acerca desta modalidade. É fato que num contexto tecnocêntrico, o EAD conquista cada vez mais espaço como uma modalidade de inclusão e acessibilidade, democratizando o acesso à educação e abrindo novas avenidas para práticas pedagógicas inovadoras.
Como gestora atuante tanto em modelos presenciais quanto na modalidade EAD, acredito firmemente que o foco deve estar na qualidade, independentemente da modalidade e que limitar ou restringir a oferta desta, e de qualquer outra modalidade, é negar a oportunidade de democratizar o acesso à educação por representar uma ponte vital para superar as barreiras geográficas, financeiras e temporais que muitas vezes impedem os brasileiros de alcançarem seu potencial.
Além disso, o EAD está totalmente alinhado com uma tendência global de aprendizagem contínua, crucial para o desenvolvimento profissional em um mundo do trabalho exponencial.
Vale considerar que a qualidade na educação não deve ser medida apenas pelas metodologias tradicionais de entrega, mas pela eficácia com que ela capacita os estudantes a atingirem seus objetivos. Portanto, como defensora da qualidade educacional, inicio o meu artigo convidando ao reconhecimento do valor da tecnologia que transforma nossa maneira de aprender: Inicialmente, vamos aplaudir a tecnologia que nos permite aprender sem sair do sofá!’ Com esse entusiasmo, abordo a educação a distância não apenas como uma alternativa ao modelo tradicional, mas como uma evolução necessária no cenário educacional contemporâneo.
A educação superior deve fazer mais do que simplesmente adaptar-se, mas influenciar e liderar estas transformações. Isso implica em preparar os estudantes para competências futuras, distintas daquelas enfatizadas no passado, refletindo as mudanças contínuas no mercado e na sociedade.
A meu ver, o principal desafio do ensino a distância é sustentar e melhorar a qualidade enquanto se expande. Isso implica em aderir rigorosamente às diretrizes curriculares, à Lei de Diretrizes e Bases da Educação e às normativas pertinentes, assegurando uma base sólida para aprendizagem de qualidade, mas também outros aspectos que vão além do atendimento da legislação vigente.
Para alcançar e manter a qualidade, selecionei três desafios que considero cruciais. Ao superá-los, transformaremos obstáculos em oportunidades valiosas que impulsionam e elevam a qualidade desta modalidade tão inclusiva.
Enfrentamos um desafio crucial na expansão da educação a distância com qualidade: a crescente necessidade de capturar e manter a atenção dos estudantes, sobretudo em turmas com alto número de estudantes.
Com baixa captura atencional, o aprendizado é superficial, com desempenho aquém do potencial e, não raro, desinteresse. À medida que os recursos digitais se tornam mais prevalentes, garantir a atenção plena dos estudantes se torna um obstáculo significativo para o sucesso educacional.
Vale destacar que o desafio de captar e manter o engajamento dos estudantes durante o processo de aprendizagem vai além de simplesmente atrair sua atenção inicial. O segredo para manter esse envolvimento contínuo reside em uma abordagem pedagógica inovadora, que combina uma narrativa cativante com a dinâmica e a familiaridade de um “feed do Facebook”, um conceito que podemos chamar de “facebookização do conhecimento”. Esta alternativa transforma a convencional maratona de estudos em uma série de sprints curtos e estimulantes, mantendo-os constantemente motivados e envolvidos. Essa estratégia é uma oportunidade de organizar o conteúdo em forma de jornada e não em um monólogo ofertado.
Nesse cenário, emergem a intensificação de microlearning e o vídeo-based learning integrados ao conhecimento científico basilar escrito. Essas alternativas transformam os conteúdos complexos e extensos em segmentos menores, mais gerenciáveis e visualmente estimulantes. É como se cada conceito mais denso fosse dividido em pequenos snacks do conhecimento, prontos para serem consumidos sem o risco de uma overdose de informação.
