Inovação

Colunista

Marina Feferbaum

Coordenadora do CEPI e da área de metodologia de ensino da FGV Direito SP

Por que temos de ressignificar a universidade

Mundo está vivendo esse esvaziamento das universidades e o Brasil também

Ressignificar a universidade

Têm sido cada vez mais frequentes relatos de docentes se queixando da baixa frequência dos estudantes aos cursos presenciais após a pandemia de Covid-19. E dos discentes que comparecem, há uma percepção de grande desengajamento também. O fato é que está havendo um esvaziamento da sala de aula e das universidades. Colegas de outras instituições, inclusive públicas, relatam dificuldade em preencher vagas de cursos outrora concorridos.

A experiência que uma docente dos Estados Unidos1 compartilhou há poucos meses é apenas um dentre tantos outros artigos na mesma toada. O baixo interesse não apenas nas aulas e discussões, mas em tarefas intelectuais, como leituras e preparação para os encontros, que talvez, para os estudantes, aparentem ser pouco úteis para a vida prática, reflete um afastamento das experiências coletivas, tão importantes na formação de nível superior.

Sim, definitivamente, a sala de aula no período pós-pandemia tem seguido rumos preocupantes. O mundo está vivendo esse esvaziamento das universidades e o Brasil também. O Mapa do Ensino Superior no Brasil 2023,2 estudo elaborado pelo Instituto Semesp, aponta para esse caminho. Segundo a pesquisa, em 2021, o país ainda vivia os impactos do segundo ano de pandemia e houve uma diminuição no número de matrículas em cursos presenciais, de 5,5% de decréscimo, mantendo a dos últimos anos. Se em 2015 havia 6.639.794 estudantes matriculados em cursos presenciais, em 2021 eram 5.270.750.

 

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No dia a dia da docência, nota-se que mesmo os estudantes que frequentam os cursos não querem mais estar em sala de aula. Muitos não leem nem se preparam para o momento desse encontro, além das recorrentes ausências. Essa tendência de esvaziamento das universidades é algo a se refletir. Ainda faz mesmo sentido buscar uma formação no ensino superior? O baixo investimento em pesquisa no país tem sido compreendido como uma atividade não estratégica na escolha profissional? E o exercício da docência universitária, que sentido tem nesse contexto? Enfim, conhecer as razões desse fenômeno é urgente.

Precisamos compreender, discutir e repensar o papel da universidade neste momento pós-pandemia. Tais reflexões e ações, porém, só conseguiremos realizar se as construirmos coletivamente, compartilhando e ressignificando o papel da universidade e o nosso papel na sociedade.

Por outro lado, o aumento nas matrículas de cursos EAD mostra que as pessoas ainda veem na universidade um caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional. De 2015 a 2021, o crescimento do número de estudantes na modalidade a distância foi de 167%. Elas estão, por diversas razões, investindo no estudo. Talvez por questões de acesso em regiões que não dispõem ou com poucas opções de universidades, ou ainda por razões socioeconômicas.

 

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Uma boa parte da população brasileira vê, portanto, sentido no ensino superior e quer estudar. Investir em financiamento estudantil e viabilizar o acesso à universidade de qualidade e a permanência nela é fundamental, seja na modalidade a distância, seja na presencial.

Diante de todos esses sintomas, a universidade precisa urgentemente ser ressignificada, o que implica também, por parte de docentes e gestores, promover e ocupar espaços de qualificação do debate coletivo. Que consigamos nos engajar enquanto classe docente e fazer deste momento uma oportunidade para revisitar inclusive os pilares da nossa própria profissão.

 

 

1Disponível em: https://www.theedgemedia.org/newlong-covid-college-without-classes/ 2Disponível em: https://www.semesp.org.br/mapa/

Por: Marina Feferbaum | 11/12/2023


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