A obsolescência rápida do conhecimento formativo exige uma resposta imediata e estratégica para manter a relevância acadêmica e profissional. Diante de exemplos de pesquisas como a projeção apresentada pelo LinkedIn, no qual afirma que nascerão 150 milhões de novos empregos tecnológicos nos próximos cinco anos, e ainda, conforme World Economic Fórum (2022), apontando que 50% dos funcionários precisarão de requalificação até 2025, torna-se imperativo integrar habilidades como pensamento crítico e criatividade nos currículos. Essas competências são vitais para prosperar no mundo do trabalho em constante evolução.
A educação híbrida, que integra atividades presenciais com atividades on-line (sejam síncronas ou assíncronas), emerge como uma alternativa inovadora, permitindo a personalização do processo de aprendizagem. Laboratórios práticos e experimentações reais, simuladores virtuais, visitas técnicas, entre outras oportunidades, oferecem experiências valiosas, enquanto o modelo híbrido permite que os estudantes ajustem sua educação às próprias necessidades, equilibrando interações diretas com a flexibilidade do acesso on-line. O objetivo é criar um aprendizado cativante e significativo, onde cada interação contribui profundamente para a formação educacional do estudante.
Inserir os estudantes em ambientes profissionais também é uma alternativa que considero altamente eficaz. Esta abordagem cria oportunidades de ofertar experiências práticas diretas em suas áreas de estudo, capacitando-os de maneira mais concreta para enfrentar os desafios do campo profissional. Ao vivenciar o mundo profissional em situações reais, os estudantes adquirem uma compreensão mais profunda e aplicável do que aprenderam em sala de aula, preparando-os para uma transição suave e bem-sucedida para suas carreiras futuras.
IES devem priorizar a flexibilidade, a inovação e a aprendizagem contínua, continuando a ser motores de desenvolvimento pessoal e profissional em um mundo que exige a flexibilidade e a apropriação de competências multidisciplinares.
De meros transmissores de conhecimento, a facilitadores de um aprendizado interativo e autônomo, adaptando-se ao acesso expandido dos estudantes à informação, o papel dos professores está se transformando significativamente.
Essa transição demanda uma capacitação contínua, abrangendo novas metodologias de aprendizagem e a integração de recursos tecnológicos emergentes, como por exemplo, inteligência artificial (IA) e o blockchain. Estas tecnologias não apenas intensificam o engajamento, mas também permitem a personalização do aprendizado e reforçam a segurança e validade das credenciais educacionais.
Especificamente, a IA está redefinindo o modelo de aprendizagem, através de modelos de linguagem avançados, contribuindo para a eficiência e customização da educação. O mercado de IA na educação está projetado para um crescimento expressivo, refletindo seu impacto transformador. Paralelamente, a tecnologia blockchain oferece soluções seguras para a gestão de credenciais acadêmicas e comprovação de competências desenvolvidas.
Investir na capacitação para aplicação de estratégias pedagógicas, aumento do domínio tecnológico e repertório atualizado dos professores é uma estratégia chave para manter a evolução e a relevância do ensino superior de qualidade. Professores bem-preparados e atualizados são essenciais para inspirar e guiar os estudantes.
À medida que avançamos na transformação da educação a distância, os desafios apontados como a “Captura Atencional e a disposição do Conhecimento” o “Combate a Obsolescência de Conhecimentos” e a necessidade de “Investir na Formação de Professores como uma estratégia valorosa” são alguns aspectos que considero fundamentais para fomentar a sustentação da qualidade no EAD.
Destaco que os elementos trazidos, representam apenas alguns dos diferentes desafios inerentes à educação superior e, felizmente, temos a evidência de diversas IES de EAD brasileiras com resultados relevantes justamente por assumirem um compromisso em prol do EAD de qualidade mas, sobretudo, um profundo respeito com as necessidades formativas dos estudantes.
Cada desafio superado e cada oportunidade aproveitada nos conduz a um passo de uma IES que não apenas educa, mas também inspira e capacita os estudantes para os desafios do futuro. Portanto, ao concentrarmos nossos esforços nessas estratégias promotoras, contribuímos significativamente para o fomento de uma educação a distância de alta qualidade, resiliente e flexível às exigências de um mundo cada vez mais digital e interconectado. Vamos em frente.
Por: Thuinie Daros | 28/11/2023